Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Thaís Guimarães. Para acessar, clique aqui.
O Nujoc Checagem recebeu, por meio do aplicativo Eu Fiscalizo, a sugestão de averiguação de notícia relacionada ao estudo divulgado pelo Governo Federal no último dia 19 de outubro, onde o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, apresentou uma pesquisa coordenada pela pasta que aponta o vermífugo nitazoxanida como eficaz no tratamento precoce de pacientes com covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.
Em cerimônia no Palácio do Planalto na presença do presidente Jair Bolsonaro, Marcos Pontes afirmou que testes clínicos com voluntários mostraram que o medicamento reduziu a carga viral quando foi ingerido em até três dias após o início dos sintomas da doença.
A grande questão é que o ministro, na ocasião em que apresentou tais informações, não revelou maiores detalhes do estudo, tampouco divulgou o resultado na íntegra. Durante a cerimônia, foi apresentado um vídeo que exibe um gráfico sem dados.
Além de não ter sido divulgada com detalhes pelo Governo Federal, a pesquisa ainda não foi publicada em qualquer periódico científico, como mostra o Sistema Covid-NMA, que reúne projetos de pesquisa relacionados à covid-19. No site do Sistema Covid-NMA ainda não há menção à pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Uma reportagem da BBC, intitulada “Annita contra coronavírus: o que se sabe sobre vermífugo nitazoxanida, defendido pelo ministro da Ciência para tratamento de covid-19”, reuniu alguns estudos que divergem quanto à eficácia da nitazoxanida.
O primeiro é um artigo publicado por cientistas egípcios no Journal of Genetic Engineering & Biotechnology, indicando que a nitazoxanida seria uma boa candidata para ensaios clínicos por ter mostrado, em algumas pesquisas in vitro, ação eficaz contra o coronavírus.
O outro estudo apresentado pela BBC foi publicado por pesquisadores brasileiros, que afasta a possibilidade de eficácia do medicamento no tratamento da covid-19.
A nitazoxanida circula no Brasil com os nomes comerciais Azox e Annita, e integra o grupo dos antiparasitários e vermífugos. Em abril deste ano, a substância passou a ser comercializada somente com receita médica, para evitar a automedicação, contudo, em decisão do dia 01 de setembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) retirou a exigência de prescrição médica.
Diante disso, concluímos que, de fato, o Governo Federal bancou uma pesquisa para comprovar a eficácia da nitazoxanida no tratamento de pacientes com covid-19, no entanto, o fato de o resultado não ter sido divulgado com detalhes, nem tampouco publicado, sinaliza que ainda é preciso ter cautela ao divulgar qualquer informação relacionada a esse tema.