“Meta, Google, X e TikTok estão lucrando com a destruição da democracia”, denuncia Coalizão Global pela Justiça Tecnológica

Publicado originalmente em *Desinformante por Ana D’ângelo. Para acessar, clique aqui.

No momento em que as plataformas de mídia social aprovam e veiculam anúncios contendo desinformação e discurso de ódio contra os muçulmanos antes das eleições na Índia, marcadas para o final desta semana, mais de 200 líderes e grupos da sociedade civil por trás da Global Coalition for Tech Justice (Coalizão Global pela Justiça Tecnológica) estão apelando à Meta, Google, X e TikTok, em carta aberta, para que protejam as pessoas e as eleições nos países do Sul Global.

“Os gigantes da tecnologia preferem lucrar com a destruição da democracia, em vez de garantir que os cidadãos do mundo todo tomem decisões informadas e estejam protegidos da violência online e offline”, afirmou Mona Shtaya, coordenadora da Coalizão.

“A democracia requer debates vibrantes sobre questões sociais. As plataformas de mídia social são espaços hiperpolarizados que promovem ‘câmaras de eco’ e obscurecem questões sociais por meio de desinformação e ódio. Estamos vendo como informações falsas, islamofobia e partidarismo estão alimentando campanhas de mídia social enquanto as plataformas lucram e se beneficiam disso”, afirmou Ritumbra Manuvie, diretora fundadora da Foundation the London Story, membro da Coalizão.

“As empresas de mídia social estão permitindo que suas plataformas sejam sequestradas por maus atores – protegendo assim suas margens de lucro e não os eleitores ao redor do mundo. Vimos como grupos de extrema-direita do Brasil à Índia conseguem explorar as plataformas de mídia social para inundar os eleitores com desinformação, narrativas que dividem e discurso de ódio nos momentos-chave das eleições”, acrescentou Maen Hammad, diretor de Campanha da Ekõ, também membro da Coalizão.

Redes sociais falharam no Paquistão, Taiwan e Indonésia

Esta não é a primeira vez que as empresas de tecnologia falharam em proteger a integridade eleitoral em 2024, considerado o mais importante ano eleitoral global, com mais de 2 bilhões de pessoas prontas para votar em mais de 65 eleições em todo o mundo. Os chefes de tecnologia já priorizaram os lucros em detrimento das pessoas e da democracia nas eleições deste ano em TaiwanIndonésia, Bangladesh e Paquistão.

Em Taiwan, as empresas de tecnologia permitiram interferência chinesa e algoritmos tóxicos para minar a integridade democrática e poluir o espaço de informação das pessoas. Na Indonésia, o conteúdo gerado por IA disseminado nas plataformas de tecnologia ajudou um suposto violador de direitos humanos a se tornar presidente. Bangladesh viu um aumento no discurso que incita o ódio e a desumanização nas mídias sociais contra candidatos transexuais e transexuais em geral. Enquanto no Paquistão, jornalistas e políticos mulheres foram alvo de uma campanha de mídia social odiosa pós-eleições.

“2024 não é um exercício. As plataformas de tecnologia devem fazer melhor para proteger nossos espaços cívicos online e sistemas democráticos. Pedimos às plataformas de tecnologia que apliquem todas as medidas necessárias para salvaguardar as eleições de forma equitativa em todo o mundo”, diz a carta aberta da Coalizão, assinada por 215 grupos da sociedade civil, incluindo o *desinformante e o Aláfia Lab.

A carta é endereçada à Meta, YouTube, X e TikTok. “Apesar do nosso engajamento e de muitos outros, as empresas de tecnologia falharam em implementar medidas adequadas para proteger as pessoas e os processos democráticos dos danos tecnológicos que incluem desinformação, discurso de ódio e campanhas que arruínam vidas e minam a integridade democrática. De fato, as plataformas de tecnologia aparentemente reduziram seus investimentos em segurança e restringiram o acesso a dados, mesmo enquanto continuam a lucrar com anúncios cheios de ódio e desinformação”, ressalta o documento.

Desde 2023, a Global Coalition vem dialogando com as plataformas, instando as empresas a investirem de forma equitativa na segurança ao redor do mundo e a adotarem e publicarem planos de eleições específicos por país. No entanto, os planos de eleição das plataformas para países de maioria global são ou inexistentes ou inadequados.

Quase 90% dos cidadãos de 16 países, incluindo Índia, África do Sul e Indonésia, acreditam que a desinformação online já teve impactos significativos na vida política de seus países, segundo um relatório recente da Unesco sobre desinformação eleitoral. O mesmo percentual estava preocupado com o impacto da desinformação nas eleições futuras, com 91% acreditando que as empresas de tecnologia devem desempenhar um “papel ativo” no combate à desinformação e ao discurso de ódio durante as eleições.

África do Sul vai às urnas em 29 de maio. Grupos de direitos humanos têm levantado alarmes sobre as falhas das empresas de tecnologia em conter o fluxo de desinformação e discurso de ódio em suas plataformas.

O Centro de Recursos Legais da África do Sul e a organização Global Witness conduziram duas investigações para identificar discurso de ódio online e incitação à violência direcionados à comunidade de migrantes e jornalistas mulheres na África do Sul. Ambas as investigações constataram que as medidas tomadas pelas empresas digitais para enfrentar os riscos de influência política, discurso de ódio e incitação à violência por meio de suas plataformas têm sido em grande parte ineficazes.

“Como uma das democracias mais novas, a África do Sul irá às urnas em 29 de maio de 2024; a sétima eleição geral é prevista para ser uma das mais acirradas e polarizadas desde o início de sua democracia. A África do Sul não tem sido imune ao aumento das tensões raciais e étnicas, crescentes movimentos antidireitos que buscam atacar defensores dos direitos humanos e jornalistas”, disse Sherylle Dass, diretora Regional do Centro de Recursos Legais da África do Sul, membro da Coalizão. “Os sul-africanos merecem ser protegidos contra as práticas comerciais prejudiciais das corporações de tecnologia, lutamos muito e perdemos muito para que nossa democracia incipiente seja desfeita pela ganância corporativa.”

Quem é a Coalizão Global pela Justiça Tecnológica

A carta aberta da sociedade civil para Meta, Google/YouTube, X e TikTok pode ser acessada aqui. A Coalizão Global pela Justiça Tecnológica reúne mais de 200 membros de mais de 55 países da África, Oriente Médio, América Latina, Ásia, Europa e América do Norte, incluindo organizações da sociedade civil, defensores dos direitos humanos, pesquisadores e outros especialistas.

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