O uso de máscaras em escolas como medida de precaução

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui

Por Andreia Von Zuben, Lair Zambon e Daiane Cristina Pereira Morato

O contexto atual da pandemia no mundo requer atenção. Recentemente, houve aumento de casos de covid-19 na Europa e na Ásia mesmo em países com maior cobertura vacinal. No Brasil, a flexibilização do uso de máscaras não considera a cobertura vacinal nos diferentes grupos populacionais (em crianças, adolescentes, jovens e idosos). Portanto, não leva em conta que a imunização contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos e mesmo nos adolescentes ainda não atingiu a cobertura esperada de 90% ou mais, como já efetivada em adultos acima de 18 anos.

No Estado de São Paulo, após uma redução acentuada nos índices de casos e de mortes por covid-19, o governador João Doria anunciou, em 17 de março, a flexibilização do uso de máscaras em todos os ambientes, com exceção do transporte público e dos locais destinados à prestação de serviços de saúde. Ficam de fora desta regra os ambientes escolares fechados, que deixam de exigir a máscara dos alunos. A decisão não leva em conta o risco de crianças levarem doenças respiratórias para casa, para irmãos menores que não podem ser vacinados ou pessoas idosas.

Campinas foi a única cidade do Estado de São Paulo e do país a manter a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes escolares fechados. Adotada em 18 de março, a medida foi pautada por indicadores epidemiológicos locais e pelo princípio de precaução em Saúde Pública – que toma medidas para que riscos iminentes não se tornem um real problema de saúde pública.

O município conta com um sistema de vigilância de saúde estruturado, associado a uma rede de assistência capaz de fornecer elementos e dados em tempo oportuno, que possibilitam monitoramento, análises e decisões estratégicas. Foi a partir deste sistema que se adotaram medidas mais restritivas que o Estado de São Paulo, durante os dois primeiros anos da pandemia. Inclusive, Campinas tem auxiliado outros municípios brasileiros a traçarem suas estratégias de saúde pública no enfrentamento à covid-19.

Há vários argumentos que apontam a necessidade de enfatizar medidas de manutenção do uso de máscaras em ambientes escolares fechados. São eles: indicadores epidemiológicos de baixa cobertura vacinal em crianças de 5 a 17 anos; aumento do número de internação hospitalar infantil por Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG); aumento de atendimentos de sintomáticos respiratórios na faixa etária escolar, principalmente nos períodos de outono e inverno; e o fato de que a covid-19, apesar de mais rara em crianças, pode ser grave e levar pessoas desta faixa etária a sequelas de longo prazo. Embora, proporcionalmente, o número de internações e óbitos por covid-19 seja menor em números absolutos que nas demais faixas etárias, esta doença já causou mais mortes em crianças no Brasil do que todas as demais doenças que podem ser evitadas por vacinas.

O período de outono e inverno intensifica a preocupação com crianças, já que doenças respiratórias se tornam recorrentes com a diminuição da umidade relativa do ar e a utilização de ambientes menos ventilados. Além das complicações respiratórias comuns, principalmente nos menores de 2 anos, as crianças em idade escolar também podem ser vetores da doença para os menores ao ficarem mais expostas a vírus respiratórios nos ambientes coletivos.

Como ambientes de frequência obrigatória, com permanência prolongada e grande número de indivíduos presentes, as escolas precisam evitar se tornarem espaços de transmissão da covid-19 e de outras doenças respiratórias mais prevalentes nesta época do ano. O uso de máscaras como princípio de precaução é o caminho para manter as atividades escolares presenciais sem abdicar da proteção da saúde coletiva.

Sobre os autores

Dra. Andrea P. B. Von Zuben é epidemiologista e diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas.

Dr. Lair Zambon é professor titular de Pneumologia FCM/Unicamp e secretário de Saúde de Campinas.

Daiane Cristina Pereira Morato é coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas.

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