Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Pesquisa testou efeito de óleos naturais na preservação de madeiras amazônicas usadas no setor moveleiro
- Após nove meses, amostras de madeiras submetidas à pesquisa de campo no Acre revelam ação preservante de óleos como os de açaí, murmuru e patoá
- Apesar de protegerem contra perda de massa da madeira, produtos têm pouca eficiência contra ação de fungos
Óleos naturais podem ser importantes aliados para a conservação de madeiras expostas à ação de bactérias e insetos, segundo aponta pesquisa da Universidade Federal do Acre (Ufac), em parceria com a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Em experimento, os óleos de açaí, buriti, dendê, murumuru e patoá se mostraram eficientes na redução de perda de massa de espécies de madeiras da Amazônia comumente usadas pelo setor moveleiro. Os resultados estão descritos em artigo publicado na sexta (10) na “Revista do Instituto Florestal”.
A exploração legal da madeira amazônica é uma das principais atividades econômicas da região, com destaque para a indústria de móveis. Diante dos desafios para conservar e aumentar a durabilidade do material, que é suscetível às intempéries e também aos agentes da natureza, a pesquisa buscou responder o grau de atuação dos óleos naturais no tratamento preservativo das madeiras. A ideia era testar alternativas viáveis e menos nocivas ao ambiente, já que atualmente os produtos preservantes mais utilizados são sintéticos, considerados tóxicos e nocivos à saúde humana e de animais.
Os pesquisadores testaram a resposta das espécies de madeira amarelinho (Aspidosperma macrocarpon), tauari (Couratari oblongifolia), gitó (Guarea kunthiana), faveira (Parkia multijuga) e marupá (Simarouba amara) ao tratamento por pincelamento com cinco óleos naturais ao longo de cerca de nove meses. As 60 amostras, incluindo as sem tratamento, usadas como controle, foram expostas às intempéries comuns do clima quente e úmido do Parque Zoobotânico da Ufac, localizado no município de Rio Branco. O trabalho não analisou a eficiência dos óleos naturais em relação a óleos sintéticos, já disponíveis no mercado.
Como resultado do experimento, verificou-se que a peroba-branca foi a que menos perdeu massa, e a faveira foi a mais impactada. Em relação aos óleos naturais, no geral, o de açaí, murmuru e patoá foram mais eficazes na preservação das madeiras. O desafio ainda é desenvolver uma ação direta contra os fungos manchadores e emboloradores, conhecidos como agentes degradadores da madeira, já que os óleos testados no estudo não alcançaram resultados consideráveis de proteção.
Para Mara Lúcia Valle, pesquisadora da UFSB e autora do estudo, os produtos naturais têm se tornado promissores na preservação das madeiras e devem ser estudados. “Nós temos uma infinidade de produtos que podem ser extraídos da natureza e utilizados gerando baixo impacto ao ambiente. Precisamos de incentivo para realizar pesquisas com produtos naturais para achar soluções de preservação da madeira’’, destaca. O trabalho salienta, no entanto, que a aplicação desses produtos precisa levar em conta a disponibilidade e o custo dos óleos, além da sua eficácia em intervalos de tempo maiores que os nove meses do experimento.
Valle destaca ainda que, além da sustentabilidade, estudos como esse podem ter reflexo na economia local. ‘’Em prévio estudo, verificamos que o setor madeireiro ainda enfrenta dificuldades para tornar seus produtos competitivos especialmente pela falta de conhecimento técnico-científico sobre o tratamento sustentável das madeiras, tendo em vista que algumas delas são por vezes subutilizadas, em virtude de algumas características indesejáveis, como a baixa resistência e durabilidade’’, diz.
A autora afirma, ainda, que outras metodologias para aprimorar a utilização dos óleos naturais para a preservação da madeira estão sendo testadas, além da técnica do pincelamento dos óleos utilizada nas amostras. Os resultados devem ser publicados posteriormente.