Publicado originalmente em Agência Bori por Sabine Righetti. Para acessar, clique aqui.
Uma série de pesquisas da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da FGV-SP sobre os impactos da pandemia nos profissionais de saúde pública disseminada na Bori deu base a uma denúncia contra o governo federal feita em maio à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA). O documento pede que a entidade adote medidas cautelares para garantir a proteção de trabalhadores e trabalhadoras de saúde do Brasil diante da Covid-19.
O ato está sendo liderado pela Internacional de Serviços Públicos (ISP) com entidades como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), a Federação Nacional dos Enfermeiros, o Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Rio de Janeiro e o Sindicato dos Médicos de São Paulo.
A base da denúncia são os resultados de uma série de quatro pesquisas com profissionais de saúde pública como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem conduzidas pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB) da EAESP (FGV-SP), em parceria com a Fiocruz e com a Rede Covid-19 Humanidades.
A série tem sido divulgada pela Bori desde a primeira rodada, lançada em maio de 2020. Teve grande repercussão na imprensa nacional em veículos como Globonews, CNN, SBT, rádios como JP e CBN, jornais como Folha de S.Paulo, O Globo, Zero Hora (RS), O Povo (CE), Folha de Pernambuco (PE), Portal Paraíba online (PB) e sites como UOL e R7 — só para citar alguns exemplos.
Sem treinamento nem EPIs
O documento enviado à OEA traz dados importantes da série. Na última edição das pesquisas, por exemplo, o levantamento mostrou que, após um ano de pandemia, a exaustão emocional e a falta de preparo para enfrentar a Covid-19 são a realidade de profissionais da saúde que estão na linha de frente de combate ao novo coronavírus: 80% deles sentem impactos negativos na saúde mental causados pela pandemia.
Além disso, mais da metade (55,6%) dos profissionais de saúde participantes não havia recebido (6,2%) ou havia recebido uma ou poucas vezes (49,4%) os equipamentos de proteção individual (EPIs) — e sete em cada dez não recebeu nenhum treinamento sobre protocolos específicos de atendimento a pessoas com Covid-19.
Gabriela Lotta, pesquisadora da FGV EAESP e co-autora do estudo, tem reforçado que profissionais de saúde precisam de condições de trabalho adequadas e de apoio e orientação para continuarem o seu trabalho: “É central que os governos vejam a situação dos profissionais para construírem políticas que dêem sustentação a este trabalho primordial”, diz.
A série de pesquisas já havia tido impactos importantes pelo país. A cientista já havia sido chamada para falar dos resultados das pesquisas ao Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), que estava procurando embasamento científico para dialogar com o governo sobre a situação dos enfermeiros da rede pública do Brasil. Pelo mesmo motivo, a pesquisadora também foi convocada, ainda em 2020, para tratar dos resultados do estudo com a Conacs (Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde).