Muito além das “fake news”: Brasil discute o letramento digital na 1.ª Semana de Educação Midiática

Publicado originalmente em Âncora dos Fatos. Para acessar, clique aqui.

Na segunda-feira, 23, aconteceu a abertura da 1.ª Semana Brasileira de Educação Midiática. O evento, inédito no país, acontece de 23 a 27 de Outubro, e é conduzido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). A iniciativa é inspirada na Global MIL Week (Media and Information Literacy Week), evento organizado anualmente pela UNESCO.

A Semana faz parte do projeto de formulação da Estratégia Brasileira de Educação Midiática (EBEM)um compromisso do Governo Federal para consolidar o campo da Educação Midiática como política pública de Estado, reconhecendo que o exercício da cidadania passa pela construção de um ambiente digital mais seguro e confiável.

Mas, o que o ambiente digital tem a ver com a Educação Midiática? Para responder a pergunta é importante entender antes de mais nada, que a Educação Midiática busca desenvolver um conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos.

Na prática

A diretora executiva do Instituto palavra Aberta, Patrícia Blanco, explica que a Educação Midiática não tem prazo, mas que deve ser constante. “Eu espero que a gente consiga daqui a 20 anos ter uma sociedade midiaticamente educada porque se a educação não é uma solução para todos os problemas, ela é a solução de muitos deles. Através da educação a gente tem a equidade, o respeito às diferenças e a Educação Midiática nesse processo do aprendizado para a vida, traz justamente essa possibilidade de entenderemos as diferenças e como é viver em uma sociedade democrática, onde todos nós somos cidadãos responsáveis, éticos”, destaca.

“Sabemos da dificuldade que é hoje nesse universo saber localizar o que é um discurso de ódio, um discurso desinformativo e uma informação de qualidade. E o Palavra Aberta vem desde 2010 para lutar contra esse universo desinformativo”, destaca, ao falar do Instituto.

Cristiane Parente, representante ABPEDUCOM, resumiu bem o conceito ao dizer que “essa educação (midiática) é para a vida toda”.

“A educação midiática tem uma nova roupagem, está em alta, mas infelizmente ela está em alta por conta de uma série de acontecimentos que nos fizeram perceber os danos da desinformação, da manipulação da informação, do cerceamento da liberdade de imprensa, do discurso de ódio e da ignorância política e a um fanatismo que eu nem diria religioso, eu diria quase seitoso. Educação midiática é Direitos Humanos”, ressaltou. “Qual a sociedade que a gente quer formar. Antes da mídia existe uma ética do viver”, pontuou Cristiane.

O que ela se refere nada mais é o que o Brasil vivenciou durante as eleições polarizadas e a pandemia da Covid-19. Nos últimos anos, a infodemia (excesso de informações) e a desinformação, também chamada popularmente como “fake news”, tomaram conta do universo digital. No Brasil, esse excesso de informações e na mesma ordem, das informações fraudulentas e ou enganosas, se consolidaram na internet com a pandemia da Covid-19.

Um levantamento da Agência de Checagem Aos Fatos indicou que, o ex-presidente Jair Bolsonaro repassou uma média de 6,9 declarações falsas ou distorcidas a cada dia em 2021. Um índice que chamou a atenção devido ao conteúdo dessas informações, que iam desde ao negacionismo à pandemia, como ao não estímulo pela vacinação e os cuidados devidos ao Coronavírus.

E essa desinformação trouxe consequências sérias à sociedade.

O G1, por exemplo, criou a série “Vítimas do Negacionismo”, em que mostra histórias de pessoas que morreram devido à propagação de notícias falsas. Elas não acreditaram nas vacinas, na importância das máscaras de proteção, nos cuidados necessários e na Ciência. Eles acreditaram em informações falsas, no negacionismo e nos discursos políticos.

Para além das “fake news” é que a Educação Midiática surge como um caminho para evitar consequências negativas da falta do letramento digital. Com ela, diferentes grupos desenvolvem habilidades desde a infância, de preferência, para obter o senso crítico e não cair nessas armadilhas. É aqui que ela predomina: consumir, criar e compartilhar conteúdos de maneira mais reflexiva e responsável.

Anita Stefani, do Ministério da Educação, diz que em um dos eixos transversais da educação infantil ao Ensino Médio está a educação digital.

“Educação midiática significa criar tecnologias digitais de maneira crítica, reflexiva e ética. E a educação nas escolas públicas têm um papel fundamental. Então a gente precisa enquanto Estado conseguir formar os nossos professores e gestores para utilizar a tecnologia de maneira positiva. Verificar de onde vem as informações, quais são os interesses por trás, quais métodos para verificar os tipos de informações. A escola tem um papel muito grande. É um ato de esperançar que nos faz mover. Então precisamos garantir que alunos, professores, gestores entendam a importância do tema e consigam transformar as competências digitais dos nossos estudantes”, analisou.

Gabriela Pereira, diretora das Redes Cordiais, explica que “infelizmente o discurso de ódio engaja muito. Então de olho nesse cenário e na tentativa de frear um pouco esse ambiente tóxico, é que o Redes Cordiais surgiu e encontrou influenciadores e criadores de conteúdos digitais para a gente conseguir falar com um maior público possível. Não tem como falar em educação midiática sem falar em diálogo”, completa.

Saiba mais sobre Educação Midiática

Confira a programação completa da Semana de Educação Midiática.

Conheça as Redes Cordiais:

Conheça o Instituto Palavra Aberta

Fotos: Reprodução Semana Educação Midiática / Secomvc

Compartilhe:

Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Share on linkedin
Share on telegram
Share on google
Language »
Fonte
Contraste