Plataformas acadêmicas e redes sociais auxiliam cientistas a ampliar relações e interagir com diferentes públicos

Publicado originalmente em Jornal da UFRGS. Para acessar, clique aqui.

Ciência | Por meio de ferramentas como Lattes, ResearchGate, LinkedIn e Instagram, pesquisadores podem compartilhar conhecimentos, buscar oportunidades e se colocar em evidência

*Foto: Flávio Dutra/JU

Com a emergência da pandemia de covid-19, o aumento da disseminação de fake news e de conteúdos de desinformação, o compartilhamento do conhecimento científico em linguagem objetiva e acessível tornou-se crucial. Para responder a esse cenário, mais e mais cientistas se engajaram em plataformas digitais como o Instagram e o LinkedIn. Esse engajamento contribuiu não apenas para o compartilhamento da ciência fora dos muros da Academia, mas também para a sua visibilidade como parte da vida cotidiana.

Práticas de visibilidade científica não são um debate recente nem uma atividade nova.  Especialistas da área de ciência da informação entendem a visibilidade científica como uma necessidade de tornar pesquisas e o trabalho acadêmico acessíveis como parte do processo de construção do conhecimento. São, ainda, uma forma de pesquisadores interagirem, contribuírem entre si e buscarem oportunidades. No Brasil, uma das plataformas mais utilizadas para isso é a Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A plataforma Lattes integra em um único sistema bases de dados de currículos, grupos de pesquisa e de instituições. Sua dimensão se estende não só às ações de planejamento, gestão e operacionalização do fomento do CNPq, mas também ações de outras agências de fomento federais e estaduais, das fundações estaduais de apoio à ciência e tecnologia, das instituições de ensino superior e dos institutos de pesquisa. Estratégica para as atividades de planejamento e gestão, ela também auxilia na formulação das políticas do Ministério de Ciência e Tecnologia e de outros órgãos governamentais da área de ciência, tecnologia e inovação.

Um de seus recursos mais conhecidos é o Currículo Lattes, que se tornou um padrão nacional no registro da vida acadêmica de estudantes e pesquisadores. O Currículo Lattes é um sistema aberto de informação, ou seja, as próprias pesquisadoras e os próprios pesquisadores alimentam os dados. A partir dele, é possível encontrar pesquisadores, saber sobre suas formações, o que estão fazendo e o que já produziram.

Há ainda outras plataformas gratuitas largamente utilizadas, como ResearchGateAcademiaGoogle Acadêmico e ORCID. O ResearchGate é uma rede social voltada a pesquisadores e profissionais da área de ciência, sendo uma das maiores nesse campo, e permite uma interação mundial entre pesquisadores e campos de estudo, oferecendo diversas ferramentas, como o compartilhamento de artigos científicos e a interação via perguntas e respostas.

Já a Academia pode ser usada para compartilhar artigos, monitorar o impacto de acessos e acompanhar pesquisas em campos particulares do conhecimento. O Google Acadêmico, ou Scholar, em inglês, é um mecanismo virtual de pesquisa livremente acessível. Organiza e lista textos completos ou metadados da literatura acadêmica em uma extensa variedade de formatos de publicação.

O ORCID, ou ID Aberto de Pesquisador e Contribuidor em português, é um código alfanumérico para identificar exclusivamente cientistas e outros autores acadêmicos e contribuidores. Ele fornece uma identidade persistente para os seres humanos semelhante a que é criada para as entidades de conteúdo relacionadas nas redes digitais pela identificadores digitais de objeto (DOIs). É exigência para a publicação de artigos na maioria dos periódicos científicos.

Ciência 2.0

O pesquisador Ronaldo Ferreira Araújo, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), entende a comunicação científica aliada à presença online como um fenômeno que pode ser associado à Ciência Aberta. Em artigo sobre impacto e visibilidade, ele explica que a Ciência 2.0 engloba tecnologias como wikis, blogs, microblogs e outras mídias sociais. Nestas, a visibilidade científica tem como princípio a autoapresentação e a abertura ao diálogo participativo entre cientistas, seus pares e o grande público, com vistas ao engajamento.

Ele observa que ferramentas de mídias sociais oferecem uma maneira poderosa para cientistas impulsionarem seus perfis profissionais e atuarem como porta-vozes da ciência.

