Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Edison Mineiro. Para acessar, clique aqui.
Circula nas redes sociais o vídeo de um suposto grupo de médicos que criticam o uso de vacinas contra a Covid-19 e visualizam com preocupação as pessoas imunizadas. Entre os argumentos levantados são que a proteína sintética spike da vacina contra Covid-19 provoca trombose e que as pessoas imunizadas devem fazer o exame Dímero-D uma vez por semana para prevenir riscos.
As informações apresentadas são falsas. De acordo com o serviço Fato ou Fake do G1, o professor da disciplina de Hematologia da Unicamp, membro do comitê de hemostase e trombose da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e membro fundador da Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia, o médico Erich Vinícius de Paula deixa claro que as alegações são falsas. “As afirmações desse vídeo são absolutamente infundadas, praticamente nada do que foi dito ali possui substrato médico. Nenhuma evidência. Chega a ser estarrecedor ver uma pessoa falando isso”, afirma.
“Em primeiro lugar, não existe nenhuma associação, em nenhum país do mundo, entre vacinação e trombose, exceto – isso é importante ser colocado – casos muito específicos de trombose, associados a plaquitopenia após a vacina da AstraZeneca ou da Janssen que são fenômenos que acontecem em 1 a cada 100 mil vacinados e não é o que essa pessoa está falando. São tromboses graves. Isso está muito bem descrito e só acontece nessas vacinas que não são liberadas para crianças. Então o que está sendo alegado ali, a ocorrência de microtromboses após a vacinação, isso não existe”, explica o médico ao G1.
De Paula também desmente que a proteína spike esteja relacionada a fenômenos trombóticos. “O segundo aspecto é que falado da proteína spike. A proteína spike é importante para entrada do vírus na célula e ela é expressa na vacina. Houve um momento em que se imaginou que ela pudesse estar relacionada aos fenômenos trombóticos tanto da vacina da AstraZeneca e da Janssen quanto da Covid, mas isso já foi descartado”, conta o profissional.
Já sobre o exame Dímero-D, isoladamente, não pode afirmar que um paciente esteja com um quadro de trombose ou embolia pulmonar, diz o professor Aguinaldo Freitas Júnior ao Projeto Comprova. Pacientes em pós-cirurgia, idosos e gestantes podem apresentar aumento de dímero-D na corrente sanguínea. “Um dímero-D normal afasta o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar. Um dímero-D aumentado não confirma o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar, porque o resultado pode vir aumentado em várias situações.”
O médico ainda fala que não há comprovação científica alguma de relação entre imunizantes contra a Covid-19 e alteração neste tipo de exame. “E mesmo que a vacina provocasse o aumento isolado do dímero-D, isso não quer dizer que esse paciente está com risco maior de tromboembolismo pulmonar.” O médico ressalta também que não há motivo para recorrer a este exame após tomar o imunizante porque alterações no resultado não podem ser analisadas isoladamente e podem ocorrer por diversos motivos.
Por último, vale lembrar a recomendação da Organização Mundial da Saúde – OMS em relação as vacinas e que os benefícios superam quaisquer riscos que são mínimos.