Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.
É equivocada a comparação do tempo de imunidade adquirida após a infecção pelo coronavírus em relação a sarampo e febre amarela, por exemplo
Defensor de medicamentos sem eficácia comprovada para o chamado “tratamento precoce” da COVID-19, o infectologista Francisco Cardoso tem questionado nas redes sociais a recomendação da vacina contra a doença para quem já foi infectado. O argumento do médico é que para outras doenças, como sarampo, febre amarela e hepatite, não há necessidade de vacinação após a infecção, o que também se aplicaria à COVID-19.
Cardoso ainda coloca em dúvida a eficácia da vacina contra a COVID-19, ao dizer que nunca viu pacientes vacinados contra sarampo, febre amarela, poliomielite, caxumba e difteria serem infectados pelas respectivas doenças menos de um ano após a vacina. Por outro lado, diz ter observado, em apenas um mês, mais de 150 casos de pacientes infectados pela COVID-19, mesmo depois de vacinados.
A infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que Cardoso está equivocado. Ela explica que, de fato, doenças como sarampo, hepatites A e B e febre amarela geram imunidade e proteção duradoura. Mas isso não se aplica a outras infecções, a exemplo da meningite meningocócica e do tétano, nem à COVID-19. “A COVID gera uma proteção que dura pouco tempo, por isso a pessoa precisa ser vacinada, mesmo que já tenha tido a doença”, recomenda.
A médica Ana Karolina Barreto Marinho, do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia da (Asbai), reforça que não é possível comparar vírus e bactérias causadores de doenças quanto à duração da imunidade adquirida após a infecção. “Cada agente infeccioso vai desencadear uma diferente resposta imunológica. Além disso, esta resposta será diferente no sentido da duração da famosa memória imunológica”, afirma.
A médica da Asbai lembra que o coronavírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19, é um vírus novo, que ainda está sendo estudado. “Temos vários estudos publicados mostrando que a resposta imunológica para o SARS-CoV-2 parece diminuir depois de alguns meses, tanto para pessoas que tiveram a doença quanto para pessoas vacinadas. Ainda não sabemos por quanto tempo estaremos protegidos pelos anticorpos produzidos em decorrência da doença, nem pelas células de memória”, relata. Assim, a vacina serve como uma proteção de reforço, mesmo para pessoas que já tiveram a infecção natural.
A infectologista Raquel Stucchi endossa a importância da vacinação. Ela lembra que a vacina contra a COVID-19 não impede em alguns casos que a pessoa tenha a doença, mas em geral diminui o risco de que ela desenvolva um quadro grave.
Marinho, da Asbai, também esclarece que as vacinas têm eficácias diferentes e que nenhuma delas é 100% eficaz. “As vacinas contra a COVID já mostraram muito bem a redução das hospitalizações, da mortalidade e da gravidade dos casos”, destaca.