O futuro que vem do sol

Publicado originalmente em O Estado do Piauí por Vitória Pilar e edição de Luana Sena. Para acessar, clique aqui.

Jovens desenvolvem pesquisas em energia solar – Piauí é liderança em instalação de usinas fotovoltaicas no país

Regina Sousa observava tudo com cuidado e atenção nas salas do Centro de Formação Antonino Freire, no bairro Matinha, zona Norte de Teresina. Naquela manhã do dia 23 de junho, a governadora do Piauí caminhava ao lado do professor Juan Aguiar e do reitor da Uespi (Universidade Estadual do Piauí), Evandro Alberto para conhecer o espaço e o laboratório de qualificação dos alunos dos cursos de graduação em Engenharia Elétrica. Ao redor do trio, uma comitiva de alunos, repórteres e representantes de outras instituições ouviam com atenção os comentários de Juan e as impressões de Regina. 

Ela pousou a mão próximo ao peito e se aproximou de um dos projetos, um forno à base de energia solar. O projeto, há quase oito meses em desenvolvimento, foi pensado para funcionar com o calor do sol, ao invés de placas solares. No Piauí, o preço médio do botijão de gás tem alcançado os R$120 – segundo a Agência Nacional do Petróleo. A ideia é que o forno seja disponibilizado para populações de baixa renda e que tenha uma fonte abundante: o sol. 

Enquanto Regina observava, Juan explicava que o princípio básico para o funcionamento é como uma câmara de armazenamento de energia térmica: o equipamento capta os raios solares para dentro do forno e, assim, esquenta o alimento. “É de impressionar”, avaliou a governadora. “Penso que algo assim possa ampliar a segurança alimentar e garantir a qualidade de vida dos piauienses em um futuro próximo”, completou Regina, parabenizando os idealizadores. 

O forno foi pensado e produzido por Riquelme Santos, Kailane Sousa, ambos de 20 anos, e Alisson, de 23 anos. Todos eles fazem parte do Núcleo de Formação e Pesquisa em Energias Renováveis do Piauí (NUFPERPI), ligado à Uespi e orientados pelo professor Juan. O produto ainda passa por processos para patentear a inovação, mas também de aperfeiçoamento. Até o momento, não tem uma previsão exata de entrega, mas a ideia é que possa ser disponibilizado para a população mais carente. 

Riquelme Santos, Kailane Sousa mostram o forno que funciona o calor do sol (Foto: Vitória Pilar)

O forno de energia solar faz parte das motivações do NUFPERPI em criar soluções inteligentes e sustentáveis. Pensando nisso, Glennerson Vieira, de 22 anos, idealizou a criação de um sistema de monitoramento e automação solar. Em linhas gerais, através do sol, regiões com poços e aquíferos poderiam ser facilmente abastecidas com a ajuda do protótipo. O projeto pretende beneficiar, primeiramente, comunidades do semiárido, onde o recurso hídrico é precário. 

Outro problema que o produto consegue superar é a dependência tecnológica. Sem internet, apenas com telefonia, um usuário do sistema pode acompanhar o bombeamento através do celular. “Em termos práticos, para uma casa que tem um poço à distância, é feito o acionamento, por meio de uma notificação no celular, sobre a automação do sistema”, explica o estudante. “É um projeto de facilitação, onde os sensores captam o nível da água. Ele faz isso no solo e no sistema de agricultura, de forma remota”, complementa Glennerson.

Glennerson Vieira criou um sistema de monitoramento e automação solar (Foto: Vitória Pilar)

Na mira da inovação, Alisson Mesquita, vem desenvolvendo um rastreador solar. O protótipo nasceu da necessidade de otimizar o sistema de micro geração atual. A tecnologia de rastreamento, já utilizada em usinas de micro e grande porte, será desenvolvida para sistemas de pequeno porte. 

A ideia é fazer com que a placa siga o sol, ao longo do dia, com auxílio da mecatrônica e sensoriamentos – captação solar. “Com isso, estaremos exportando uma tecnologia que já existe, mas para sistemas de pequeno porte, ou seja, as casas”, explica o estudante. 

Alisson Mesquita e seu protótipo de rastreador solar (Foto: Vitória Pilar)

Por uma pesquisa possível 

O espaço que compreende os laboratórios foi inaugurado há quase um ano, mas bem antes disso, as pesquisas já vinham sendo desenvolvidas. Juan, que é egresso do curso de Engenharia Elétrica da instituição, faz parte de uma geração de alunos não teve a oportunidade de ter um espaço para desenvolvimento das tecnologias feitas por jovens cientistas. Quando voltou à Uespi, como professor, tinha em mente a produção de um espaço que pudesse ser embrionário para abarcar pesquisas possíveis no campo da inovação. 

O desenvolvimento das pesquisas vai de encontro com o momento em que o Piauí se encontra. Há quase seis anos houve um crescimento exponencial na instalação de usinas fotovoltaicas, que fez o estado ser liderança em relação a potência instalada na geração centralizada. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). 

Para que fosse possível a criação do Núcleo, Juan explica que uma série de parcerias foram estreitadas. Entre elas, o retorno social das Concessionárias do Projeto de Energia Limpa do Estado do Piauí, Superintendência de Parcerias e Concessões (Suparc) e a parceria público-privada Piauí Conectado. “Os projetos, agora extensionistas, excedem a própria pesquisa e agora tentam se consolidar para devolver o seu melhor à sociedade e ao desenvolvimento do mercado”, destaca Juan. 

Sobretudo, o professor reconhece que a pesquisa tem sido aprimorada pelos esforços dos alunos. O interesse da primeira geração de pesquisadores do Núcleo de Formação e Pesquisa em Energias Renováveis, no Centro Antonino Freire, tem dado base para trilhar um laboratório cada vez mais robusto: seja em inovação, quanto na qualidade dos pesquisadores. “Os alunos ficam nos finais de semana, enfrentando qualquer desafio,”, destaca Juan. “Sem eles, nada disso seria possível”, finaliza o professor.

Professor Juan Aguiar e seus alunos: “Sem eles, nada disso seria possível” (Foto: Vitória Pilar)

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