Múltiplas morbidades surgem, em média, dez anos antes entre pessoas em vulnerabilidade social

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Highlights

  • Ao comparar pobres e ricos, em média, a multimorbidade surge uma década antes na população mais vulnerável socioeconomicamente
  • O risco de agravamento da infecção pelo vírus SARS-CoV-2 é maior em pessoas com multimorbidade, tornando a carga para enfrentar a pandemia maior entre essas pessoas
  • O cuidado às pessoas com multimorbidade passa por uma atenção integral, humanizada, equitativa e longitudinal

Um estudo publicado na revista Nature Reviews Disease Primers na quinta (14) mostra como a multimorbidade, ou seja, presença de doenças concomitantes no mesmo indivíduo, é um problema de saúde pública mundial e tem relação com questões socioeconômicas. Pessoas menos privilegiadas socioeconomicamente apresentam, em média, multimorbidade dez anos antes, quando comparadas com a população mais privilegiada. A pesquisa internacional teve participação de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O trabalho traz as evidências na literatura sobre o tema, por meio de uma revisão bibliográfica do conhecimento, e organiza as informações como prevalência, epidemiologia e manejo desse fenômeno. “A multimorbidade está diretamente associada com determinantes de piora de qualidade de vida, como marcadores do envelhecimento, inflamação crônica, hábitos de vida (atividade física, dieta, tabagismo) e efeitos de remédios (como interações medicamentosas)”, afirma Bruno Pereira Nunes, professor da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coautor do estudo.

Além da relação com a vulnerabilidade socioeconômica, o artigo também demonstrou a urgência de mais produções científicas a respeito do assunto, o que influencia diretamente na reflexão sobre o tema e na elaboração de consensos de manejo para profissionais de saúde. De acordo com Nunes, os mecanismos que impactam a multimorbidade são amplos, complexos e demandam uma atenção especial dos tomadores de decisão, uma vez que a estrutura social, de distribuição de renda e de bens tem papel importante na forma como a saúde dos indivíduos e da sociedade é afetada.

Multimorbidade e a Covid-19

De acordo com a pesquisa, a pandemia de Covid-19 repercutiu nas questões de multimorbidade. Se, antes da crise sanitária, afirma o coautor, esses pacientes já enfrentavam desafios, após o curso da pandemia, essa situação parece ter se agravado, principalmente para pessoas que precisam consultar diferentes serviços e profissionais de saúde para lidar com suas doenças. “Os problemas de saúde podem ter se agravado e novas doenças podem ter surgido, como depressão e ansiedade, em razão da pandemia e sua condução pelos países”, analisa Nunes.

O pesquisador também afirma que o risco de agravamento da infecção pelo vírus SARS-CoV-2 é maior em pessoas com multimorbidade, tornando a carga para enfrentar a pandemia maior entre essas pessoas. Ainda, países que tiveram um enfrentamento ruim da Covid-19, como o Brasil, prolongaram a pandemia e suas consequências de forma desnecessária, causando mais desgaste para esses pacientes.

Pela urgência em se compreender melhor esse fenômeno e traçar estratégias mais efetivas de manejo, mais estudos são necessários, já que a falta de evidências sobre o assunto desafia toda a rede de cuidado, como profissionais, serviços e sistemas de saúde. “Vale lembrar que o cuidado às pessoas com multimorbidade passa por uma atenção integral, humanizada, equitativa e longitudinal, com foco na atenção primária à saúde na coordenação da rede de cuidados”. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Estratégia Saúde da Família são, na avaliação do pesquisador, capazes de fornecer a atenção para toda a população, “desde que tenham as condições adequadas para isso, incluindo financiamento e gestão de qualidade”, finaliza.

Compartilhe:

Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Share on linkedin
Share on telegram
Share on google

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Language »
Fonte
Contraste