Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Bruno Ferreira. Para acessar, clique aqui.
*Bruno Ferreira, coordenador pedagógico do Instituto Palavra Aberta
Dados da última avaliação do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) demonstram que jovens brasileiros de 15 anos são pouco criativos na resolução de problemas. Isso foi constatado a partir de uma prova internacional de conhecimentos, à qual estudantes de 56 países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foram submetidos.
O Brasil ficou na 44ª posição, atrás de outras nações da América Latina, como Colômbia, Peru e Uruguai, somando 23 pontos de uma escala de zero a 60, o que nos deixou abaixo da média da OCDE. A principal fragilidade na criatividade dos nossos estudantes se deu na área de resolução de problemas científicos. Outro dado que chama atenção foi a diferença na pontuação entre estudantes mais pobres (19 pontos) e mais abastados (30 pontos).
Apesar de esse dado ter emergido da aplicação de um instrumento também pouco criativo e desestimulante para jovens de 15 anos (uma prova), ele nos dá a oportunidade de reafirmar a importância de processos educativos comprometidos em fomentar a autoria dos estudantes e não apenas com a análise de conteúdos alheios, abordagem que o manteria numa posição pouco ativa, ainda que possam — e devam — adotar postura crítica também ao consumir informações.
A criatividade já é vista como competência crítica na educação há muito tempo. O psicólogo educacional norte-americano Benjamin S. Bloom (1913-1999) reconhece, em sua taxonomia, a criatividade como um dos mais altos níveis do processo cognitivo.
Para ele, a criatividade não se limita à produção de obras de arte ou invenções tecnológicas, mas contempla também capacidade de gerar ideias novas e originais, encontrar soluções inovadoras para problemas e aplicar conhecimentos de forma crítica e reflexiva em diferentes contextos.
Também Paulo Freire (1921-1997), o patrono da educação brasileira, reconhece a criatividade como central na formação do senso crítico. Para ele, é fundamental que os processos educativos estimulem a expressão criativa dos estudantes, momento em que tomam para si o direito à palavra e consolidam seu aprendizado, expressando suas descobertas e entendimentos nos seus próprios termos.
É nisso, inclusive, que consiste um dos eixos que sustentam as práticas de educação midiática. No exercício da autoexpressão, em contextos pedagógicos, estudantes refletem sobre suas responsabilidades como autores e entendem as mídias como instrumento à serviço da mudança de comportamento, com vistas ao bem comum, das quais podem se apropriar para exercer a cidadania.
Mas em tempos de redes sociais, que podem ser canais poderosos para a difusão da produção autoral dos estudantes, fazendo-as ultrapassar os ambientes escolares, estas também podem representar um desestímulo à criatividade. Fascinados pelas trends, conteúdos instantâneos que ditam tendências, os jovens estão mais propensos a reproduzir modinhas em vez de inovar na concepção de mensagens que possam significar mais que diversão e passatempo.
Quando estudantes se mobilizam na escola, numa proposta pedagógica, para criar uma campanha a partir de uma demanda real, como enfrentamento a uma situação de bullying ou pelo descarte correto do lixo, por exemplo, eles não apenas exercitam a criatividade, mas também contribuem para que outras pessoas da comunidade tenham condutas mais responsáveis e empáticas, a partir da informação que elaboram e difundem.
Na educação contemporânea, sujeito crítico é sujeito propositivo, que idealiza soluções e as implementa em seus próprios contextos. A criatividade não é algo inato. Como toda habilidade, é desenvolvida ao longo da trajetória do sujeito no contexto de processos estimulantes, que o façam propor, planejar, implementar e avaliar em vez de simplesmente identificar problemas e criticá-los.