Publicado originalmente em Observatório de Comunicação Pública – OBCOMP. Para acessar, clique aqui.
A comunicação política, que historicamente constitui o fundamento da democracia nos países ocidentais, tornou-se um fator de desestabilização e ameaça à própria democracia, produzindo um paradoxo que caracteriza a crise contemporânea. Essa foi a ideia central da conferência do professor João Pissarra Esteves nesta segunda-feira (21), na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Fabico/UFRGS), em Porto Alegre.
A palestra “Crises entre democracia, política e a comunicação pública” foi a primeira de uma série de atividades com o professor no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM/UFRGS). Veja aqui a programação completa.
Pesquisador da Universidade Nova de Lisboa, Esteves fez um resgate dos conceitos de comunicação política e de crise. “É um exercício difícil, mas eu procuro resgatar um sentido substancial para a ideia de crise, associada à comunicação pública. É uma crise séria de comunicação política [que o mundo vive atualmente], em que a própria comunicação política deixou de ser um tema atraente nas pesquisas”, ressaltou.
Para Esteves, os problemas mais sérios que as democracias atravessam no século XXI são problemas relacionados à comunicação política, que sempre foi fundamental para o projeto democrático. Nesse sentido, a crise contemporânea da democracia não seria trivial, mas teria um caráter mais grave e profundo.
“O que quero dizer é que a crise que hoje afeta as democracias tem uma gravidade superior a das crises que as democracias sempre tiveram ao longo dos últimos anos. Há uma mudança de nível, de gravidade dos problemas”, enfatizou. Segundo ele, a inicial euforia com o potencial democratizante das novas mídias cedeu lugar à distopia, na medida em que os velhos problemas relacionados às mídias tradicionais se mantiveram, e outros problemas – como as fake news e o poder das big techs – emergiram como novas e importantes ameaças à democracia.
De acordo com o professor, os acadêmicos devem assumir sua parcela de responsabilidade na defesa da democracia, a fim de que ela não definhe. “O problema que temos de tratar é o problema de uma situação crítica, em um grande afastamento entre [os] planos [normativo e fático]. Ou seja, uma relação bastante tensional entre aquilo que é o dever ser e o ser da democracia e da comunicação”, afirmou.
Até o dia 28 de agosto, o professor promove o seminário “Comunicação Pública, Política e Democracia”, com alunos do PPGCOM/UFRGS. Durante o período em Porto Alegre, Esteves também participará de reuniões do Núcleo de Comunicação Pública (NUCOP) e do Observatório da Comunicação Pública (OBCOMP).
Foto: Beatriz Moro
Contribuições reconhecidas no campo de Comunicação e Política
A coordenadora do OBCOMP e do NUCOP, professora Maria Helena Weber, destacou o caráter especial da visita de Esteves ao Brasil. “Para o NUCOP, trata-se de receber o nosso mestre, que tem oferecido há muitos anos caminhos para a reflexão e a reformulação [de conceitos], pensando a Comunicação Pública e contribuindo até para nossa hipótese atual de indicador de qualidade da democracia”, enfatizou Weber.
João Pissarra Esteves é autor e organizador de obras fundamentais para o campo da comunicação social e política: Comunicação Política e Democracia (2019); Sociologia da Comunicação (2016); Comunicação e Sociedade: os efeitos sociais dos meios de comunicação de massa (2009); Comunicação e Identidades Sociais: diferença e reconhecimento em sociedades complexas e culturas pluralistas (2008); A Ética da Comunicação e os Media Modernos: legitimidade e poder nas sociedades complexas (2007); e Espaço Público e Democracia: comunicação, processos de sentido e identidades sociais (2003).
Para o coordenador do PPGCOM/UFRGS, professor Rudimar Baldissera, a presença do professor Esteves é uma generosidade. “Seus ensinamentos influem muito em nossas pesquisas, nas mais diferentes áreas e nos níveis de mestrado, doutorado e graduação. São inspirações para seguir adiante na tarefa de melhor compreender fenômenos sociais, culturais e políticos”, disse Baldissera. Acompanhe as fotos da palestra captadas por Beatriz Moro
Veja abaixo a palestra completa de João Pissarra Esteves