Negacionismo ambiental acompanha a repercussão dos eventos climáticos extremos no Brasil

Publicado originalmente em *Desinformante por Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.

Este ano o debate público sobre o clima no Brasil ganhou grande repercussão, impulsionado, principalmente, por eventos extremos. Apesar disso, o tema foi atravessado por dinâmicas da desordem informacional, com discursos negacionistas e conspiracionistas. É o que apontou o projeto Mídia e Democracia,  da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI-FGV), a partir de monitoramentos realizados entre janeiro e setembro deste ano. Parlamentares são alguns dos principais atores que compartilharam desinformação climática.

De acordo com o projeto, frente às discussões em alta sobre mudanças climáticas, manifestações de surpresa e preocupação sobre a gravidade dos episódios disputaram espaço com comportamentos adversos, que buscaram negar o papel das atividades humanas nesse processo de crise ambiental, utilizando argumentos pseudocientíficos para isso.

No Telegram, por exemplo, o monitoramento identificou discursos negacionistas que afirmaram que as “narrativas sobre mudanças climáticas” não passavam de uma “agenda global” promovida por atores internacionais com intenções de manipulação política. Segundo os usuários, essas figuras visam criar um controle governamental em nível global e obter benefícios econômicos com o mercado de carbono.

Conforme mostra a pesquisa, o ecossistema desinformativo climático ocorre em dinâmica multiplataforma e é composto por diferentes atores, instituições e tipos de conteúdo. Depoimentos traduzidos de lideranças conservadoras internacionais são alguns dos conteúdos que são mesclados com textos e relatos audiovisuais e que são distribuídos em canais e grupos em diferentes plataformas. 

Manifestações de hostilidade e negatividade a atores e organizações que tratam do impacto negativo das atividades humanas no clima global também são frequentes. Em abril, uma outra pesquisa, dessa vez da Global Witness, também identificou discursos de ódio nas redes sociais voltados a cientistas do clima em todo o mundo.

desinformação climática e o ódio a ativistas e pesquisadores do clima, porém, não é um tema novo para as plataformas digitais, já que, nos últimos anos, algumas delas desenvolveram políticas destinadas a combater especificamente o problema. Em setembro, a coalizão Ação Climática contra Desinformação (CAAD, na sigla em inglês) chegou a avaliar a aplicação dos compromissos e ações no combate ao fenômeno.

Parlamentares propagam desinformação climática

Outro ponto levantado pelo Mídia e Democracia é a politização do debate climático e ambiental impulsionada e promovida por sites de veículos de comunicação tradicionais, hiperpartidários e ambientalistas. “Para além do debate mais geral sobre mudanças climáticas, algumas análises indicam que a discussão ambiental é recorrentemente politizada nas redes. Assim, esta politização é acionada por diferentes grupos políticos para atacar oponentes e para disseminar perspectivas favoráveis à sua própria agenda”, avalia o projeto.

O monitoramento também identificou que parlamentares brasileiros são figuras ativas no ecossistema desinformativo ambiental, utilizando seus perfis oficiais nas plataformas para contestar a existência das mudanças climáticas ou usá-las como instrumento de disputa partidária.

A oposição ao governo tem predominância no debate tanto no Facebook quanto no Instagram, tentando associar a presidência a uma agenda ambiental negativa a partir de dados que indicam aumento de desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Nessa semana, porém, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrou que houve queda na taxa de desmatamento na Amazônia entre agosto de 2022 e julho de 2023.

Já os posts de maior repercussão de parlamentares alinhados ao governo buscaram enfatizar, ao contrário, como o presidente estaria preocupado com desastres associados a mudanças climáticas. Nesse sentido, houve destaque para a ida de Lula ao litoral de São Paulo, nas inundações de fevereiro.

A pesquisa, disponível no site oficial do projeto, observou que, no geral, o debate parlamentar sobre mudanças climáticas também ocorre muito mais em um nível de disputa político-partidária do que propriamente em um nível propositivo e programático a respeito do tema em questão. “Essa disputa envolve, sobretudo, a atribuição de responsabilidades e de significados para a postura de atores envolvidos em cada caso”, avalia o Mídia e Democracia.

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