Número de cirurgias plásticas cresce a cada ano e suscita debates sobre a autoimagem na sociedade de consumo

Publicado originalmente em Jornal da UFRGS. Para acessar, clique aqui.

Sociedade | Com a constante exposição em fotos editadas nas redes sociais, corpo e imagem passam a ser produtos, especialmente entre as mulheres

*Foto: Michela Bettuzzi CC2

“Meu sonho.” “Linda” “Ficou perfeito.” “Arrasou.” Comentários como esses lotam as imagens postadas em um grupo do Facebook que tem como objetivo compartilhar informações sobre cirurgias plásticas. Com postagens diárias que variam entre cápsulas milagrosas para emagrecer, indicações de médicos, empréstimos para financiar as cirurgias e relatos do processo, o grupo conta com mais de 26 mil membros.

A grande presença feminina, os comentários admitindo ser um sonho e o relato das pacientes demonstram um dado já comprovado: a grande expressão da cirurgia plástica no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), 459 mil cirurgias plásticas estéticas foram realizadas entre 2007 e 2008. O dado mais atualizado, de 2020, da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), aponta que foram feitas 1.306.962 intervenções cirúrgicas estéticas neste ano no país.

Números de cirurgias plásticas estéticas no Brasil

Fontes: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética
Reparadora versus estética

Os dados apresentados tratam apenas das cirurgias estéticas, mas há dois tipos de cirurgias plásticas, a estética e a reparadora. “A reparadora visa solucionar problemas onde existe uma alteração funcional”, enquanto na estética “não há uma situação patológica em si, mas uma questão que atrapalha o funcionamento social, a autoestima, a autoimagem”, explica Virgínia Piúma Pólvora, médica especialista em Cirurgia Plástica e Microcirurgia com pós-graduação pela UFRGS e membro titular da SBCP.

Há, também, casos em que a cirurgia plástica é simultaneamente estética e reparadora. “Tem-se a união dos dois aspectos em casos de câncer de mama, em que se tem a questão patológica da doença e a da imagem da mulher”, explica Virgínia. Outro caso são as cirurgias de redesignação sexual, aponta a médica.

As cirurgias plásticas surgiram, originalmente, com a função reparadora. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, os primeiros registros de procedimentos visando mudar a aparência física de alguém remontam ao século VI, localizadas onde hoje se encontra a Índia. Detalhes sobre os procedimentos feitos na época estão presentes nos textos conhecidos como Sushruta Samhita, que são atribuídos ao fundador da medicina Ayurveda

Mas a cirurgia plástica moderna teve seu grande avanço durante a 1.ª Guerra Mundial (1914 – 1918), com Harold Gilles, considerado o pai da especialidade. O médico percebeu que, para fechar os ferimentos dos soldados, era necessária a utilização de outros tecidos. O objetivo, além de curar os feridos, era dar uma aparência mais “normal” a eles. Com a evolução dos procedimentos, as mesmas técnicas passaram a ser usadas para buscar a melhora da aparência, surgindo, assim, a cirurgia plástica estética – a qual os dados apresentados no início da matéria se referem.

Inicialmente, os procedimentos eram caros e destinados às elites econômicas, mas, de acordo com a SBCP, houve a popularização dos procedimentos devido às estrelas de Hollywood que aderiram às cirurgias. Entre os anos 1940 e 1950, as cirurgias mais realizadas eram rinoplastia e facelifts, procedimento que visa amenizar os sinais do envelhecimento no rosto, como marcas de expressão e rugas.

O sonho realizado

A rinoplastia segue, de 1940 aos dias de hoje, como uma das cirurgias plásticas mais realizadas. Segundo os dados mais recentes da ISAPS, o Brasil é o país que mais faz esse tipo de procedimento no mundo – foram 87.879 em 2020 – seguido por Turquia, com 66.950, e Estados Unidos, com 55.436.

