Militares brasileiros coordenavam rede de desinformação ambiental

Publicado originalmente em Fakebook.eco. Para acessar, clique aqui.

Facebook derruba dezenas de páginas falsas gerenciadas por dupla de militares que enalteciam o trabalho do governo e tentavam deslegitimar ONGs

A Meta, empresa controladora do Facebook e Instagram, anunciou nesta quinta-feira (7) que derrubou uma série de perfis falsos coordenados por dois militares brasileiros que divulgavam notícias falsas ambientais. Entre o conteúdo removido estavam postagens que enalteciam o trabalho do governo Bolsonaro na proteção do meio ambiente, mensagens que deslegitimavam o trabalho de organizações não-governamentais e trechos de um filme negacionista lançado em 2021 pela produtora de extrema-direita Brasil Paralelo. A empresa não divulgou o nome dos autores das contas falsas.

Em comunicado, a Meta informou que foram removidos 14 perfis e 9 páginas no Facebook, além de 39 contas no Instagram que apresentavam “comportamento inautêntico coordenado”. O conteúdo foi posteriormente investigado pela agência Graphika, que produziu um relatório detalhando a atuação dos dois brasileiros que estavam “servindo ativamente no Exército em dezembro de 2021, de acordo com registros do governo brasileiro de pagamentos de funcionários federais”.

De acordo com o documento, as primeiras páginas falsas foram criadas em 2020, mas, como não houve engajamento, foram abandonadas. Em maio de 2021, a dupla voltou a produzir conteúdo falso nas redes, desta vez conseguindo um alcance um pouco maior (cerca de 25 mil seguidores em uma das contas do Instagram), ainda que inferior a outros perfis falsos já identificados pela plataforma.

Uma das páginas falsas que teve mais alcance foi a NaturAmazon, suposta organização ambiental que afirmou ser “um grupo independente que busca aumentar a conscientização sobre a importância de preservação”. Na página, que continha endereço e contato falsos, foram feitas postagens quase diárias entre maio e setembro de 2021 com uma narrativa centrada na necessidade de proteger a floresta tropical e com elogios aos “esforços do governo para combater o desmatamento”.

Postagens afirmavam que o Brasil é líder global na proteção do meio ambiente e que o Exército brasileiro teria sido bem-sucedido no combate ao desmatamento na Amazônia. Dados mostram que o governo Bolsonaro registrou, até 2021, a maior taxa de devastação na Amazônia em 15 anos, além de uma queda histórica de multas aplicadas pelo Ibama. Além disso, o Fakebook.eco mostrou em agosto do ano passado o fracasso da operação militar na Amazônia, comprovando que, nos 26 municípios da Amazônia em que os militares atuaram, as taxas de desmatamento ficaram praticamente no mesmo patamar das de 2020.

Outro perfil destacado no relatório da Graphika foi o Fiscal das ONGs, que se descrevia como um “serviço ambiental” que compartilharia “a verdade que ninguém fala sobre ONGs no Brasil”. O relatório mostrou que essa conta buscava minar a credibilidade de ONGs que atuam na Amazônia, com diversos conteúdos falsos relativos às organizações Imazon, Instituto Socioambiental, Greenpeace e WWF. As contas acusaram altos executivos da ONGs de desvio de dinheiro arrecadado para ajudar povos indígenas na Amazônia e de manipular dados sobre tendências de desmatamento para servir a interesses estrangeiros e “promover a desinformação no país”. O documento apontou, ainda, que essa conta tinha um engajamento significativo com uma audiência de perfil conservador, como políticos da extrema-direita.

Em comunicado, a Graphika afirmou que identificar esses perfis é particularmente importante no Brasil, “que tem um histórico de atores politicamente motivados e engajados em comportamentos online coordenados e prejudiciais, e que deve realizar uma eleição presidencial em outubro deste ano. A polícia já havia acusado aliados de Bolsonaro de orquestrar uma ampla campanha de assédio online para atingir os críticos do presidente, partes das quais a Meta removeu em julho de 2020. Os perfis identificados recentemente não visavam a próxima eleição, mas ilustram a gama de atores que tentam manipular o cenário político polarizado e frágil do Brasil”, concluiu a empresa. (JAQUELINE SORDI)

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