Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Apenas 17,2% dos idosos da amostra apresentam 20 ou mais dentes, e perda de todos os dentes permanentes foi observada em 38% da amostra
- Participantes com nível socioeconômico mais baixo apresentaram quase o dobro da prevalência de perda total de dentes
- Perda de dentição funcional e de todos os dentes permanentes não foi associada diretamente à mortalidade, mas representa marcadores importantes para a saúde em geral
Em estudo com a participação de 1.289 idosos de Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) identificaram uma alta prevalência de perda de dentição funcional nesta população. A maioria (80%) apresentava menos de 20 dentes na boca – sendo que metade (38%) destes tinha perda total dos dentes. Ao investigar a possível associação entre a presença de dentição funcional e edentulismo, ou seja, perda total de dentes permanentes, com risco de morte, os autores observaram que não houve associação com a mortalidade na população idosa, mas que a saúde em geral dos pacientes impacta tanto na ausência de dentes quanto na mortalidade. Os dados estão publicados na edição de quinta-feira (20) da revista “Community Dentistry and Oral Epidemiology”.
Trata-se de um estudo longitudinal (no qual se coleta dados do mesmo grupo de pessoas em momentos diferentes dentro de um período específico). As informações a respeito da saúde dos idosos – acima de 60 anos – foram obtidas em 2014 junto ao “COMO VAI? – Consórcio de Mestrado Orientado para Valorização da Atenção ao Idoso”, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, por meio de entrevistas domiciliares realizadas por equipes treinadas. A amostra foi de 36.6% do sexo masculino e 63.4% do sexo feminino. Em 2014 foram coletadas as informações sobre número de dentes e as variáveis de confusão (idade, sexo, tabagismo, diabetes, hipertensão, IMC e posição socioeconômica), todas obtidas na linha de base. Já o dado de mortalidade foi coletado junto ao Departamento de Vigilância Epidemiológica entre novembro de 2016 e abril de 2017.
A análise bruta mostrou associação entre indicadores de perda dentária e mortalidade, porém, modelos ajustados para variáveis ??sociodemográficas e condições de saúde e comportamentos não revelaram associação entre as exposições e a mortalidade. Dentre as variáveis analisadas, destaque para relação entre classe social e qualidade dental. Os indivíduos de nível socioeconômico mais baixo apresentaram quase o dobro da prevalência de perda total de dentes em relação àqueles idosos dos níveis socioeconômicos mais altos.
“Apesar de não termos encontrado associação com mortalidade, é muito relevante saber que a perda dentária é um marcador para problemas de saúde geral e aumento no risco de mortalidade. É uma informação que pode nortear os serviços de saúde para que possam agir na prevenção dessa condição e reabilitação dos indivíduos edêntulos, reduzindo o impacto na saúde oral e na saúde geral”, analisa Flavio Fernando Demarco, professor titular da UFPel e um dos autores do artigo. O cirurgião-dentista espera que os resultados aumentem a conscientização do público sobre a importância da manutenção da saúde bucal, que deve ser vista como parte integral da saúde humana.