A estudante de Dança Paula Trodo Degrazia, de 20 anos, foi uma das pessoas que passou pela rinoplastia. Em 2019, realizou a cirurgia dos sonhos. “Desde pequena tinha problemas com o meu nariz”, contou a estudante, que desejava realizar o procedimento desde os 13 anos. “Meu nariz não era grande, mas tinha um calombo que me incomodava bastante. Muitas pessoas não viam problema. Quando eu dizia que queria fazer rinoplastia, elas falavam: ‘Mas seu nariz é bonito’”, relata.

A jovem consultou com diferentes médicos e, no processo, descobriu um desvio de septo e outros problemas respiratórios que também precisavam ser corrigidos. Por isso, precisou buscar uma médica que fosse otorrinolaringologista e, também, cirurgiã plástica. “Passei por vários médicos para ver a ‘vibe’ deles até decidir com quem queria fazer”, conta, “Para alguns médicos com quem eu tinha consultado antes, parecia um trabalho meio manual: entra, faz o nariz e sai. O carinho e a sinceridade da médica [escolhida] foram um diferencial”.

Na hora de escolher um “novo nariz”, comenta que sentiu medo de que ele não combinasse com o restante do rosto. No processo, a médica fotografa a paciente de vários ângulos e, em um aplicativo de edição de imagem, simula o resultado. Paula e a médica optaram apenas por retirar o “calombo” que a incomodava, e não afinar o nariz nem deixá-lo arrebitado, modelo comum após cirurgias plásticas. “Tínhamos a mesma visão sobre o que combinaria melhor para o meu rosto”, afirma a estudante.

Paula não se lembra muito da recuperação da cirurgia, apenas que precisava tomar diversos remédios. Na preparação para a procedimento, relatou que a médica lhe explicou todo o processo, os riscos da cirurgia e os cuidados pré e pós-operatórios. “Não me arrependo nem um pouco da cirurgia”, afirma.

Medo e riscos

Como qualquer procedimento, a cirurgia plástica possui indicações, riscos e benefícios e requer diversos cuidados no pós-operatório. Mas muitas pacientes afirmam não terem sido devidamente alertadas sobre todos esses pontos, comenta a docente do departamento de Antropologia da UFRGS Fabíola Rohden, que pesquisa sobre o assunto. Fabíola também conversou com médicos, que, por sua vez, afirmavam que, mesmo explicando todos os passos, muitas pacientes não davam importância a essas questões.

Ao observar os relatos de quem fez a cirurgia nos grupos de Facebook, percebem-se as duas realidades. O medo dos riscos da cirurgia não é um tema recorrente nos grupos de Facebook voltados ao assunto. Uma participante perguntou às outras sobre como lidar com os receios e ter coragem para realizar o procedimento. As respostas, na maioria, foram encorajando à cirurgia. “Toda cirurgia tem risco, temos que colocar nas mãos de Deus mesmo”, dizia um. “Medo você tem que ter de pular da ponte, cirurgia tem que ter é dinheiro. Eu tinha medo e fui com medo mesmo, agora já quero fazer mais três, só não tenho dinheiro”, comentou outra.

Quando o médico alerta sobre potenciais problemas, algumas participantes demonstram insatisfação. Em um dos comentários, uma delas reclamava do médico com quem tinha consultado. “Me assustou dizendo que tinha risco de trombose”, escreveu. Nas respostas, algumas mulheres explicavam que era dever do médico relatar todos os riscos, enquanto outras concordavam que não havia necessidade, porque apenas assustava quem buscava o procedimento. 

Em um dos relatos, a paciente afirma que chegou a se arrepender da cirurgia porque o médico não a havia preparado para a cicatriz que ficaria em sua barriga. Fabíola avalia que, em alguns casos, “se [os pacientes] tivessem tido uma conversa mais esclarecedora com o médico ou lido matérias que valorizem a diversidade humana e corporal, a cirurgia poderia ter sido evitada”.