“Visibilidade, impacto e presença online têm sido questões cada vez mais discutidas quando se pensa em comunicação científica no contexto da Ciência 2.0. Sugerem novas práticas de cientistas que publicam resultados experimentais ou finais, matérias, novas teorias, reivindicações de descoberta e de projetos na web para que outros possam ver, compartilhar e comentar”

Ronaldo Araújo

Marcia Benetti, professora do curso de Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Fabico/UFRGS), ressalta que o conhecimento sempre dependeu da divulgação. “A presença nas redes sociais permite que as pessoas acessem o que o pesquisador produz. Também permite que se conheça trabalhos que, de outro modo, não estariam acessíveis”, afirma.

Ela lembra que, antes da internet, era preciso esperar que uma revista impressa chegasse à biblioteca para se ter acesso aos artigos publicados. Com as revistas online e de acesso aberto, se passou a conhecer os artigos a partir de listas, newsletters, mecanismos de busca. “Hoje em dia temos também as plataformas acadêmicas, que reúnem milhões de usuários. Essas plataformas funcionam como repositórios e permitem criar comunidades. Você pode seguir pessoas, receber notificações quando elas publicam algo, dialogar com outros pesquisadores e, principalmente, encontrar textos sobre os temas de seu interesse”, aponta.  

Marcia acrescenta que o trabalho do pesquisador não acaba quando o texto é publicado: é preciso divulgá-lo, fazê-lo circular, estando presentes nas redes sociais e nas plataformas acadêmicas – mesmo que isso seja desconfortável para o cientista.

“A sociedade precisa saber o que realizamos. É importante que a produção da universidade chegue às pessoas, isso também é nossa responsabilidade. Eu diria que o mais importante é ter orgulho do que fazemos. Não devemos nos encolher, estamos prestando um serviço à sociedade. Queremos ser lidos, queremos o diálogo, queremos a crítica, queremos visibilidade porque é assim que se faz ciência, no coletivo”

Marcia Benetti
Plataformas acadêmicas e redes sociais

Entre as plataformas acadêmicas, Marcia Benetti destaca como mais relevantes Google Acadêmico, Academia e ResearchGate. “No Google Acadêmico, temos um ótimo sistema de busca e uma métrica razoavelmente confiável de citações. Digo razoavelmente porque não é perfeita: há problemas com homônimos, o que vem diminuindo desde a adoção do ORCID, e há citações que o sistema não reconhece. Mas o índice H do Google, que mede as citações do usuário, vem se firmando como indicador de avaliação dos pesquisadores, então é uma plataforma importante”, explica.

Já a Academia e o ResearchGate funcionam como redes e como repositórios, ajudando a distribuir as publicações. “Cada vez que publico um novo texto, insiro um arquivo em formato PDF nas duas plataformas. A Academia reúne grandes pesquisadores do mundo todo, permite que você siga outros membros, tem um mecanismo de busca interessante, mostra de onde vêm os acessos aos nossos textos e conta as citações, embora esse sistema também não seja perfeito. O ResearchGate funciona do mesmo modo, também reúne cientistas do mundo todo, recomenda a leitura de textos, permite o diálogo e divulga oportunidades de trabalho”, conta.

“Nas plataformas acadêmicas, o pesquisador pode lançar um debate ou uma pergunta. Também pode colocar em discussão um texto que ainda não esteja pronto para revisão dos pares. São possibilidades interessantes, mas restritas aos membros das plataformas, que são basicamente pesquisadores”

Marcia Benetti

Entre as redes sociais, a pesquisadora coloca como relevantes Instagram, Facebook e LinkedIn. No Facebook e Linkedin há mais possibilidade de debate e aprofundamento, já que é possível postar conteúdos mais longos e com links. “Já o Instagram serve mais para divulgação, embora também possibilite o diálogo. Acho que as três redes funcionam bem para que o pesquisador seja conhecido, localizado e acessado. Estar nessas redes demonstra uma certa disposição em divulgar conteúdos e dialogar com os demais”, reflete. 

Aproximação com os públicos

Para Benetti, as redes sociais funcionam muito bem para a divulgação de publicações e eventos. Ela observa que há muitos perfis de pesquisadores, grupos de pesquisa, revistas científicas e universidades no Instagram, Facebook e LinkedIn. “Se você quer que uma informação circule, precisa publicar nessas redes. É claro que as listas de pesquisadores, via e-mail, continuam sendo importantes. Mas muitos conteúdos que ficavam restritos às listas hoje estão nas redes sociais”, indica.

