Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Bruno do Carmo. Para acessar, clique aqui.
Recebemos através do aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (Disponível para Android e IOS), um post do Instagram da página do cantor Netinho, que afirma que os vencedores do Prêmio Nobel Luc Ontagnierm, Satoshi Omura e Michael Levitt descredibilizavam as medidas e cuidados preventivos contra a Covid-19. As informações são falsas, mas alguns fatos devem ser esclarecidos para o completo entendimento.
“Pessoas vacinadas contra a Covid-19 vão morrer em dois anos”
Circula pelas redes sociais que o virologista francês Luc Montagnier, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina de 2008, teria dito que todas as pessoas vacinadas contra a COVID-19 morrerão em dois anos. O virologista nobel em medicina concedeu, em 19 de maio, uma entrevista, mas não disse que as pessoas vacinadas contra a Covid-19 morreriam em dois anos. Porém, afirmou que a vacinação pode gerar o surgimento de novas variantes o que não procede. As vacinas não são responsáveis pela formação de novas cepas do SARS-CoV-2.
Em entrevista ao G1, o virologista Rômulo Neris, doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que o coronavírus se transmite pelo ar e por isso tem-se transmissão ativa do vírus quando pessoas infectadas compartilham ambientes com outras pessoas. “É como outras doenças respiratórias também são transmitidas. Como em todo organismo, mutações acontecem e são passadas adiante conforme o vírus, conforme o organismo se multiplica. Então, quanto mais vírus se multiplicarem, maior a chance do surgimento de novas variantes. Por isso, o que leva ao surgimento das variantes que a gente tem visto são medidas não coordenadas, descontroladas, de reabertura, de circulação da população, que é o que se tem evidenciado.”
Outros pesquisadores sobre o assunto se pronunciaram quanto as afirmações de Luc, como foi o caso da imunologista e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Cristina Bonorino. Segundo ela, as afirmações do médico não procedem e explica que a vacinação em massa é, na verdade, essencial para reduzir as chances de variantes potencialmente mais perigosas surgirem. Segundo ela, quanto maior a circulação do vírus na sociedade, mais chances de uma nova linhagem emergir.
Cristina ressalta ainda que as vacinas de Covid-19 disponíveis até o momento foram desenvolvidas para prevenir o agravamento da doença e não para impedir a transmissão do vírus. Mesmo assim, esses imunizantes já desempenham um papel importante ao reduzir a capacidade do vírus de se multiplicar na pessoa infectada.
Estudo de vencedor do Nobel prova eficácia da ivermectina contra a covid?
O estudo “Global trends in clinical studies of ivermectin in Covid-19” (Tendências globais em estudos clínicos de ivermectina para Covid-19), tem entre os autores Satoshi Omura, vencedor do Prêmio Nobel de medicina em 2015. O estudo defende o uso da Ivermectina, medicamento presente no “Kit Covid-19” citado nos discursos para tratamento precoce.
O estudo tem falhas, como usar dados postados na plataforma ivmmeta.com, um site informal sem nenhum valor de publicação científica, como mostra essa checagem feita pelo Estadão Verifica..
Nobel em medicina desaconselha lockdown?
O bioquímico e biofísico britânico Michael Levitt afirmou ao jornal The Telegraph, no sábado (23), que o lockdown imposto no Reino Unido pode não ter salvado vidas e até ter custado mais do que outras medidas. Segundo o bioquímico, em vez de adotar o lockdown, o governo deveria ter incentivado os britânicos a usar máscaras e aderir a outras formas de distanciamento social.
“Acho que pode ter custado muitas vidas. Ele salvou algumas pessoas de acidentes de viação, coisas assim, mas os danos sociais, como abuso doméstico, divórcios, alcoolismo, foram extremos. E você ainda tem aqueles que não foram tratados por outras doenças”, analisou. Levitt não desaconselha o lockdown, mas ver como “um grande erro” em alguns contextos. O químico defende uma política de “lockdown inteligente”, focada em medidas mais efetivas, focadas na proteção de idosos e vulneráveis.
Com informações do Uol, em junho de 2020, dois artigos publicados na revista Nature já apresentavam estimativas dos efeitos iniciais das medidas restritivas. Um deles (Hsiang et al), tratando das medidas de redução de contágio adotadas em 1,7 mil diferentes localidades da Ásia, Europa e EUA, até então, sugeria que mais de 140 milhões de infecções haviam sido “evitadas ou adiadas” graças às restrições. Outro (Flaxman et al), sobre 11 nações europeias, calcula que 3 milhões de vidas haviam sido salvas pelas restrições, até 4 de maio.
Neste ano, durante o ápice da pandemia no Brasil, cientistas, pesquisadores e economistas divulgaram uma carta aberta defendendo a adoção de lockdown no país. Entre um dos pontos positivos elencados, estava a possibilidade de salvar vidas. Confira a informação completa do G1.