Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta. Para acessar, clique aqui.
*Patricia Blanco é presidente do Instituto Palavra Aberta
O ecossistema de informação global, conectado por uma internet cada vez mais rápida e robusta, é hoje formado por diversificados produtores de conteúdo que oferecem uma infinidade de pontos de vistas diferentes, permitindo acesso a vozes plurais e diversas. No entanto, como um nocivo efeito colateral, esse ambiente também está poluído por desinformação e discurso de ódio, colocando em risco a integridade das informações de interesse público, vitais para o desenvolvimento dos povos.
Essa abundância informacional no meio digital vem aumentando a necessidade de aprimorar um olhar mais crítico em relação ao consumo de informação, de promover o desenvolvimento de competências digitais e de educação midiática, ao lado do fortalecimento do jornalismo profissional e de salvaguardas éticas para preservar a liberdade de expressão. Também torna urgente que a produção de informações se dê com mais responsabilidade. A partir desse conjunto de ações é possível proporcionar a criação de sociedades mais inclusivas, conforme defende a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A agência lidera mais uma edição da Global MIL Week, de 24 a 31 de outubro, e uma conferência global organizada em Amã, na Jordânia, de 30 a 31 deste mês.
O tema escolhido para a Global MIL Week deste ano aborda justamente a urgência de zelar pelo bem comum: “As novas fronteiras digitais da informação: alfabetização midiática e informacional para informações de interesse público”. A proposta busca compreender melhor o impacto transformador das tecnologias emergentes, como a inteligência artificial generativa, de forma a “equipar” as pessoas com as habilidades necessárias para reconhecer tanto as oportunidades como os riscos do universo digital, reforçando a capacidade da educação midiática para abrir caminho em direção a um futuro digital mais seguro e inclusivo para todos.
Analisar com criticidade e saber identificar a imensa variedade de formatos, gêneros e linguagens passou a ser uma questão de sobrevivência. Sem contar que o excesso de informação têm, muitas vezes, transformado o ato de buscar conteúdos de qualidade em uma tarefa árdua. Na era da abundância informacional, a sensação de procurar “agulha num palheiro” nunca foi tão real.
O excesso de oferta que pode confundir oferece também uma variedade imensa de possibilidades, com novos criadores de conteúdo que vêm ajudando a ampliar o acesso a culturas, perspectivas e formas de ver o mundo diferentes das que estamos acostumadas. Esses novos agentes, porém, precisam entender o seu papel e a sua responsabilidade ao produzir conteúdos que influenciam cada vez mais pessoas, de todas as idades, mas principalmente crianças e adolescentes que acessam a internet cada vez mais cedo.
Dados da pesquisa Tic Kids Online divulgada no dia 23 de outubro mostram uma presença intensa de jovens entre 9 e 17 anos no ambiente digital, sendo que 95% da população nesta faixa etária acessa a internet quase que diariamente e 84% utiliza a internet para assistir vídeos, programas, filmes ou séries. Ou seja, consomem ativamente conteúdos produzidos por influenciadores digitais em redes sociais como Instagram, YouTube e TikTok.
Neste sentido, o curso online “Criadores de Conteúdo Digital e Jornalistas: Como Ser uma Voz Confiável Online”, lançado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas durante as comemorações da Global MIL Week 2024, chega em ótima hora. Voltado para jornalistas, comunicadores e criadores de conteúdo digital, incluindo vloggers, youtubers, podcasters e outros, busca traçar um panorama amplo do papel desses novos profissionais e a responsabilidade de todos na construção de um ambiente informacional mais íntegro. O curso é gratuito e será oferecido também em português.
As palavras da Diretora Geral da Unesco, Audrey Azoulay, reforçam o desafio de promover um espaço digital diverso e seguro. Para ela, “nesse dilúvio de informação, precisamos de mais pontos de referência e de pensamento mais racional. E é por isso que a alfabetização midiática e informacional é uma competência fundamental para a educação dos cidadãos do século XXI”. Compreender, validar e multiplicar conteúdos de qualidade e informações de interesse público são os caminhos mais concretos no combate à desinformação que mina a capacidade coletiva de viver em paz, com igualdade e equidade.