O racismo que atingiu Chico César é transmitido todos os dias nos policialescos

Publicado originalmente em Observatório Paraibano de Jornalismo por Mabel Dias. Para acessar, clique aqui.

O radialista Bira de Jacumã, da cidade de Conde-PB, fez comentários racistas a respeito do cantor e compositor paraibano Chico César. O preconceito racial do apresentador do programa Fala Conde, que é produzido pela prefeitura da cidade, repercutiu local e nacionalmente. A revista IstoÉ, portais como o UOL e Paraíba Já, trouxeram matéria sobre mais um caso de racismo no Brasil.

Infelizmente, declarações e atos racistas têm se tornado corriqueiros, em um país que tem sua população majoritariamente negra. Seja na mídia ou em outros espaços, os racistas têm se sentido à vontade para vomitar seu preconceito. E isso precisa ser combatido, urgentemente. Mesmo sendo crime no Brasil, não há registros de racistas presos. O caso de Chico César ganhou eco, e até denúncia no Ministério Público Federal (MPF) contra os radialistas que estão na apresentação do Fala Conde.

Porém, diariamente, os programas policialescos na TV exibem corpos negros periféricos como temíveis e sujeitos a punições severas. Prisão e morte. Retrato do Brasil colonial racista, ainda muito presente na atualidade.

Um trecho da denúncia ao MPF que circula nas redes sociais sem permitir identificar a autoria afirma: “ou combatemos isso de forma radical, ou apenas se declarar antirracista nas redes sociais nos tornará pessoas cínicas e coniventes.” Sim, precisamos ser antirracistas e cada vez mais combatermos, de frente, não só em discursos, este tipo de prática nefasta e que tem matado, simbolicamente e de fato, milhares de vidas negras.

O racismo não acontece apenas no programa radiofônico Fala Conde. Ele também acontece nos policialescos, que vão ao ar diariamente no horário do almoço, e fazem parte, infelizmente, da programação da maioria das emissoras paraibanas. Há algumas denúncias registradas no MPF de racismo religioso contra alguns programas policialescos nas TVs paraibanas. Uma delas foi feita por religiosos do Candomblé e da Umbanda, sendo reportada pelo blog do Intervozes, na Carta Capital. O apresentador Sikêra Jr. está sendo processado pelo MPF, que pede a sua condenação por dano moral coletivo decorrente de discurso de ódio às mulheres, quando em 2018 ele atacou, ao vivo, no programa que apresentava na Paraíba, pela TV Arapuan, uma jovem negra, com palavras racistas e misóginas.

A indignação e as denúncias contra o racismo sofrido pelo cantor Chico César repercutiram, e tão importante quanto é que mais pessoas se somem a esta luta, e exponham e denunciem os racistas, exigindo punições, pois racismo é crime no Brasil. Que a sociedade e os movimentos sociais se mobilizem para denunciar e cobrar punições também aos policialescos que reforçam o racismo e a injustiça contra o povo negro em emissoras de TV, concessões públicas, que tem como papel formar opinião e informar as pessoas, contra o racismo, o machismo e todo tipo de discriminação, e não, disseminá-lo. 

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