Pós-Graduação coloca UFPA entre as 10 maiores do Brasil

Publicado originalmente em Jornal Beira do Rio UFPA. Para acessar, clique aqui.

Por Suzana Cunha Lopes Foto Alexandre de Moraes 

Em 2022, a Universidade Federal do Pará alcançou seu melhor desempenho na Avaliação Quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), como crescimento da nota de 57 cursos de mestrado e doutorado. O resultado é motivo de grande celebração para a comunidade acadêmica por revelar o porte da pós-graduação da Instituição, que hoje está entre as dez maiores universidades brasileiras no Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG).

Na entrevista desta edição, o atual reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, conta o histórico dos investimentos institucionais para o avanço da pós-graduação da Universidade. Com extensa experiência na gestão da pós-graduação e da pesquisa no âmbito da Instituição e dos principais órgãos governamentais de fomento à ciência, como o CNPq, a Capes e o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, Emmanuel Tourinho analisa também a posição estratégica da UFPA na Amazônia e seu papel para o avanço da fronteira do conhecimento na e sobre a região. Reitera ainda a importância de se superar as assimetrias na distribuição dos investimentos em ciência e tecnologia no país, o potencial de transformação social do conhecimento científico aplicado às realidades locais, a projeção internacional da pós-graduação da UFPA e as perspectivas para os próximos anos.

Histórico de investimentos
Em 2009, quando nossa equipe assumiu a Propesp, a UFPA tinha 59 cursos de mestrado e doutorado, em 41 programas de pós-graduação, a maior parte deles com as notas mínimas para funcionamento, por serem muito novos e também porque recebiam apoio externo insuficiente para o seu desenvolvimento. Decidimos que era necessário construir políticas novas, com recursos próprios, que pudessem gerar um salto de qualidade em médio e longo prazos. Criamos, então, vários programas, sendo os principais o Acompanhamento da Pós-Graduação, o Apoio à Produção Qualificada e o Apoio à Cooperação Internacional. Em todos, foram aportados recursos consideráveis. Em 2016, quando nossa equipe assumiu a Reitoria da UFPA, aumentamos em 45% o orçamento da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (apesar dos cortes orçamentários pelo MEC), incrementamos os programas existentes e criamos outros. Apostamos no crescimento quantitativo e qualitativo. Na avaliação da Capes em 2022, já figurávamos como uma das dez instituições brasileiras com maior número de programas de pós- graduação, com 144 cursos de mestrado e doutorado, e colhemos o melhor resultado da história da UFPA. Cinquenta e sete cursos subiram de nota e passamos a ter uma maioria de cursos com as notas mais elevadas, incluindo 14 cursos com notas 6 e 7, atribuídas apenas aos que apresentam forte inserção internacional. As equipes dos programas de pós-graduação e da Propesp são as grandes responsáveis por esse avanço e merecem o nosso aplauso.

Destaque nacional

O Brasil precisa ter universidades fortes na Amazônia, que desenvolvam capacidades avançadas para lidar com os problemas da região em toda a sua complexidade. A UFPA lidera esse esforço e hoje ocupa um lugar de destaque no sistema de universidades públicas brasileiras, com um impacto diferenciado para o desenvolvimento social dos povos da Amazônia. Estamos estabelecendo uma competência científica local que é essencial para termos voz nas decisões sobre projetos para a região.

Fronteira do conhecimento

No Brasil, mais de 90% da ciência é produzida nas universidades públicas e, nestas, principalmente nos programas de pós-graduação. Com o seu destaque no Sistema Nacional de Pós-Graduação, a UFPA tem também protagonismo no quadro da ciência brasileira, com uma identidade própria. Somos os maiores produtores de ciência sobre a Amazônia na Amazônia. Conhecemos de modo único a realidade regional, em todas as suas dimensões. Estamos aptos, por exemplo, a integrar os saberes sobre o bioma amazônico com o conhecimento sobre os povos da Amazônia, suas culturas, suas dinâmicas sociais e territoriais. Ninguém entende mais da Amazônia do que os(as) pesquisadores(as) que vivem na Amazônia, nem mesmo os(as) que vêm aqui, de vez em quando, para desenvolver um projeto de pesquisa. Não é sem motivo que a UFPA tem sido cada vez mais buscada por instituições de outras regiões e países para parcerias em pesquisa. Nossas instituições estão em uma região estratégica para o país, com as maiores oportunidades e desafios para o desenvolvimento nacional, lidando com questões que são de interesse global e dependendo de ciência intensiva para tornar realidade um modelo de desenvolvimento com sustentabilidade e inclusão. Paradoxalmente, são as mais penalizadas na distribuição dos recursos federais para pesquisa e pós-graduação. Conseguimos quebrar algumas barreiras, vencer alguns obstáculos, mas precisamos estar mais presentes nos espaços de decisão. Quase todos esses espaços são ocupados por pessoas de outras regiões, que não aceitam reduzir a sua fatia na distribuição dos recursos federais. Para completar, temos pouco apoio político. Você não vê tantas lideranças da Amazônia indo aos Ministérios para cobrar investimentos nas universidades e nos institutos de pesquisa da região. O Nordeste avançou muito mais do que nós nesse quesito e hoje está em uma posição mais confortável, o que é positivo. Temos que continuar apontando as assimetrias e difundindo a nossa capacidade, para dar novos passos.

Impacto social

Como as universidades, a pós- graduação brasileira é relativamente recente e tem passado por ciclos que alargam o escopo de suas realizações. Algumas décadas atrás, a ênfase recaía na capacidade de formação de pessoal, depois, na produção científica publicada e, agora, no impacto social e econômico. Temos chamado a atenção de nossos programas de pós- graduação para isso. Precisamos formar bem e nos prazos previstos, com uma produção científica de alta qualidade e reconhecimento internacional, interagindo de modo eficiente com os setores da sociedade que podem se apropriar do conhecimento produzido para fomentar o desenvolvimento social e econômico. A pós-graduação brasileira, em suma, será cada vez mais cobrada por sua interação com a sociedade, com os movimentos sociais, com os sistemas produtivos e com os governos.

Internacionalização
Buscamos a internacionalização porque isso impacta a qualidade do nosso trabalho, por exemplo, alargando o universo de interlocuções e dando acesso a novos ambientes de formação e de financiamento. Estimulamos, assim, a busca de parcerias internacionais para a execução de projetos e a publicação em revistas que são lidas por pesquisadores do mundo todo. Os resultados já alcançados abrangem quase todos os nossos programas de pós-graduação. Nossos mestrandos e doutorandos, com frequência, têm a oportunidade de discutir seus projetos com pesquisadores estrangeiros em visita à UFPA e, muitas vezes, daí surgem oportunidades de estágio no exterior. Mas pensamos a internacionalização também de  uma ótica mais ampla. Criamos o Centro de Internacionalização da UFPA como espaço de formação para a cidadania global, promovendo o contato da nossa comunidade com saberes e culturas de outros países, e para o aprendizado de línguas estrangeiras. As transformações que estamos experimentando se refletem na presença da UFPA em rankings que listam as melhores universidades do mundo. Passamos a figurar nesses rankings nos últimos anos, e isso alimenta um ciclo importante de criação e fortalecimento de novas interações.

Novos avanços
Temos um longo caminho ainda por percorrer. Precisamos aumentar a massa crítica de pesquisadores e consolidar as estruturas de pesquisa em todos os campi. Precisamos verticalizar todos os nossos programas de pós-graduação com a abertura de doutorados onde ainda não existem. Precisamos integrar essas estruturas em grandes centros de referência sobre a Amazônia e buscar maior impacto na formulação e execução de políticas públicas para a região. Os próximos anos serão, certamente, de muitos mais desafios e conquistas. E temos gente e disposição para o trabalho que deve ser feito. 

Beira do Rio edição 166

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