MPF questiona Google sobre campanha ostensiva contra PL 2630

Publicado originalmente em *Desinformante por Ana D’Angelo e Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.

O Ministério Público Federal enviou, esta noite (1/5) um ofício de urgência para o presidente do Google Brasil, Fábio José da Silva Coelho, para que preste informações, em dez dias, sobre as denúncias de que a plataforma estaria usando sua própria estrutura para fazer campanha ostensiva contra o PL 2630, que será votado amanhã (2/5) na Câmara dos Deputados, e que prevê a regulação das plataformas digitais, incluindo mais transparência sobre as ações das empresas com mais de 10 milhões de usuários.

O PL está sendo alvo de intensa pressão das big techs, que precisarão investir em estruturas de moderação de conteúdo, auditorias externas e prestação de contas sobre publicidade em suas redes, além de mecanismos mais eficientes para comunicação com os usuários e as autoridades locais. Levantamento realizado pelo NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) teria captado um direcionamento, nos resultados do buscador Google, quando se pesquisa termos sobre o tema do “PL 2630”, levando quem faz tal consulta, diretamente, para o link de um post do blog da própria Google, com inúmeras críticas ao projeto. O buscador também estaria privilegiando, conforme o NetLab, conteúdo de oposição ao projeto de lei. Segundo o levantamento, os links da oposição são os primeiros a aparecer na primeira página do buscador, não como propaganda, mas como um suposto resultado de busca orgânica.

Na tarde desta segunda, dia 1, o Google incorporou na sua página inicial de pesquisa no Brasil um link com o título “O PL das fake news pode piorar sua Internet”, direcionando para uma nota no site oficial da empresa. No texto, a big tech critica o projeto de lei, faz ameaças à sociedade brasileira, como “a internet vai piorar” ou a “desinformação vai aumentar” e ainda instiga o usuário, oferecendo um link direto para a Câmara dos Deputados, para que pressione os deputados a votarem contra o texto.

Usuários também identificaram que o mecanismo de busca está privilegiando conteúdos críticos ao PL 2630 nos resultados oferecidos por palavras-chaves relacionadas ao projeto de lei. Leandro Demori foi um dos que testaram a busca ainda na segunda-feira. “O Google diz que não escolhe o que aparece nos resultados de seu buscar. Garante que ele é “orgânico” e que não há manipulação. Isso é falso e eles estão usando TUDO pra destruir a regulação da internet no Brasil”, trouxe o jornalista independente em seu perfil no Twitter.

Quem também criticou a iniciativa da empresa foi o deputado Orlando Silva, relator do PL. Para Silva, o Google está fazendo um “jogo sujo” em uma “campanha sórdida e desesperada para impedir a votação do PL 2630. Querem continuar lucrando [com] a morte”.

Até mesmo quem buscou impulsionar campanhas pagas a favor da regulação das plataformas sofreu consequências da empresa. Na noite desta segunda, o Sleeping Giants denunciou que teve publicidade sobre o PL 2630 bloqueada pela gigante norte-americana. De acordo com a mensagem, o anúncio foi reprovado por ter conteúdo relacionado a “eventos sensíveis”.

No spaces realizado pelo próprio Sleeping Giants em parceria com a Eko e o Camarote da República, no Twitter, o humorista Gregório Duvivier comentou sobre as investidas das empresas de tecnologia na busca de enviesar o debate online sobre o tema da regulação de plataformas.

“O que geralmente atribuiu às ditaduras, que você não pode falar o que pensa, já é realidade nas big tech. A produção de informação já é enviesada. Quem controla a informação são eles, milionários do Vale do Silício, são eles que determinam o que pode e o que não pode ser dito”, disse Gregório.

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