Nos grupos sobre cirurgias plásticas no Facebook, os desabafos sobre o período pós-operatório são comuns (Reprodução)

Virgínia relembra que o paciente também tem responsabilidades ao decidir realizar o procedimento. “É importante que haja uma definição adequada e que o paciente não seja iludido, que ele vá realmente às fontes criteriosas e realistas antes de fazer qualquer procedimento cirúrgico”, comenta.

Na preparação para uma cirurgia, há uma série de exames necessários, como o teste de anestesia, o hemograma e os exames cardiológicos. Dentre os riscos ao se fazer uma cirurgia plástica estão complicações que ocorrem, também, em outros procedimentos cirúrgicos, como trombose, infecção e rompimento dos pontos, além de queloides, que são cicatrizes salientes. “É fundamental saber contraindicar uma cirurgia quando os riscos suplantam os benefícios”, afirma a cirurgiã.

Os números da cirurgia plástica

Apesar de todos os riscos, em 2019, o Brasil foi o país que mais realizou cirurgias plásticas no mundo. No dado mais recente, de 2020, o país caiu para a segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos, que realizaram 1.485.116 procedimentos cirúrgicos. Mundialmente, a cirurgia preferida das mulheres é o aumento de mamas; no Brasil, a lipoaspiração.

Procedimentos mais realizados no Brasil em 2020

Fonte: Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética

Lipoaspiração é uma operação que busca remover a gordura de diferentes locais do corpo, normalmente realizada com uma espécie de aspirador. Apesar de ser a cirurgia preferida das brasileiras, na lista de procedimentos não cirúrgicos voltados ao emagrecimento, o Brasil não consta nos 10 países que mais buscam essas técnicas.

A médica Virgínia explica que, na verdade, o foco da lipoaspiração não é o emagrecimento. “A lipoaspiração é indicada para melhorar o contorno, para tratar as lipodistrofias [disposição anormal da gordura no corpo] da paciente que não está obesa”, explica. “Há mais riscos em operar pacientes obesas”, salienta a médica. Nos grupos das cirurgias, entretanto, há troca de contatos de médicos que realizam os procedimentos mesmo que a paciente não esteja no peso adequado para a operação.

Nos grupos, as participantes trocam indicações de médicos e informações acerca do preparo para as cirurgias (Reprodução)

Existem diferentes razões para ocorrer o aumento de 184,6% das cirurgias entre 2008 e 2020. Virgínia aponta, como possíveis razões, o aumento das faculdades de medicina, de residências médicas em cirurgia plástica e de profissionais. “A diminuição dos custos e o maior acesso à população também são razões”. A cirurgiã ainda traz outros dois pontos: a maior divulgação das cirurgias e a entrada, nas redes sociais, dos médicos e das clínicas voltadas aos procedimentos.

Dos médicos associados à SBCP, de acordo com o último censo realizado pela entidade em 2018, 60,2% dos profissionais utilizam o Instagram como forma de comunicação. No Facebook estão 58,4% dos profissionais. Já 19,7% não estão em nenhuma rede.

Redes sociais mais usadas pelos cirurgiões plásticos

Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Redes sociais e a visão de si

No primeiro episódio do seriado inglês Fleabag, a personagem principal e a irmã estão em uma palestra. A palestrante do palco faz uma pergunta: “Por favor, erga a mão se você trocaria cinco anos de sua vida pelo chamado ‘corpo perfeito’”. Eis que Fleabag e sua irmã são as únicas a erguer a mão, e a personagem fala “nós somos feministas ruins”. Apesar de uma das pautas do feminismo ser a aceitação do corpo, as mulheres são ensinadas há muito a odiá-los e a perseguir o chamado corpo perfeito. 

“A estética sempre foi voltada para mulher”, comenta Nísia Martins do Rosário, professora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS e pesquisadora sobre corpos na comunicação. Ela relembra que, no decorrer da história, os padrões de beleza sempre recaiam sobre os corpos femininos, desde o uso de espartilhos, no século XIX, às cirurgias plásticas atuais.

