Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.
A onda de violência que atingiu o Equador nesta semana foi, como esperado, recheada de desinformação. A escalada de terror no país latinoamericano começou depois da fuga do líder da maior e mais perigosa facção criminosa do país no domingo (7), seguida de diversos motins. O caso fez com que, na segunda-feira (8), o presidente Daniel Naboa decretasse estado de emergência em todo o país e mobilizasse as Forças Armadas. A partir disso a tensão tomou conta das ruas e das redes sociais.
A cena que rodou o mundo e evidenciou o clima inflamado do país foi a invasão de um grupo armado à emissora de televisão TC em Guayaquil, onde jornalistas foram mantidos reféns até a intervenção da polícia, que conseguiu prender vários suspeitos. Carros queimados, explosões e policiais sequestrados também fizeram parte do caos nas ruas equatorianas, caos que seguiu para as plataformas digitais, onde começaram a circular informações falsas que dificultam a clareza sobre o que, de fato, está acontecendo, e o que não passa de uma mentira.
O El País fez um levantamento de situações que foram intensificadas pela circulação de desinformação. De acordo com o jornal, nas redes sociais circularam informações de que o apresentador da rede televisiva Mauricio Caterva Ayora estava ferido ou havia morrido, o que não aconteceu. Além disso, foi compartilhado que grupos armados tinham invadido um hospital e sequestrado os médicos ali presentes. No entanto, a polícia impediu essa ação e as áreas de consulta foram fechadas para evitar qualquer incidente.
Outro vídeo circulou com um suposto sequestro de pessoas no metrô em Quito. Porém, se tratava de um exercício policial que aconteceu em agosto de 2023 e, portanto, não tinha relação com a crise atual. O El País também relatou ainda um caso que foi divulgado nas redes como um ataque a uma escola na província de Los Rios, mas o que ocorreu, de fato, foi o desabamento de um muro por falhas estruturais.
O site de checagem de fatos ‘Ecuador Chequea’ publicou uma série de recomendações sobre as precauções que devem ser tomadas em meio a um conflito armado. Especialistas em segurança pública enumeram questões sobre avaliação de riscos antes de sair de casa e evitar estar em lugares lotados. Além disso, reforçam a necessidade de se manter bem informado. “Como recomendação final, Carlos Blanco, analista de segurança pública, apela às pessoas para que se mantenham informadas através de fontes oficiais e confiáveis, procurando não espalhar o sentimento de medo na população”, diz o texto.
Outro especialista ouvido pelo Ecuador Chequea, Christian Rivera, destaca o cuidado que precisa se ter com a divulgação de informações falsas ou descontextualizadas. “Os ataques de pânico individuais podem gerar pânico coletivo. Nesses chats, eventuais alertas devem ser reportados em tempo hábil, mas verifique se o que é compartilhado é real, pois, às vezes, são falsos e podem aumentar o nível de estresse”, disse ao site equatoriano.
Comunicação pública contra desinformação
Os especialistas ouvidos pelo Ecuador Chequea pontuaram a necessidade de uma comunicação governamental clara para combater a onda de desinformação e acalmar a população equatoriana. “Daí a importância da comunicação do Estado, que se não apresentar a narrativa e esclarecer os fatos, por exemplo, deixa espaço à especulação e perde terreno, porque cada vez mais se assume que o Estado perdeu o controle”, detalha Pablo Medina.
Sobre o mesmo tema, o jornal El Universo entrevistou cientistas políticos e especialistas em comunicação pública que reforçaram a necessidade de que a comunicação do governo seja mais eficiente para evitar a disseminação de desinformação. Madeleina Molina afirmou que não há clareza sobre o que vem acontecendo e que é preciso que os cidadãos saibam quais ações vão ser tomadas e que cuidados eles devem tomar.
Sonia Yánez Blum, também ouvida na reportagem do El Universo, disse que “ao deixar pontas soltas em sua comunicação, o governo do Equador abre espaço para informações falsas. Para combater as notícias falsas, o governo precisa de uma equipe focada em negar informações e monitorar as redes sociais, além de lembrar constantemente quais são os canais oficiais para uso dos cidadãos”, defende a especialista.