A pesquisadora salienta que os maiores erros nessa divulgação são o uso de uma linguagem hermética, de difícil compreensão; ou, no outro extremo, forçar uma linguagem mais jovem e divertida, que não pareça adequada ou natural.

“O mais importante, na minha visão, é compreender que, estando nas redes sociais, qualquer postagem pessoal é também profissional. As redes apagam os limites entre vida pública e privada. Sua credibilidade como pesquisador vai ser construída também a partir das postagens sobre a vida cotidiana e das opiniões que você emitir sobre qualquer tema”

Marcia Benetti

Ela destaca que, para gerar engajamento, é importante publicar com frequência e interagir com outros usuários. “Um conteúdo compartilhável, que contenha informações relevantes, vai ter mais engajamento e circular mais. No Instagram, a imagem é fundamental, então os conteúdos precisam ser visualmente atraentes, com boa legibilidade, bom contraste, economia de texto, foco no mais importante.”

Ana Clara, a pesquisadora que aproxima universos

Ana Clara de Paula Moreira é física e mestranda em Astropartículas na Universidade de São Paulo (USP). No perfil @a_pleiade no Instagram, Tiktok, Threads e X, ela publica conteúdos sobre ciência, tecnologia e questões raciais.

A paixão de Ana Clara por compartilhar conhecimentos sobre astronomia começou quando ganhou seu telescópio, aos 15 anos. “Eu estava com o telescópio na praça perto da minha casa e uma criança perguntou, meio que me confrontando: ‘O que você está vendo aí?’. Eu falei que estava vendo Saturno. Ela respondeu: ‘Mentira, você não está vendo Saturno’. Eu falei que estava, sim, e se ela queria ver. Ela viu e falou: ‘É verdade, é Saturno!’. Aí eu expliquei sobre os anéis, que o planeta possui várias luas. No outro dia, estava indo ao mercado e vi essa mesma criança falando com uma outra que Saturno tinha anéis e que tinha luas também. Virou uma chave na minha cabeça porque isso que é divulgação científica, você brotar uma dúvida a partir de um pequeno conhecimento para que a criança, a pessoa, continue buscando sozinha”, conta.

Divulgadora científica desde o Ensino Médio, Ana Clara iniciou suas atividades no Facebook. Em 2020 entrou na universidade e, apesar de gostar muito de astronomia, se sentia inferior aos colegas. “Eu achava que eu não sabia muita coisa, apesar de sempre ter sido muito curiosa. Aí veio a pandemia. Eu sou de Minas Gerais, cursei apenas um semestre da graduação no modo presencial, em São Paulo. Isso me deixou bem triste, não colaborava o fato de eu sentir que o curso não era mesmo para mim, mesmo eu gostando tanto. Aí pensei: vou mostrar as coisas que eu sei para as pessoas que também querem saber. Talvez não seja o nível que a USP queira, mas alguém vai gostar do meu conhecimento.”

O perfil @a_pleiade surgiu como um lugar para essa troca, trazendo conteúdos de forma didática e divertida. “Foi criado para ser algo como um primeiro contato das pessoas com astronomia e física para, posteriormente, se tiverem interesse, irem atrás e se tornarem pesquisadores, divulgadores”, diz Ana Clara.

Ana Clara entende que, na sua prática, os perfis de pesquisadora e divulgadora são inseparáveis. “É óbvio que às vezes preciso parar com a divulgação porque tenho várias provas e fica puxado. Sou eu sozinha, fazendo todos os conteúdos, me desdobrando. Mas, no final do dia, eu abro as minhas redes sociais e vejo uma pessoa falando ‘eu não sabia sobre este tema. Obrigada por ensinar, continue fazendo seu trabalho’. Isso me deixa muito feliz porque eu nunca quis ser uma pessoa que tem milhares de seguidores, mas alguém que quer que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer e de gostar das coisas que eu gosto”, revela.

A mestranda acredita que a ciência precisa ser humanizada e estar acessível a todo mundo.

