Publicado originalmente em Brasil de Fato por Cida Pedrosa e edição de Vanessa Gonzaga. Para acessar, clique aqui.
Os ataques sofridos por uma rede de lanchonetes fast food após fazer campanha que mostra crianças falando sobre homossexualidade ao lado de seus pais, mães ou responsáveis, mostra o quanto ainda é necessário celebrar datas como o 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Especialmente no Brasil, onde o conservadorismo nos costumes, exacerbado após a eleição de Jair Bolsonaro, escancarou ainda mais o preconceito e a homofobia que parece fazer parte da cultura nacional. Uma amostra disso é o fato de um apresentador de TV não ter hesitado antes de chamar, no ar, os LGBTQIA+ de “raça desgraçada.”
A agravante da homofobia é que ela não se manifesta apenas em uma comunicação violenta, como aquelas palavras envenenadas, dirigidas à rede de lanchonetes ou cuspidas pelo apresentador de TV. Também se expressa em violência concreta, física, brutal, odiosa. Essa violência abrevia a expectativa de vida das pessoas trans para inacreditáveis 35 anos de idade, menos da metade do estimado para a população brasileira em geral.
O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. No ano passado, foram 175 assassinatos, 41% a mais que no ano anterior. São crimes cometidos com requintes de perversidade, como se visassem a aniquilação total, o apagamento daquele ser que atenta contra as crenças e visão de mundo, defendidas pelo agressor homofóbico, um justiceiro a serviço dos “bons costumes”.
Nesse contexto tão desfavorável, afirmar o orgulho é assumir a luta contra a LGBTfobia, que é estrutural e, por isso mesmo, tão difícil de ser combatida. O reconhecimento da criminalização da homofobia – crime hoje equiparado ao de racismo – esbarra no machismo reinante nas forças de segurança que não tratam os crimes com a seriedade que deveriam. Em muitos casos, em vez de acolherem as vítimas, esses agentes intensificam seu sofrimento.
Como alerta a ONG All Out, a superação do preconceito vai exigir mudanças profundas na sociedade brasileira. A começar por reverter o apagão de dados oficiais sobre a população LGBTQIA+, que dificulta a elaboração de políticas públicas.
A luta promete ser árdua, mas é o único caminho que nos permite sonhar com um salto civilizatório para um mundo sem espaço para barbaridades como aquela cometida contra Roberta Silva, mulher trans que teve 40% do corpo queimado por um adolescente no Centro do Recife. Não estamos mais na Idade Média – embora alguns desejassem que assim fosse. O que deve arder na fogueira são os nossos preconceitos e intolerância, restando em nós a empatia e disposição para acolher pessoas em toda sua diversidade. Só assim construiremos um mundo onde, como diria o poeta Milton Nascimento, qualquer maneira de amor valerá.