Por que Google e Meta (Facebook) subsidiam organizações de notícias?

A resposta fácil, óbvia e que muitas vezes as próprias plataformas utilizam para abordar essa pergunta tem a ver com o fato das big techs terem afetado os modelos de negócios dos veículos de comunicação tradicional ao praticamente monopolizarem a receita da publicidade online e também da necessidade de manter o “negócio do jornalismo”, digamos assim, vivo por seu valor para a democracia. Mas um pesquisador grego hoje no Institute for Information Law da University de Amsterdã mapeou 6.773 doações para organizações de notícias e chegou a uma outra conclusão: “O objetivo principal tem sido colher ganhos políticos e de reputação”, disse Charis Papaevangelou à Press Gazette.

O mapeamento, focado exclusivamente em programas filantrópicos em vez de esquemas de “dinheiro por conteúdo”, como o Google News Showcase e o Facebook News, ateve-se a doações realizadas entre 2017 e o início de 2022. E percebeu que quase metade (43,8% para ser mais exato) das doações foram feitas para beneficiários de apenas três países: Estados Unidos (2.203), Brasil (424) e Canadá (339). Segundo o pesquisador, o alto número de doações a estes países pode ter a ver com ameaças de aprovação de regulações mais duras às plataformas:

“Essa foi outra dica em nossa hipótese de que as plataformas priorizam regiões e jurisdições que possuem um forte setor de notícias, com muitas organizações. Porque é aqui que, por um lado, pode aumentar a pressão pública sobre as autoridades e os governos para regular as plataformas… E em países onde há regulamentação pública sendo proposta, desenvolvida ou aplicada, isso pode ser visto como uma forma de realmente tentar salvar sua reputação, combatê-la e virar a maré, basicamente. Agora, até que ponto eles foram bem-sucedidos, é uma questão de como você vê isso. Mas, quero dizer, [suas motivações são] bastante óbvias, eu acho.”

A África inteira recebeu apenas 120 doações da Google News Initiative e do Meta Journalism Project, menos do que a Oceania (205), um continente bem menor, mas que abriga a Austrália, um dos primeiros países a aprovarem legislação que obrigam as plataformas de big tech a pagar pelo conteúdo noticioso que é distribuído em suas plataformas: esses acordos, no entanto, não foram incluídos no estudo até porque são mantidos em sigilo pelos seus signatários. O pesquisador tentou acessá-los com representantes das duas empresas, mas não obteve sucesso:

“Acho que parte do modelo de negócios das plataformas é dividir para conquistar. Então, se tivéssemos acesso a esses dados, a indústria poderia identificar quem está recebendo o quê, e isso poderia criar mais tensões no relacionamento entre as plataformas e os maiores players da indústria de notícias.” (GC)
Funding Intermediaries: Google and Facebook’s Strategy to Capture Journalism
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/21670811.2022.2155206?utm_source=substack&utm_medium=email
Google and Meta have made 6,773 grants to news publishers: What are they up to?
https://pressgazette.co.uk/platforms/google-meta-news-payments/?utm_source=substack&utm_medium=email

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