Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Preço do diesel no mercado internacional tem influência no preço do etanol no Brasil
- Repasses do mercado internacional de derivados de petróleo faz preço do combustível subir como foguete e descer como pluma
- Pesquisa é a primeira a considerar o impacto de múltiplas variáveis ??sobre os preços domésticos de combustíveis no Brasil
A queda do preço do petróleo no exterior demora para refletir nos preços dos combustíveis no Brasil em comparação com a alta dos preços. Esta é a conclusão de estudo publicado na revista internacional de finanças “Journal of Commodity Markets”.
A pesquisa é a primeira a considerar o impacto de múltiplas variáveis ??sobre os preços domésticos de combustíveis no Brasil. A análise se focou na dinâmica de preços dos combustíveis no Brasil com base nos preços de fechamento entre os anos de 2015 e 2020, com uso de uma metodologia estatística.
O relatório aponta, por exemplo, que o repasse de valor que os brasileiros pagam é bem maior quando os preços internacionais sobem, do que quando descem ou se perde valor, o que deixa a conta sempre mais pesada no país. Os preços dos combustíveis, principalmente etanol e gasolina, constituem um importante motor da economia do país. A gasolina influencia diretamente nos custos dos transportes, já quando se fala em etanol, o Brasil é líder mundial na produção e exportação líquida e detém a maior frota mundial de carros movidos a este combustível.
“Entender a natureza e a extensão dos mecanismos de transmissão dos preços internacionais de energia e commodities para os preços brasileiros de combustíveis é crucial para a formulação de políticas efetivas e estratégias de gerenciamento de risco”, comenta o pesquisador Rafael Palazzi, que liderou o estudo. “Além disso, a falta de mecanismos eficientes de compartilhamento de risco durante períodos de considerável volatilidade de preços pode distorcer a alocação de insumos, restringir o investimento agrícola e desacelerar o crescimento da produtividade”, ressalta.
O trabalho evidencia também um efeito assimétrico dos preços da gasolina no mercado futuro norte-americano (RBOB) sobre os preços da gasolina no Brasil, tanto no curto quanto no longo prazo. O preço internacional do combustível tem um efeito maior de repasse, do que quando sobe do que quando o preço cai. O estudo também revela que os aumentos nos preços futuros do óleo diesel (HO) levam a quedas no preço do etanol no longo prazo, e isso mostrou a conversão de longo prazo de combustíveis fósseis para etanol. Também foi detectado que preços do etanol se mostraram mais influenciados pelos preços do petróleo do que pelo açúcar, ou seja, os preços do açúcar tiveram impacto não significativo nos preços do etanol no longo prazo.
Os autores mostram também que, no curto prazo, as mudanças nos preços globais podem afetar a dinâmica dos preços da gasolina no Brasil. Além disso, os preços domésticos reagem aos movimentos dos preços internacionais. Eles apontam que a Petrobras poderia aproveitar os contratos futuros da RBOB como dispositivos de proteção para os preços da gasolina e, desta forma, melhorar o desenho de sua política de preços. Por fim, instituições e investidores que desejam otimizar sua estratégia de alocação no mercado de energia precisam de informações sobre a complexidade do nexo óleo-açúcar-etanol. “Tais informações podem ajudar nas estratégias de negociação de curto e longo prazo dos combustíveis e toda a sociedade poderia se beneficiar disso”, destaca Palazzi.