Maioria não usa IA com frequência nem fica confortável com notícias feitas pela tecnologia, revela estudo

Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.

Apesar de metade da população conhecer o ChatGPT, uma porcentagem muito pequena usa a ferramenta com frequência e a maioria dos usuários são jovens de 16 a 24 anos – nessa faixa etária, 56% já utilizaram o bot, contra 16% da faixa etária +55. É o que indica a pesquisa do Instituto Reuters sobre os usos da IA generativa em seis países (Argentina, Dinamarca, França, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) que também investigou as impressões sobre a IA na produção e consumo de notícias.

O uso do ChatGPT é maior entre jovens, Fonte: Reuters Institute

De acordo com a pesquisa, a IA generativa é mais utilizada pelo público em geral para criação de mídia (28%) do que para o consumo de informações (24%), categoria que inclui desde traduções a geração de ideias, resumo de textos e recomendações. Dentro desse contexto também foi questionado o uso da IA para responder questões factuais – 11% disseram fazer esse uso – e para consumir as últimas notícias, em que 5% dos entrevistados afirmaram utilizar para esse fim.

Proporção dos usos da IA generativa por tarefas. Fonte: Instituto Reuters

“Uma razão para isso é que a versão gratuita do produto de IA generativa mais utilizado – ChatGPT – ainda não está conectada à web, o que significa que não pode ser usada para obter as últimas notícias. Além disso, a nossa investigação anterior mostrou que cerca de metade dos websites de notícias mais utilizados estão bloqueando o ChatGPT e, como resultado, a ferramenta raramente é capaz de fornecer as últimas notícias de meios de comunicação específicos”, explica o relatório.

A pesquisa também mostra uma discrepância entre os países. Enquanto no Reino Unido e na Dinamarca apenas 2% dos entrevistados disseram usar IA para notícias, nos Estados Unidos essa taxa foi 5 vezes maior, 10%. De acordo com os autores, isso se deve em parte ao teste que o Google vem fazendo no país para integrar textos gerados por IA ao sistema de busca da plataforma – uma ferramenta que está disponível para alguns usuários no Brasil e vem causando polêmicas

Além do uso, a pesquisa buscou entender quais são as expectativas do público em relação ao impacto que a IA ​​generativa pode causar em diversos setores, especialmente no jornalismo. Em relação às plataformas digitais, cerca de três quartos (72%) dos entrevistados acham que a IA generativa terá um grande impacto, já dois terços (66%) acreditam que a tecnologia promoverá um grande impacto na mídia de notícias e o mesmo número pensa o mesmo sobre o trabalho dos cientistas. Cerca de metade acha que a IA generativa causará impactos significativos nos governos nacionais (53%) e nos políticos e partidos políticos (51%) e menos da metade (48%) avalia impactos em pessoas comuns.

Outro dado relevante trazido na pesquisa aborda a impressão dos entrevistados em relação ao uso responsável da inteligência artificial generativa. Dos 12 setores consultados, as organizações de notícias ficaram em 9º no nível de confiança para um uso seguro da tecnologia. 30% dos entrevistados da Argentina e dos Estados Unidos acreditam que o jornalismo fará um uso responsável, enquanto 12% dos entrevistados do Reino Unido pensam isso. Profissionais de saúde e cientistas tiveram mais credibilidade por parte dos entrevistados.

Pessoas não acreditam que a IA vai melhorar o jornalismo 

A relação IA-jornalismo também foi abordada na expectativa dos entrevistados se a tecnologia vai melhorar ou não o serviço oferecido. Nesse quesito, o pessimismo é maior: o jornalismo possui um saldo negativo de 8, enquanto a pesquisa científica, por exemplo, ostenta um saldo positivo de 44. 

“Mas há muita variação nacional. Em países que são mais otimistas sobre os potenciais efeitos da IA generativa, como Argentina (+19) e Japão (+8), a proporção de pessoas que acham que isso melhorará as notícias e o jornalismo é maior do que a proporção que acha que piorará. O público do Reino Unido é particularmente negativo sobre o efeito da IA generativa no jornalismo, com uma pontuação líquida de -35”, diz a pesquisa, mostrando as nuances entre os países pesquisados.

Outro questionamento feito aos entrevistados tratou do efetivo uso de IA pelos jornalistas. Grande parte acha que os jornalistas estão atualmente usando IA generativa a tecnologia para completar algumas tarefas, com 43% pensando que eles sempre ou frequentemente a usam para editar ortografia e gramática, também 43% para traduzir conteúdos, 38% para produzir infográficos e 29% para escrever manchetes. No entanto, os pesquisadores alertam que os resultados também podem revelar um certo grau de cinismo sobre o jornalismo por parte do público. 

“O fato de que cerca de um quarto acredita que os jornalistas sempre ou frequentemente usam IA para criar uma imagem quando uma fotografia real não está disponível (28%) e 17% acham que eles criam um apresentador ou autor artificial pode dizer mais sobre suas atitudes em relação ao jornalismo como instituição do que sobre como eles pensam que a IA generativa está realmente sendo usada. Por mais indesejáveis que possam ser – e por mais errados que estejam sobre quantos meios de comunicação usam IA – essas percepções são uma realidade social, moldando como partes do público pensam sobre a interseção entre jornalismo e IA”, analisam os autores.

A pesquisa também revela que o público não se sente confortável com uma notícia feita inteiramente por inteligência artificial. 58% dos entrevistados disseram se sentir confortáveis com uma notícia feita por humanos, 41% com uma notícia feita principalmente por um jornalista humano com alguma ajuda da IA, 21% com uma matéria produzida principalmente por IA com alguma supervisão humana e apenas 14% com uma notícia feita inteiramente pela inteligência artificial.

O estudo indica que há mais “conforto” no uso de IA na produção de notícias quando se trata de temas considerados mais leves como moda (+7 pontos percentuais de diferença entre confortável e desconfortável) e esportes (+5) do que com tópicos de notícias ‘duras’, incluindo assuntos internacionais (-21) e, especialmente, política (-33). Além disso, há mais aceitação para o uso em tarefas nos bastidores, incluindo edição de ortografia e gramática (+38), tradução (+35) e criação de gráficos (+28), e um desconforto generalizado com conteúdo sintético disponível (-13) e apresentadores e autores artificiais (-24).

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