O dia de uma mulher que busca proteção do estado: mais violência e exclusão 

Publicado originalmente em Ocorre Diário. Para acessar, clique aqui.

Texto de opinião: Maria Lúcia de Oliveira

O machismo é uma construção social, apoiado na ideologia da criação. Comecei a minha militância política há 30 anos, depois do contato com o movimento de mulheres. No ano de 2000, conheci a UMP – União das Mulheres Piauienses. De lá para cá, tenho participado de ações junto a esses grupos para pensarmos juntas o enfrentamento a todas as formas de violência contra nós, mulheres.

Não podemos negar os avanços das políticas públicas, graças à luta das mulheres, porém é  indignante a falta de compromisso do Estado, quando se trata de proteger as mulheres. Hoje (27/05/2024) foi um dia daqueles, onde tivemos a prova disso.

Mais uma vez, peregrinamos nas instituições em busca de assistência para uma mulher da nossa comunidade. Depois de andarmos por várias instituições, chegamos na Casa da Mulher Brasileira. Isto, andando de instituição em instituição, em uma cidade que não oferta ônibus suficiente para garantir a mobilidade. Mais violência. Pagamos Uber, enquanto a vítima sofria re-vitimização, desta vez pelo abandono do estado.

A impressão que temos é que a violência contra a mulher no estado do Piauí tem servido para cabide de emprego de pessoas privilegiadas que não conhecem ou que não têm sensibilidade com as mulheres pobres, negras e trabalhadoras que procuram essas instituições. Ou seja, só serve para privilegiar uma pequena classe branca que ocupa os micros poderes e, na verdade, estão muito longe de conhecer a realidade.

No meio disso tudo, enquanto buscávamos proteção do Estado, encontramos outra mulher na mesma situação. O fato é que encontrei uma senhora que vinha com os pés sujos de terra, pois tinha trabalhado na horta e foi até o local para fazer uma denúncia. Eram duas horas da tarde. A mulher estava com fome, pois lá não tem um lugar nem para a gente fazer um lanche.

Surpreendente para mim é que antes nós, enquanto defensoras populares, podíamos acompanhar as mulheres a partir da entrada até a hora da oitiva. Isso não acontece mais. As defensoras são impossibilitadas de entrarem junto com a vítima. Lastimável.

Esta é mais uma falta de compromisso que o Estado do Piauí tem tido em proteger as mulheres. Isto tem levado as mulheres à morte, porque quando acontece a violência vermelha, como dizia minha amiga Sueli, é porque ela já passou por todas as violências e o Estado não se importou com as mulheres que, contribuem com seus impostos e com a força de trabalho,  para  protegê-las.

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