Artigo de Ana Regina Rêgo. Também disponível em Portal Acesse Piauí e Jornal O Dia
Um aviso publicado de forma discreta no site do Twitter e disponível no link: COVID-19 – Twitter Transparency Center informa que desde o dia 23 de novembro que a plataforma não está mais aplicando a política de combate a informações falsas e enganosas sobre a Covid-19 e que vinha sendo adotada desde 2020.
Mesmo com uma política não tão rigorosa no que concerne ao combate à desinformação, a atuação dos mecanismos de coibição de desinformação sobre a pandemia no Twitter, permitiu que 11 mil contas fossem suspensas ou derrubadas por violações às regras da plataforma e que mais de 100 mil postagens mentirosas ou enganosas sobre a Covid-19 fossem removidas no período entre janeiro de 2020 a setembro de 2022.
Tal medida se coloca como um grande complicador no combate à desinformação sobre a Covid-19 e no combate a própria doença, tendo em vista o recrudescimento da pandemia em meio à novas variantes com grande potência para contaminação. Em novembro do corrente ano, os números de casos confirmados de Covid-19 no Brasil tiveram o crescimento superior a 20%. O mesmo tem acontecido em países como China e Estados Unidos o que tem levado os governos a sugerir novamente o uso de máscaras sobretudo, em ambientes fechados.
A desinformação sobre a pandemia da Covid-19 que se alastrou por todo o mundo desde o início de 2020 e por todas as plataformas digitais têm sido um grande motor do mercado que tem como produto principal a desinformação e cujos lucros são consideráveis, haja vista, a capacidade viral desses conteúdos que se pautam em estratégias de ativação de afetos e crenças.
O Twitter como uma das plataformas mais tradicionais também foi palco para um grande volume de desinformação sobre a pandemia, motivo pelo qual a sociedade civil e os governos estiveram pressionando-a para que instaurasse mecanismos de combate a desinformação que fossem cada vez mais eficientes, no entanto, com a compra da plataforma por Elon Musk conhecido por suas posições controversas sobre liberdade de expressão, negacionismos e posições hiper conservadoras, o Twitter tem passado por reestruturações e demissões de aproximadamente 50% do seu pessoal em todo o mundo.
É certo que as demissões também influem nas políticas de combate a desinformação considerando que para além dos moderadores robôs (Inteligência artificial) também se faz necessário, moderadores humanos, sem o que a moderação termina não se efetivando, uma vez que nem sempre a IA consegue discernir uma informação de uma desinformação. As demissões ao certo, comprometem as políticas da plataforma e, no caso em questão, levam ao seu fim, o que vem ao encontro do que pensa seu novo proprietário e gestor.
Elon Musk se posicionou de modo contrário às políticas de isolamento e distanciamento social, assim como, ao uso de máscaras durante o período mais complicado da pandemia nos Estados Unidos e embora tenha pego Covid-19 mais de uma vez, declarou que não iria se vacinar, embora não fosse completamente contrário às vacinas.
O Twitter caminha assim, na contramão das necessidades sociais dos usuários nas plataformas digitais, fugindo das responsabilidades sobre os conteúdos que são veiculados em seus domínios, conteúdos que para além de desinformativos trazem componentes que despertam o ódio, o racismo, a misoginia e muitos afetos negativos.
Por todo o mundo, vimos e ainda estamos presenciando casos de indivíduos que por seguirem as narrativas falsas não se vacinaram e se expuseram ao SARS-Cov-2. Vale destacar que muitos vieram a óbito.
Por outro lado, a desinformação tem provocado ódio e levado a atitudes violentas e impensáveis como as que vimos no México em junho de 2022 e no Brasil no período pré-eleitoral com assassinatos de seguidores do PT por parte de seguidores do Presidente Jair Bolsonaro como vimos em Foz do Iguaçu e no Mato Grosso.
Vale, portanto, pensar que a desinformação é um “câncer” social que para além do desentendimento político de que nos fala Jacques Rancière tem provocado depressão e mortes, motivo pelo qual se faz necessário a ação da sociedade civil e principalmente, das instâncias governamentais na implantação de uma política de regulação que possa impor responsabilidades às plataformas e coibir abusos e que, ao mesmo tempo, não configure censura aos usuários, mas possa punir a desinformação.
No Brasil infelizmente, até o presente momento quem pratica a desinformação tem sido recompensado com mandatos, a exemplo do ainda Presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, para além de parlamentares reeleitos como Carla Zambelli, Osmar Terra e Bia Kicis todos muito conhecidos dos jornalistas checadores durante a pandemia da Covid-19.
O Twitter deve ter no Brasil e no mundo, um tratamento que seja condizente com o tratamento que o seu novo proprietário dispensou a seus funcionários, assim como, compatível com o desprezo para com a segurança dos seus usuários, ou seja, precisamos tratar o Twitter como um espaço que favorece a desinformação e, portanto, cabível de sanções legais.