A Aliança MENA para os Direitos Digitais se solidariza com cerca de 50 funcionários do Google que foram demitidos após participarem de protestos organizados pelo grupo No Tech for Apartheid nos escritórios do Google em Nova York e na Califórnia. As manifestações ocorreram contrárias ao Projeto Nimbus, um contrato de 1,2 bilhões de dólares, cerca de 6,5 bilhões de reais, com o governo israelita que fornece serviços de computação em nuvem da Google e da Amazon. A Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD Brasil) também demonstra apoio e se solidariza com os funcionários demitidos e acometidos por assédio. Em 2021, cerca de 300 trabalhadores da Amazon e outros 90 do Google publicaram carta no jornal britânico The Guardian em que criticam a decisão de seus patrões de venderem tecnologia militar para Israel.
A natureza dos serviços oferecidos pelo Projeto Nimbus não foi divulgada, mas os protestos ainda se colocaram contrários por questão de princípios: os manifestantes, agora demitidos, são posicionado do lado oposto ao contrato pelo conflito armado que Israel vem promovendo na Faixa de Gaza – uma situação que empregou vasto aparato tecnológico, bem como desinformação e fake news.
De acordo com carta publicada pela Aliança MENA para os Direitos Digitais, ao lado das organizações da sociedade civil, os detalhes sobre o Projecto Nimbus são vistos como obscuros e os relatórios sobre o contrato e a tecnologia fornecidos sugerem fortemente que está a ser utilizado pelos militares israelitas, cujas ações estão atualmente a ser analisadas pelo Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) pelo crime de genocídio. Documentos tornados públicos recentemente também revelam que a Nimbus está profundamente enraizada no aparelho da indústria militar israelita. A Nimbus é o fornecedor obrigatório para fabricantes de armas e diversas agências militares, concedendo até mesmo uma vitrine digital para o governo israelense fazer compras de armas. Apesar de anos de protestos internos e tentativas de diálogo, o Google tem falhado consistentemente em abordar ou reconhecer estas preocupações em matéria de direitos humanos. Em vez disso, a empresa forneceu os seus serviços de computação em nuvem ao Ministério da Defesa israelita e foi mais longe na negociação do “ aprofundamento da sua parceria ” durante a guerra em Gaza.
A carta assinala que “Condenamos as medidas extremamente retaliatórias do Google contra os seus trabalhadores que exercem o seu direito à liberdade de expressão e saudamos o seu compromisso com a humanidade ao rejeitarem trabalhar numa tecnologia mortal como o Projecto Nimbus. Lembramos também ao Google as suas obrigações internacionais de defender os direitos humanos e a sua potencial responsabilidade na contribuição para os crimes de genocídio. Conforme mencionado, os serviços prestados no âmbito deste contrato podem ter sido utilizados em ações militares atualmente sob análise da CIJ pelo crime de genocídio. A proibição do genocídio constitui uma norma jus cogens, um princípio fundamental do direito internacional consuetudinário do qual nenhuma entidade, incluindo empresas, está isenta e não pode derrogar”. Acesse a carta na íntegra aqui.
Quanto às demissões, o Google emitiu o seguinte comunicado: “Impedir fisicamente o trabalho de outros funcionários e impedi-los de acessar nossas instalações é uma clara violação de nossas políticas e um comportamento completamente inaceitável”.
*Créditos da imagem da capa: Tayfun Coskun—Anadolu/TIME