“Não adianta você pensar que está em um pedestal porque estudou numa universidade que tem nome, que é grande, porque você faz conferências e viaja muito, sabe cinco ou seis línguas. Isso vai contra a minha visão porque eu nasci em um bairro pobre, meus pais mal terminaram o Ensino Médio, nunca tiveram a oportunidade de pisar numa universidade. Eu sou a primeira pessoa da minha família a entrar em um mestrado”

Ana Clara de Paula Moreira

Assim como Marcia Benetti, Ana Clara entende que há muitas e muitos jovens pesquisadores que querem conversar e divulgar, mas são mais tímidos. “Essas pessoas acabam me procurando e sugerindo para escrevermos juntos e eu publicar, falar para o público. É uma construção. Divulgação científica é feita por várias pessoas incríveis. Ter pessoas na Academia que gostam do meu trabalho e que querem contribuir me ajuda muito.  As redes me aproximaram de muitas pessoas. Conheci vários físicos bacanas e em decorrência disso estamos planejando o primeiro workshop de físicos pretos brasileiros e estadunidenses”, comemora. 

Dênis, o desbravador do Lattes

Estudante do sétimo semestre de Fisioterapia na UFRGS, Dênis Komonski Selau ouviu alguém comentar sobre a importância do Currículo Lattes e criou o seu assim que entrou na graduação. Bolsista de Iniciação Científica, ele buscou inspiração nos currículos de professores. “Eu estava no primeiro ou no segundo semestre quando criei meu Lattes. Eu coloquei o que eu tinha, que era quase nada. Aí fui alimentando com as experiências:  bolsa de extensão, eventos. Um dia pretendo seguir para o mestrado e o doutorado e o Lattes é uma exigência”, ressalta. Dênis também possui perfil no ResearchGate em resposta a um pré-requisito para publicar um trabalho.

Para divulgar o dia a dia da pesquisa, Dênis se utiliza do Instagram, onde tem um perfil específico para isso. Está, ainda, no LinkedIn. Não porque sente que a rede corresponde as suas necessidades atuais, mas porque entende suas potencialidades. “O Instagram está sendo um lugar mais acessado para esse tipo de contato, mas não dá para misturar porque acaba interferindo na vida pessoal e vice-versa. Fiz o LinkedIn para meu namorado, que se formou em medicina e estava em busca de trabalho. Aproveitei e fiz o meu perfil, mas percebo mais como uma rede para quem procura emprego. É algo que eu já tenho pronto e atualizado para um depois”, explica.

A atenção de Dênis às tendências de comunicação fez com que ele se tornasse uma referência entre amigos e colegas, ajudando-os a criar e atualizar seus currículos Lattes – ainda mais porque, para quem está começando a vida acadêmica, é uma tarefa difícil. “Não é uma plataforma muito intuitiva. Se tivesse um evento ou um curso de extensão, uma formação contínua, seria ótimo. É uma coisa que todo mundo tem que ter, não importa, é uma exigência. Poderia ser incorporado em alguma disciplina para, pelo menos, as pessoas saberem de metodologia e das particularidades. Eu tive uma leve pincelada numa disciplina que nem era sobre metodologia. Era de uma professora com perfil forte de pesquisadora e ela ensinou a como pesquisar nas bases de pesquisa, coisa que também não é muito intuitiva.”

“Quando eu estava fazendo o meu Lattes, eu vi vídeos no YouTube e achei que era de um jeito. Depois fui ver outros perfis, passei horas e horas. Seria muito bom se tivesse uma formação na Universidade para isso”

Dênis Komonski Selau
Lucas e a luta com o X/Twitter

Mestrando em Fisioterapia na UFRGS, Lucas de Liz Alves também viveu as agruras de ter que tatear no preenchimento de seu currículo Lattes. “A plataforma em si, o jeito como ela é feita, é muito confusa. É difícil entender porque é muita estratificação. A gente acaba se perdendo um pouco porque os termos às vezes não são muito claros. Se eu levo o meu trabalho para um congresso, e é um poster com apresentação oral, por exemplo, fica com dúvida de onde alocar”, afirma. No entanto, julga o Lattes como a plataforma mais relevante para pesquisadores. “Querendo ou não, é onde a gente concentra todas as informações. A ideia de se ter toda a produção acadêmica e acessória de uma pessoa centralizada numa única página é interessante, só que o sistema precisa ser atualizado, se tornar mais dinâmico e intuitivo, com uma diagramação melhor.”

