Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.
Um relatório da Fundação Maldita.es revelou a inação das plataformas digitais na rotulação ou remoção de informações falsas sobre as eleições na União Europeia. No geral, 45% das informações checadas como desinformação entre fevereiro e junho deste ano não receberam nenhuma ação visível no YouTube, TikTok, X, Instagram e Facebook – as empresas consideradas como plataformas online muito grandes (VLOPs).
“Entre as postagens desmentidas que não receberam nenhuma ação visível pelas plataformas, muitas são extremamente virais. As 20 postagens mais reproduzidas acumulam cada uma mais de 1,5 milhão de visualizações”, revela o relatório.
A pesquisa utilizou dados do projeto Elections24Check, que reúne dados e categoriza informações checadas de 40 organizações europeias independentes de fact-checking. No total, foram analisadas as ações em relação a 1.321 publicações identificadas em 26 países da União Europeia.
Entre as plataformas analisadas, TikTok, X e YouTube falharam em moderar o conteúdo desinformativo em mais da metade dos casos. A rede chinesa de vídeos curtos não tomou nenhuma ação em 60% dos casos, a rede de Musk falou em 70,6% e o YouTube não agiu em 75,5% das vezes em que uma informação foi verificada como falsa na plataforma.
Apenas os serviços da Meta tomaram ações visíveis na maioria dos conteúdos de desinformação, com o Facebook agindo em 88% das publicações e o Instagram em 70%. A pesquisa também identificou quais são as ações mais frequentes e concluiu que cada rede prioriza um diferentes tipos de medidas.
O Facebook, por exemplo, usou principalmente rótulos nas publicações. Os rótulos indicam para os usuários que aquele conteúdo foi verificado como falso. Foi a plataforma que mais usou essa estratégia (em 77% do conteúdo), enquanto o restante do conteúdo foi removido (11,7%). “Embora tenha sido a rede com a menor porcentagem de conteúdo sem ações visíveis tomadas, ainda assim, 11% do conteúdo permanece online sem ações visíveis”, acrescenta o relatório.
Por ser do mesmo conglomerado, o Instagram também fez um uso mais intenso de rótulos nas publicações, 56% do conteúdo de desinformação na rede recebeu um rótulo, enquanto 14% foi removido. O restante do conteúdo, quase 30%, seguiu na plataforma sem qualquer ação visível, um número quase três vezes maior que o Facebook.
Já o YouTube manteve, sem nenhum tipo de ação, 75,5% de conteúdo desinformativo na rede. Dos 24,5% que foram moderados de alguma forma, 10% receberam um painel de informação extra sobre mudanças climáticas, 10% receberam um rótulo de fonte do vídeo como mídia estatal e apenas 4% foi removido da plataforma. O TikTok, por outro lado, optou mais por remoções, 32% do conteúdo de desinformação foi removido da plataforma, enquanto 8% ganharam um link para “informações sobre as eleições europeias”, 60% do conteúdo não recebeu nenhuma sanção.
A plataforma X, no entanto, realizou ações mais variadas para o conteúdo desinformativo, apesar de não agir em 70% dos casos. A principal ação, no entanto, foi realizada pelos próprios usuários, 14% das publicações receberam as “notas da comunidade”. Apenas 6% do conteúdo foi removido e outros 5,5% receberam rótulos considerados genéricos pelos pesquisadores. Algumas contas também foram alvo de moderação, em 1.54% dos casos houve a suspensão da conta. Em 1,3% dos conteúdos houve uma combinação de rótulo genérico e Community Note e em 0,2% dos casos a visibilidade foi limitada.
A inação do X contrasta com o engajamento das publicações. Entre as 20 postagens desmentidas que mais viralizaram, 18 estão no X, enquanto as outras 2 estão no TikTok, todas possuem mais de 1,5 milhão de visualizações cada. “Uma das postagens desmentidas mais virais que não recebeu nenhuma ação visível pela plataforma é uma postagem afirmando que ‘a Ucrânia está por trás dos ataques a Moscou’. O tweet acumula mais de 3,4 milhões de visualizações, 9.000 curtidas e 3.000 comentários”, destaca o relatório.
O relatório da Maldita.es também pesquisou quais foram os assuntos que mais receberam sanções das plataformas. No geral, desinformação direcionada a migrantes foi pouco moderada, em 57% dos casos não houve nenhuma ação, seguida de desinformação sobre a integridade das eleições (56%). O YouTube, por exemplo, não moderou nenhum conteúdo desinformativo sobre migração, integridade eleitoral, gênero, guerra na Ucrânia e Covid-19.