Nos últimos anos, com o aumento das redes sociais houve, também, o aumento da publicação de imagens de si editadas e transformadas. De acordo com as pesquisadoras Fabíola e Nísia, há um padrão a ser perseguido: o corpo branco, magro e jovem. “Há pouco espaço para a diversidade de corpos: tem um corpo padrão que deve ser atingido para ser aceitável”, aponta Nísia. A pesquisadora ainda acrescenta que, ao estar constantemente em contato com algo, mais ele se torna o padrão e mais é perseguido. “Quanto mais se repete alguma coisa, quanto mais se está em contato com alguém ou com produto, mais se busca se assemelhar a ele”, comenta. 

Nas redes sociais, fotos de antes e depois das cirurgias plásticas, além de vídeos em formato de diário das cirurgias, tornaram-se comuns. O relato do procedimento de lipoaspiração e silicone da influencer Virgínia Fonseca, que conta com 11,3 milhões de inscritos em seu canal do YouTube e 41,1 milhões seguidores no Instagram, tem 5 milhões de visualizações. No vídeo, a jovem de 23 anos aparece caminhando e rindo. O vídeo foi postado em 2018. Em 2020, ela fez outro procedimento, o chamado lipo LAD, uma lipoaspiração de alta definição, que também documentou em seu canal.

A humorista e influencer Gessica Kayane, conhecida como Gkay, tornou-se assunto principal em diferentes reportagens por suas cirurgias plásticas, além de ter os resultados criticados nas redes sociais. Em 2019, ela documentou sua rinoplastia em um vídeo publicado em seu canal no YouTube. O corpo e a imagem se tornam um produto: “Há uma publicização da imagem de si”, aponta Fabíola.

A médica Virgínia observa que há um problema quando as influencers diminuem os riscos ou romantizam os procedimentos. “Minimizar ou omitir esse aspecto é contribuir para uma desinformação”, afirma.

As pesquisadoras Fabíola e Nísia lembram, entretanto, que esse corpo postado nas redes sociais não é natural. Há filtros e manipulação das imagens. “É preciso melhorar para poder postar uma imagem nas redes sociais”, comenta a antropóloga.

A edição de fotos como ferramenta de simulação do resultado da cirurgia é uma prática comum. A cantora Anitta, por exemplo, contou em entrevista para o canal espanhol CuatroTV, no ano de 2019, que levou uma foto de seu rosto editado no para a cirurgiã plástica para mostrar como gostaria de ficar na vida real.

“Ocorre uma busca por uma perfeição que não é atingida, porque não é uma perfeição real”, comenta Nísia. O padrão por um corpo perfeito, a busca por ele e, inclusive, a explicação da cirurgia estética passam por uma não aceitação de si e do corpo. “Se eu aceito meu corpo, por que eu preciso fazer cirurgia plástica?”, reflete Nísia. Fabíola traz um complemento, “como se produz um processo de identificação satisfatória quando tem uma imagem de si tão alterada?”. 

Já para a cirurgiã plástica, “o ponto mais importante é que a cirurgia plástica traz muitos benefícios quando é adequadamente indicada e quando se tem, de um lado, um bom paciente, que vai buscar as informações, e do outro lado, um bom médico, que vai saber diagnosticar corretamente e indicar o procedimento correto”.

“As pessoas têm o direito de procurar se sentir bem e se transformar, mas a gente assiste a situações em que isso é vivido como um grande pesar e uma grande pressão, como relatos para agradar o parceiro”, reflete Fabíola, lembrando que “o peso de determinados tipos de padrões de gênero afetam diferencialmente homens e mulheres”.

Em grupo no Facebook, algumas pacientes relatam a satisfação com o corpo pós-cirurgia (Reprodução)
Paciente ou consumidora?

Em suas pesquisas, Fabíola traz uma reflexão sobre a sociedade do consumo: a transformação de quem se submete à cirurgia plástica de paciente para consumidora desses serviços. “Posso ter o peito que eu quero, a bunda que eu quero, a pele que eu quero. Ou seja, é também um corpo que se reconstrói, que se torna outro. A questão não é se isso é bom ou ruim, a questão é esse modo consumista de obter esse corpo”, reflete Nísia. “Eu quero ser assim e eu posso ser assim”, resume Fabíola.