Lucas considera a Plataforma Brasil, base nacional e unificada de registros de pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema CEP/Conep, uma ferramenta mais fácil. “Como minha pesquisa de mestrado faz parte de um projeto guarda-chuva, se torna mais simples, basta aceitar quando me inserem em algum outro projeto”, conta. Nessa plataforma, ele integra Grupo de Pesquisa Locomotion – Mecânica e Energética da Locomoção Terrestre, juntamente com seu orientador, e o Grupo de Pesquisa em Comportamento Motor e Fisioterapia Aquática (GPCOMFA), com sua coorientadora. “Ambos os grupos acham um fio em comum e a partir disso criam um projeto grande que nos possibilita usar o mesmo número no Comitê de Ética”, relata. Com o ORCID teve contato apenas recentemente, quando precisou publicar um artigo. “Acho mais simples, mas a proposta é diferente. Prefiro buscar as informações no Lattes, são mais completas”, declara.

“Fazer um Lattes para os alunos da graduação é meio que uma coisa de guerrilha. Você vai aprendendo conforme a necessidade vai surgindo. Teria que ter alguma formação na Universidade para isso logo no início do curso”

Lucas de Liz Alves

Recentemente Lucas criou um perfil profissional no X, antigo Twitter, por perceber que as pessoas de sua área de atuação estavam mais presentes nessa rede. Alimentava o perfil com vídeos e destaques da pesquisa. No entanto, assim como vários jovens pesquisadores, teve sua conta arbitrariamente excluída pela administração da plataforma. “Fiquei dois meses sem postar nem acessar. Recebi um e-mail me notificando que meu perfil acadêmico fora excluído. Eu não consigo ter acesso ao que aconteceu. Tentei tantas vezes saber o que houve via Central de Ajuda que já perdi a conta. O e-mail dizia que uma das diretrizes da rede havia sido violada, mas não especificava qual nem quando, nem em que postagem. Eles não são nem um pouco transparentes”, lamenta.

A saída foi se render e criar um novo perfil pessoal no Instagram, transformando o antigo em acadêmico. “Eu já tinha vários professores da UFRGS e de outras instituições no Instagram, aí resolvi separar as coisas porque acaba sendo uma invasão de um aspecto pessoal da tua vida. Agora meu perfil pessoal só tem amigos e família e é restrito”, conta.

No entanto, Lucas atenta para a sobrecarga de trabalho que estar academicamente nas redes sociais gera. “O Instagram gera a demanda de responder constantemente às pessoas, e esse feedback é positivo, mas às vezes só acrescenta mais trabalho à carga grande que a gente já tem.”  Ele também entende que o uso acadêmico e profissional das redes sociais é mais natural para a nova geração. “Eu nasci em 1994, já fiz 30 anos. Minha infância inteira foi sem celular, que só fui ter quando adolescente. É muito diferente para a gente que cresceu em um mundo no qual o contato com a internet era pelo computador e quando dava. Isso para quem tinha computador”, reflete.

Filho de uma enfermeira que gerenciava uma clínica bariátrica, sua concepção de divulgação científica era a tradicional, presencial e física. “Os encontros da vida acadêmica eram ou em congresso ou em evento científico. Até pelas revistas era difícil, porque tinha que ter assinatura e a publicação era impressa. Minha mãe ia a vários congressos por ano para divulgar seu trabalho e se informar sobre a área de medicina gástrica e as novidades cirúrgicas”, lembra. Por isso, enxerga a necessidade crescente de presença virtual como um fator que acarreta excesso de trabalho e confusão entre as esferas profissional e pessoal.

Júlia e os bastidores das políticas públicas

Analista de políticas públicas e doutoranda na mesma área na UFRGS, Júlia Gabriele Lima da Rosa é uma usuária assídua do LinkedIn. Ela considera a rede um disparador de oportunidades. “Eu tenho ali uma rede de pessoas que não estão, em sua maioria, no meu ciclo profissional. O que publico sobre meu trabalho acaba interessando às pessoas porque políticas públicas só são reconhecidas quando já estão mudando a vida das pessoas ou quando são divulgadas em meios de massa. O LinkedIn é o lugar em que posso mostrar publicamente como as coisas estão sendo construídas”, conta. Futuramente Júlia pretende criar um canal no YouTube com a mesma tônica.

E ela sabe do que está falando. De forma geral, as pessoas não estão familiarizadas com os bastidores das políticas públicas, muito menos com as contribuições dos analistas e pesquisadores nessa área. “As pessoas não sabem o que a formação em Políticas Públicas quer dizer na vida real, qual o seu impacto, o que fazemos. Então agora chegou a hora de usar esses recursos a nosso favor e ao mesmo tempo mostrar para a pessoa que teve contato com uma política, como beneficiária ou por uma campanha de divulgação de massa, como a televisão, as formas como ela é construída, de onde vêm os fundamentos e as demandas”, explica.

