Publicado originalmente em OBCOMP por Maria Helena Weber. Para acessar, clique aqui.
Comemorar cinco anos de atividades ininterruptas do OBCOMP é um inesperado e maravilhoso feito, se considerarmos o investimento político que vem sendo feito para desqualificar a comunicação pública e as instituições públicas. Mas esse é o momento de agradecer e de celebrar, com textos e brindes digitais, a criação do Observatório que transformou a sala 208 do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFRGS num espaço privilegiado de discussão e produção de notícias e atividades vinculadas a temas polêmicos e de interesse público, com o apoio institucional, financeiro e técnico da Universidade. Um grande feito acadêmico e político, na medida em que o OBCOMP é também uma instância de comunicação entre a universidade e a sociedade.
O OBCOMP tem resistido a intempéries institucionais e financeiras, com o investimento pessoal e dedicação de mestrandos, doutorados, alunos de iniciação científica e os egressos do Núcleo de Comunicação Pública e Política que, periodicamente, ali se revezam enquanto produzem suas pesquisas.
O acordo tácito é firmado pelo tema da pesquisa que sempre e de algum modo está relacionado à comunicação pública e política. Sempre há um grupo de pessoas empenhadas na manutenção e defesa do conceito “comunicação pública”, através das informações e práticas exercidas em torno do OBCOMP. Porque estamos atentos aos movimentos, qualidades, artimanhas e silenciamentos do poder das instituições públicas; identificamos os aspectos privados que contrariam os princípios republicanos da comunicação pública; acreditamos no debate público como suporte das democracias. Por isso estamos atentos a ações, discursos, notícias, propaganda e à comunicação governamental quando esta se justifica, indevidamente, em nome do “interesse público”.
Quem mantém vivo o OBCOMP acredita e defende princípios e direitos de igualdade, de liberdade de expressão. Acreditamos e defendemos, principalmente, a educação como a única instituição capaz de dar autonomia a brasileiras e brasileiros, na construção de um país melhor e mais igualitário. Acreditamos, sobretudo, no debate público entre Estado e sociedade, que valorize as instâncias de representação e as demandas sociais. Acreditamos e defendemos a responsabilidade da Universidade em compartilhar saberes, abrir suas portas ao debate e, assim, realizar a Comunicação Pública.
O OBCOMP é a demonstração de como as universidades – especialmente as públicas – devem se comunicar, realizar a comunicação pública ao fazer a divulgação da sua produção científica, abrir suas portas para debater temas de relevância para a sociedade. Somente na universidade é possível expor e debater temas complexos e polêmicos como religião, política, aborto, racismo, loucura, fake news, e, atualmente, a pandemia nas dimensões sanitárias, psíquicas e pedagógicas. Os temas de comunicação pública são instigantes porquanto identificáveis nos acontecimentos públicos (tragédias como o incêndio da boate Kiss ou os rompimentos das barragens nas cidades de Brumadinho e Mariana), nas mídias de comunicação massiva, nas abordagens sobre a democracia digital, nas eleições, propaganda, manifestações, greves, no jornalismo, nas empresas públicas de comunicação e tantos outros temas capazes de tensionar as relações e a comunicação entre o Estado e a sociedade. Há espaço no OBCOMP para análises e opiniões sobre ações, discursos e acontecimentos que são publicados e não precisam obedecer ao rigor científico de um artigo.
Como afirma Ana Javes Luz (OBCOMP, 2020), “ao Observatório da Comunicação Pública, como espaço de reflexão acadêmica e de registro dos acontecimentos da sociedade, da mídia e do Estado que envolvam o tema da Comunicação Pública, cabe jogar luzes sobre os deveres de cada integrante dessa tríade. Somente compromissados com a transparência pública e com o interesse público teremos uma comunicação verdadeiramente democrática”.
O OBCOMP é o resultado do investimento na ciência. Há cinco anos, iniciou timidamente com a verba obtida em edital do CNPq e se fortaleceu com o investimento técnico da UFRGS e sua vinculação com temas de pesquisa e o trabalho voluntário dos alunos vinculados ao NUCOP. Ao terminar o ciclo de mestrado e doutorado, por exemplo, muitos alunos mantém suas atividades junto ao Observatório por algum tempo. A vitalidade do OBCOMP depende do trabalho contínuo de doutorandos e mestrandos, que ingressam no PPGCOM e se vinculam ao NUCOP. Esse trabalho, sob a coordenação de Ana Javes Luz, atualmente é desenvolvido por Fiorenza Carnielli, Gabrielle Tolotti, Josiel Rodrigues, Laura Guerra, Muriel Felten e Patrícia Augsten. Continuamente, o grupo perscruta ações políticas e governamentais que geram notícias (410 disponíveis até o momento), captura, insere e disponibiliza a produção científica sobre os temas comunicação pública, comunicação política, comunicação de estado e governamental democracia digital, deliberação, mídias, comunicação governamental, informação, política e opinião pública, mobilização social, jornalismo e interesse público, mídias e internet. Estão disponíveis ainda indicações de 292 livros, 411 artigos científicos, 240 teses e dissertações e 126 referências de periódicos, com indicação de Qualis/Capes e 48 textos opinativos. O repositório abriga também informações sobre 26 grupos de pesquisa, 13 observatórios, 21 associações e federações referenciadas e indicação de mídias públicas ligadas aos poderes executivos, legislativos e judiciários brasileiros, assim como indicações sobre a legislação referente ao direito à Comunicação e à radiodifusão pública brasileira. O OBCOMP mantém a memória de 190 eventos acadêmicos divulgados e de 98 campanhas publicitárias, em permanente atualização, sobre temas de interesse público.
Com o objetivo de manter o debate sobre a comunicação política e a comunicação pública, o OBCOMP promove as chamadas aulas públicas, abordando temas atuais com a participação de especialistas e acadêmicos. Cabe ressaltar algumas que estão disponíveis em nosso site: Comunicação pública, poder da mídia e tensões sociais, por Vera França – UFMG , no lançamento do OBCOMP, em 27/8/2015 e Media Bias – por que o jornalismo me parece sempre tão partidário e distorce tanto contra o meu lado? por Wilson Gomes – UFBA. Atualmente, seis entrevistas exclusivas realizadas pelos nossos integrantes estão disponíveis em nosso repositório: João Pissarra Esteves (ULP) sobre A comunicação pública como espaço de observação; Manuel Castells sobre Ruptura, título de sua obra mais recente lançada no Brasil; Jamil Marques (UFPR) sobre Dimensões e impactos da internet na vida democrática; Kelly Prudêncio (UFPR) sobre Visibilidade e discutibilidade nas redes sociais; Pedro Luiz S. Osório (Unisinos) sobre Radiodifusão pública e a Fundação Piratini (RS);Felipe Milanez sobre jornalismo e a violência contra os índios no Brasil.
Há muito investimento pessoal e muito trabalho para que o OBCOMP cumpra sua função como mídia de interesse público. A nossa motivação está na crença de que produzir teses, dissertações e artigos sobre comunicação política é insuficiente se não defendermos a democracia e a comunicação pública como indicador da sua qualidade. Entendemos que o conhecimento gerado em uma universidade pública deve ser compartilhado e debatido. Por isso tudo, estamos de parabéns!
Porto Alegre, 27 de agosto de 2020
Maria Helena Weber
Coordenadora Geral do Observatório da Comunicação Pública