Quais os riscos de uma sociedade que evita notícias?

Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Mariana Mandelli. Para acessar, clique aqui.

*Mariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

Cada vez mais os brasileiros e brasileiras têm evitado consumir notícias. A taxa da nossa população que “desvia” do noticiário subiu de 41% para 47% nos últimos dois anos, de acordo com o Digital News Report, um relatório produzido anualmente pelo Instituto Reuters e que conta com a participação de 47 países.

O Brasil não é exceção: esse é um fenômeno mundial. A média geral do índice também registrou crescimento nos últimos anos: de 29% para 39% entre 2017 e 2024. Os motivos para os entrevistados e entrevistadas ignorarem o conteúdo jornalístico são, de acordo com o estudo, recorrentes: as notícias seriam “chatas”, “repetitivas” e “negativas”, o que provocaria na audiência as sensações de impotência e ansiedade.

Este também não é um movimento novo: há anos pesquisadores vêm alertando para essa tendência. Benjamin Toff, professor da Universidade de Minnesota, Estados Unidos, é um deles. Seu mais recente livro, Avoiding the News (Evitando as Notícias, em tradução livre), publicado no final de 2023 com Ruth Palmer e Rasmus Kleis Nielsen, é baseado em dados e em cerca de cem entrevistas com residentes nos Estados Unidos, Reino Unido e Espanha que afirmam não consumir conteúdo jornalístico

De forma bem geral, os três autores afirmam na obra que os grupos mais propensos a ignorar notícias são os mais jovens, as mulheres e as classes mais vulneráveis. Eles propõem cinco ideias básicas para as empresas jornalísticas reverterem esse cenário: ouvir as audiências e pensar em formas mais acessíveis e inteligíveis de construir as informações; considerar a diversidade de identidades e o senso de comunidade e pertencimento de diferentes grupos sociais; criar novas formas de divulgar e entregar o conteúdo para públicos distintos; investir em literacia midiática para comunicar o valor do jornalismo e, por fim, formar uma espécie de coalizão entre os veículos com o objetivo de reforçar os preceitos editoriais e profissionais da imprensa. 

Pensando na sustentabilidade do jornalismo a médio e (principalmente) longo prazo, o quarto item é fundamental, e deve envolver não somente as empresas de comunicação, mas o poder público e os sistemas de ensino. É preciso forjar novas audiências, mostrando à população jovem a importância de se consumir notícias. 

E, para isso, é necessário que crianças e adolescentes desenvolvam habilidades midiáticas e informacionais, para que sejam cidadãos e cidadãs capazes de identificar fontes, discernir entre gêneros jornalísticos, diferenciar linhas editoriais e compreender o que é informação e o que é entretenimento — e de que formas essas fronteiras parecem cada vez mais borradas. Em suma, para que entendam o que estão consumindo e a importância e o impacto que essas informações podem ter em suas vidas individuais e coletivas. 

O gosto e o interesse pelo jornalismo podem — e devem — nascer na escola. O hábito de valorizar notícias precisa ser fomentado nas novas gerações, já que uma sociedade informada é uma peça importante no quebra-cabeça da democracia. Educar para que saibam o que consumir e o que evitar é uma tarefa coletiva imprescindível. 

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