“Às vezes, por postar no LinkedIn, promovo movimentos dentro do Ministério da Educação que eu, enquanto pesquisadora, seja com uma tese, um workshop ou com artigos, não conseguiria. Mesmo que eu tentasse por advocacy, ou seja, pegasse minha pastinha e fosse bater na porta de cada pessoa lá do Ministério, eu não conseguiria o mesmo efeito do que publicar na rede. O mundo inteiro pode ver isso porque está no LinkedIn. Esta acaba promovendo até tomadas de decisão por causa de um único post”

Júlia Gabriele Lima da Rosa

Por tudo isso, Júlia encara a atualização do LinkedIn como parte de sua agenda de trabalho e pesquisa. “Postar no Linkedin é uma tarefa planejada e programada. Inclusive eu consigo localizar e rastrear as demandas que surgem a partir disso, por causa de um post que eu fiz lá atrás que vi que certa pessoa curtiu visualizou”, detalha.

Envolvida em vários projetos de construção, implementação e suporte a políticas públicas, a analista percebe que o LinkedIn, por ser uma rede social, acaba alavancando a visibilidade em plataformas acadêmicas como ResearchGate. “O ResearchGate não é uma ferramenta tão utilizada pelas pessoas com quem eu falo. Elas não entendem muito bem como funciona. Eu mesma só comecei a usar quando recebi um convite para eu confirmar minha coautoria em um artigo que eu tinha publicado com meu orientador. O que me fez me interessar pela plataforma foi a possibilidade de checar as estatísticas da publicação, que iam aumentando cada vez que eu acessava. Não tem outro lugar que me dá esse tipo de metadados assim, como se fosse de uma rede social.”

“Para mim, particularmente, acompanhar as estatísticas no ResearchGate foi meio que uma gameficação. Eu vi os meus números crescendo, continuei postando e passei a interagir com outros pesquisadores. Sabendo disso, quando eu posto no Instagram ou no LinkedIn, tento colocar o link do ResearchGate”

Júlia Gabriele Lima da Rosa

Júlia também aponta a interface do ResearchGate como ponto positivo em comparação a plataformas como Google Acadêmico e Academia. “Ele se assemelha muito ao LinkedIn, porque podemos publicizar trabalhos que não foram publicados, que não estão associados a um DOI, com a vantagem de podermos rastrear as métricas. Por ele ter esse apelo parecido com o de uma rede social, de poder marcar pessoas, receber notificações, dá uma ideia de circulação do seu trabalho.”


Dicas para melhorar a visibilidade acadêmica
  • Plataformas acadêmicas versus redes sociais

Embora tênues, há diferenças entre plataformas acadêmicas e redes sociais. Elas estão relacionadas aos públicos e à circulação das informações. Ferramentas como Lattes, ResearchGate, Academia, ORCID e outras do gênero são mais utilizadas entre pesquisadores e pesquisadoras. Já redes como LinkedIn, Instagram e Facebook acabam “furando a bolha” por proporcionarem uma interação com pessoas não necessariamente relacionadas a instituições acadêmicas ou de pesquisa.

  • Vida pessoal versus divulgação científica

Nas redes sociais, esses dois aspectos se misturam, o que pode causar sentimentos de invasão, confusão e cansaço. O melhor é separar o perfil pessoal do profissional.

  • Linguagem

A forma como se disponibilizam as informações também é diferente para as plataformas acadêmicas e para as redes sociais. Nestas, procure usar uma linguagem acessível, direta e didática. Um recurso útil é imaginar que se está explicando para alguém de seu círculo social, e que não faz parte de seu círculo acadêmico, o que você quer comunicar. Sempre referencie suas fontes e, quando possível, marque as pessoas e instituições envolvidas. Procure interagir com as dúvidas que forem surgindo de forma respeitosa e objetiva.

  • Lattes, como eu faço?

Para além de uma exigência da vida acadêmica, o Currículo Lattes é parte importante de sua identidade como pesquisador ou pesquisadora. No entanto, o preenchimento e a atualização não são intuitivos. A UFRGS oferece um tutorial com o passo a passo para ajudar nessa jornada.

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