Maioria das referências da Wikipedia são estrangeiras e ignoram mídias negra e indígena

Publicado originalmente em *Desinformante. Para acessar, clique aqui.

Pesquisa do InternetLab analisou como o conteúdo produzido por mídias negras, indígenas e periféricas/territoriais no Brasil é utilizado na Wikipédia Lusófona, que é a maior enciclopédia online gratuita e um dos sites mais acessados no mundo. No levantamento dos 100 principais links referenciados na Wikipédia, foram identificadas as fontes de conhecimento que são mais citadas como referências para as informações na plataforma. Entre essas 100 fontes, 76 eram estrangeiras, e apenas 24 eram nacionais, com nenhuma delas pertencendo a mídias negras, indígenas e periféricas/territoriais. 

Em seguida, a pesquisa se concentrou na análise das 50 principais fontes de mídia nacionais, excluindo qualquer influência externa ao país. As primeiras posições foram ocupadas pelos conglomerados de mídia do Brasil. A Rede Globo, que ocupou a segunda posição no top 100, liderou o top 50, seguida pelo UOL, domínio edu.br (associado a instituições de ensino superior), Terra, Abril e Estadão. No top nacional, sites governamentais e universidades do sudeste também ocupam altas posições.

Em seguida, o estudo se voltou para analisar as mídias que eram foco inicial, já que, a partir de levantamentos gerais, elas não foram citadas. Apesar da subcategoria “povos indígenas do Brasil” ter 789 artigos relacionados, nenhuma das mídias indígenas listadas pela pesquisa foram referenciadas pela Wikipedia. Apenas a agência de jornalismo Amazônia Real, que apesar de não se apresentar como uma mídia indígena tem como lema dar visibilidade às populações e questões da Amazônia – por isso categorizada como territorial -, foi citada em 116 artigos, mostrando assim que grande parte dos artigos relacionados diretamente à população indígena não cita fontes protagonizadas por essa população. 

Da lista de mídias negras e periféricas, o portal Geledés foi o mais referenciado, com um total de 377 menções no levantamento. Analisando o conteúdo através do qual a pessoa chegava ao Geledés, a pesquisa concluiu que era um conteúdo estereotipado e vinculado também à violência.

Os pesquisadores concluíram que mesmo no espaço online, as narrativas parecem ser predominantemente moldadas por mídias brancas e hegemônicas. Isso ressalta que o lugar ocupado por mídias independentes, notadamente as de origem negra, indígena e periférica, ainda é limitado e, muitas vezes restrito a abordagens simplistas e estereotipadas, centrando-se excessivamente em questões relacionadas à raça e à violência.

O estudo traz recomendações à comunidade que constrói a Wikipedia:

  1. Em primeiro lugar, é fundamental reconhecer o papel vital das mídias negras, indígenas e periféricas/territoriais como guardiãs e disseminadoras do conhecimento dessas populações. O chamado à ação nos leva ao reconhecimento de que podemos e devemos trabalhar juntas(os) para fortalecer suas vozes, garantindo que sejam ouvidas não apenas quando se trata de temas relacionados à sua identidade racial ou à violência que enfrentam, mas também em uma gama diversificada de tópicos, da cultura à ciência.
  2. É  crucial repensar como as referências são construídas na Wikipédia e em outras plataformas de conhecimento livre. Podemos buscar maneiras inovadoras de destacar fontes provenientes de mídias negras, indígenas e periféricas, valorizando assim suas contribuições em uma variedade de contextos. Esse esforço não apenas enriquecerá a diversidade do conhecimento disponível online, mas também promoverá uma compreensão mais rica das culturas e das experiências dessas comunidades.

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