Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.
Não há risco em ‘superestimulação’ do sistema imunológico, como sugerem informações alarmistas disseminadas pelas redes sociais
Em um vídeo identificado pelo aplicativo parceiro Eu fiscalizo, que viralizou no WhatsApp, uma médica que atua no Sul da Bahia desencoraja pessoas já infectadas pela COVID-19 de tomarem a segunda dose da vacina contra a doença. Ela argumenta que completar a vacinação, nesses casos, poderia “superestimular o sistema imunológico” de pacientes já recuperados.
Conversamos sobre o assunto com a imunologista Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro dos comitês científico e clínico da Sociedade Brasileira de Imunologia. “Podemos dizer, sim, é uma ‘superestimulação’. Mas isso é bom”, pondera. Ela afirma que a imunidade adquirida pela pessoa vacinada é melhor, comparada à de quem já teve a doença. “As duas doses da vacina são imbatíveis como geração de imunidade, quantitativamente e qualitativamente”, garante.
Bonorino explica que a resposta do organismo provocada pela própria infecção não se equipara à estimulada pela vacina porque, enquanto o vírus tenta escapar do sistema imunológico, a vacina é desenvolvida de modo a evitar os mecanismos de escape. “A resposta ao vírus é mais irregular, digamos assim, é mais variada, e o que a vacina faz é focar a resposta naquilo que é importante”, resume.
A qualidade da resposta imunológica é medida não só pela quantidade dos anticorpos, que atuam na defesa do organismo, mas pelo tipo desses anticorpos, por exemplo, aqueles classificados como neutralizantes. A defesa do organismo contra o vírus envolve, ainda, as chamadas células T. “É como se houvesse uma grande população de células, então, a vacina vai até lá e pega as melhores”, ilustra. A duração dessa resposta é outro fator importante a ser considerado. “Os convalescentes [recuperados] têm uma boa resposta, mas ela não dura muito”, observa.
Bonorino assegura que não há evidência alguma de que ter contraído a COVID-19 e se vacinar com as duas doses cause problemas. Para efeito de comparação, ela cita como exemplos a catapora e a rubéola. É comum que as pessoas tenham tido tais doenças na infância, ou não se lembrem de terem sido vacinadas, o que não impede que elas sejam imunizadas novamente. “Não existe isso na história das vacinas”, lembra.