A comunicadora complementa que o aumento das cirurgias plásticas passa por dois pontos que estão presentes no pensamento cultural de uma sociedade capitalista: o hedonismo – querer ter o corpo perfeito – e o presenteísmo – querer tê-lo agora. “O corpo físico está se tornando algo mutável e descartável nesse sentido de que eu possa trocar os detalhes”, aponta Nísia, ao que Fabíola complementa ao citar que “há uma série de camadas de transformação, ou aprimoramento, em um sentido crítico”.

Nos grupos de Facebook, há um detalhe que exemplifica a produtização das cirurgias plásticas: as constantes propagandas de consórcios para cirurgias plásticas. Empresas que se denominam intermediárias de serviços estéticos fazem consórcio para a realização de cirurgias. No site de uma delas, lê-se a frase “o corpo dos seus sonhos começa aqui”. De acordo com as informações disponíveis, cirurgias de 2 mil a 100 mil reais podem ser financiadas pelo consórcio. Há, ainda, outras empresas de empréstimos e financiamentos para custearem os procedimentos.

Em grupos sobre cirurgia plástica no Facebook, anúncios de empresas que oferecem empréstimos e financiamentos para custear os procedimentos são comuns (Reprodução)

Outro detalhe é o esquecimento do período de recuperação. A pedagoga Carla Fonseca, de 41 anos, tinha o sonho de operar as mamas. Mãe de quatro filhos, ela conta que sempre cuidou de si e de sua beleza e, mesmo se exercitando rotineiramente, não conseguia ficar satisfeita com alguns detalhes do corpo. “Meu sonho era o silicone, mas ao ir ao médico, ele propôs a abdominoplastia”.

A indicação ocorreu porque, ao realizar os exames preparatórios, a pedagoga foi diagnosticada com diástase abdominal, uma deformação do abdome que ocorre pelo afastamento dos músculos e é comum em mulheres acima de 35 anos, especialmente após o parto. Ela também descobriu ter hérnia umbilical, um deslocamento do tecido abdominal localizado atrás do umbigo.

Como o médico era amigo da família, Carla conta que foi possível chegar a um bom acordo financeiro para que ela fizesse abdominoplastia, lipoescultura nas costas, além de implantar prótese mamária.

Logo após a cirurgia, ela desabafou em um dos grupos do Facebook sobre o resultado, devido à cicatriz. Pouco tempo depois, mudou de opinião e passou a gostar dos resultados. “Não tive problemas na recuperação, apenas uma queloide no umbigo e uma cicatriz hipertrófica na barriga”, conta. O esquecimento das dores e dos problemas pós-cirúrgicos e a volta do desejo para uma nova cirurgia são processos comuns. “É o consumo e o reconsumo de um mesmo produto”, aponta Nísia.

Em um grupo do Facebook sobre cirurgia plástica, participantes falam sobre o pós-operatório (Reprodução)

Em uma sociedade capitalista voltada para o consumo, a “plena realização de si é a capacidade de consumir”, aponta Fabíola. “São modismos de consumo”, reflete Nísia. Ao moldar o corpo da forma desejada – e na hora desejada –, o corpo também se torna uma espécie de produto a ser publicizado. Ocorre, como explica Nísia, a construção de um personagem apresentado nessas redes. “O aprimoramento de si precisa ser publicizado e é romantizado. Esse caráter de aprimoramento e investimento são aspectos importantes para entender esse cenário”, reflete Fabíola.

A antropóloga explica que faz parte mostrar que fez cirurgia, que tem poder de consumo, que pode pagar pela cirurgia, por todo o pacote de bens que conseguiu consumir. “Faz parte do processo de consumo poder publicizar que se fez o procedimento – é um investimento e que se quer chegar ao resultado”, completa.

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