Publicado originalmente em O Estado do Piauí por Douglas Gomes. Para acessar, clique aqui.
Descoberta de troncos petrificados de 280 milhões de anos indica que a área de Teresina abrigou árvores gigantes na era antes dos dinossauros
Embora a famosa Serra da Capivara, situada a cerca de 530 km da cidade, seja o ponto de referência da região quando se trata de pré-história, com mais de 1.200 sítios arqueológicos e pinturas rupestres fascinantes, é sob o solo da capital que se revelam as marcas de uma vida mais antiga, anterior a nossa própria existência. No último sábado, dia 7, paleontólogos encontraram nas margens do rio Poty troncos gigantes petrificados que possuem cerca de 280 milhões de anos, sendo anteriores à era dos dinossauros. A descoberta aponta que, durante a era Paleozoica, o cenário da região teresinense era uma vasta floresta cujas árvores alcançavam alturas que rivalizam com as dos pinheiro.
O professor e paleontólogo Juan Cisneros, do curso de Arqueologia da UFPI, é um dos pesquisadores envolvidos na descoberta dos troncos petrificados. Segundo ele, a partir da análise dos fósseis, é possível encontrar pistas sobre as mudanças ambientais que ocorreram ao longo da história do planeta e vislumbrar como era a paisagem antiga do território piauiense. “Os troncos nos permitem saber, por exemplo, que uma floresta com árvores imensas, do tamanho de pinheiros, cobria uma parte do Piauí na Era Paleozoica”, explica.
O que antes eram troncos gigantes, agora permanecem petrificados, testemunhas silenciosas do passado. Há milhares de anos, essas partes da vegetação foram soterradas sob uma camada densa de lama, o que foi crucial para a preservação do material, já que as substâncias nesse composto isolaram os troncos da exposição ao ambiente, impedindo que ela se degradasse. “Essa lama era rica em sílica, um mineral que penetra facilmente nos tecidos das plantas e após muito tempo (milhares de anos) as petrifica”, comenta Juan. Esses fósseis são testemunhos de um passado que traz a tona mais detalhes sobre o processo evolutivo das espécies na Terra e como a fauna e a flora se transformou a partir das eras.
O paleontólogo comenta que existem planos para continuar explorando a área em busca de outros fósseis, e que as pesquisas ao longo do Rio Poty têm sido frutíferas. Quanto ao material descoberto, serão coletadas amostras para examinar detalhadamente as características dos tecidos internos dos troncos. Entretanto, Juan explica que as análises preliminares sugerem que os vestígios petrificados pertencem ao grupo das gimnospermas, plantas cujas sementes não estão não envoltas em frutos. “Sabemos que se tratam de árvores desse grupo, que hoje inclui os pinheiros e as araucárias”, relata.
A descoberta do sítio paleontológico onde os fósseis foram encontrados é bastante recente, e por razões de preservação, Juan opta por não divulgar informações detalhadas sobre a localização precisa, a fim de evitar danos ao material. Para permitir que esses registros da história da Terra resistam por mais anos, Juan comenta que há um projeto sendo elaborado junto ao governo do Piauí para proteger o local. “ A ideia é que a região seja transformada em um parque ambiental”, comenta. A medida, além de buscar a proteção do patrimônio científico e cultural da região, também contribui para a promoção do ecoturismo sustentável, valorizando a importância da conservação ambiental e dos tesouros arqueológicos do estado. “Esta cooperação está apenas começando, mas é um passo importante e necessário. A comunidade deve conhecer e aprender a valorizar e proteger o seu patrimônio”, ressalta.