Publicado originalmente em Jornal da UFRGS. Para acessar, clique aqui.
Artigo | Ivan Pereira Quintana, graduando em Filosofia, reflete sobre o mundo digital a partir dos avanços ocorridos nas últimas décadas e de suas consequências
*Por: Ivan Pereira Quintana
*Ilustração: Ayla Dresch/Programa de Extensão Histórias e Práticas Artísticas, DAV-IA/UFRGS
No cenário digital contemporâneo, palavras como inteligência artificial, metaverso, pós- verdade, deepfakes e fake news não são apenas termos técnicos, mas ideias que moldam nosso mundo cotidiano. A inteligência artificial (IA), por exemplo, começou como uma ideia futurista, mas agora está presente em nossos smartphones, ajudando-nos a tirar fotos melhores e a encontrar rotas mais rápidas. O metaverso, um conceito que surgiu de escritores imaginativos, agora nos permite interagir virtualmente com amigos em todo o mundo.
Essas inovações, entretanto, não vêm sem desafios. Notícias falsas, vídeos manipulados e informações enganosas inundam nossas redes sociais, afetando como percebemos o mundo. Por que isso importa? Porque esses conceitos não se limitam aos especialistas em tecnologia; eles afetam todos nós. Impactam no modo como tomamos decisões, como confiamos em informações online e até mesmo como vemos a realidade. Compreender esses temas não apenas nos torna cidadãos digitais mais conscientes, mas também nos ajuda a proteger nossa privacidade, a discernir a verdade e a utilizar a tecnologia de forma ética. Em um mundo cada vez mais digital, essa compreensão é essencial para navegarmos com segurança e confiança pelo vasto oceano da informação online.
Vivemos uma revolução tecnológica e conceitos de inteligência artificial, metaverso, pós- verdade, deepfakes e fake news surgem como faróis para iluminar os caminhos e os desafios da Era Digital. A IA, um campo de estudo que começou nos laboratórios de pesquisa das universidades, agora é uma realidade global, permeando 77% dos dispositivos que usamos no dia a dia. Desde chatbots – softwares que matêm a conversa em tempo real por texto ou por voz -, que nos auxiliam com diagnósticos médicos precisos, a IA se tornou uma aliada poderosa, mas não isenta de questões éticas: 67% das pessoas temem a coleta de dados pessoais por sistemas de inteligência artificial, levantando questões profundas sobre privacidade e transparência.
No horizonte digital, o metaverso surge como uma nova dimensão, afinal consiste no mundo virtual que tenta replicar ou simular a realidade por meio de dispositivos digitais. Originado da imaginação dos escritores de ficção científica dos anos 1980, esse universo ganha vida à medida que se estima a entrada em plataformas de realidade virtual de 1,8 bilhão de pessoas até 2024. Mas, ao mesmo tempo que nos oferece novas formas de socialização e aprendizado, o metaverso traz consigo desafios complexos, especialmente relacionados à segurança de dados e à integridade da identidade online.
Enquanto exploramos essas paisagens digitais, somos confrontados com a pós-verdade, fenômeno no qual as emoções muitas vezes eclipsam os fatos. Notícias falsas, que se propagam 70% mais rapidamente do que notícias verdadeiras, tornam-se armas poderosas em debates políticos e sociais. A batalha pela verdade não é apenas uma luta intelectual, mas uma arena na qual nossas percepções da realidade são moldadas e, por vezes, distorcidas.
No epicentro dessa revolução digital estão os deepfakes, produtos da inteligência artificial que criam vídeos hiper-realistas. O número desse tipo de material na internet aumentou vertiginosamente em 330% em um ano, questionando a autenticidade de tudo o que vemos e ouvimos online. Enquanto isso, as fake news, que afetam 86% das pessoas globalmente, minam a confiança nas instituições e na mídia tradicional, criando uma crise de credibilidade de proporções significativas.
No Brasil, esses desafios ganham contornos nacionais. A inteligência artificial está sendo aplicada à agricultura para otimizar colheitas e à saúde para fazer diagnósticos mais precisos. Questões éticas sobre o uso dessas tecnologias, contudo, são urgentes, uma vez que as fake news têm impacto direto nas decisões eleitorais e políticas, enquanto os deepfakes preocupam crescentemente a segurança digital do país.
Nesse cenário, a compreensão desses conceitos vai além do conhecimento técnico; é uma necessidade vital para todos nós. Somente com o desvendar desses desafios que poderemos navegar com segurança pelas águas turbulentas da Era Digital. Estamos em um ponto de inflexão da História, no qual a compreensão desses conceitos moldará não apenas o nosso presente, mas também o legado que deixaremos às próximas gerações. O conhecimento, aliado à ação responsável, é a bússola que nos guiará nesse fascinante, porém complexo, novo mundo digital.
Estamos preparados para a jornada? O futuro digital está a nossa espera, e uma verdade inegável emerge: vivemos em uma era digital em que a compreensão desses conceitos não é apenas vantajosa, mas essencial. A evolução rápida da tecnologia nos trouxe inovações incríveis, mas também desafios formidáveis.
Esse progresso, no entanto, não veio sem custos. O surgimento da pós-verdade e das fake news questiona a própria natureza da verdade, e os deepfakes desafiam a confiabilidade no que vemos e ouvimos. Nossas escolhas como sociedade moldarão o caráter do mundo digital para as gerações futuras.
Nossa jornada por essas águas turbulentas ressalta a importância da alfabetização digital e da educação contínua. A capacidade de discernir informações, proteger nossa privacidade e abraçar a tecnologia com responsabilidade é agora uma habilidade fundamental. À medida que navegamos pelo desconhecido, armados com conhecimento, podemos transformar esses desafios em oportunidades. Ao fazê-lo, não apenas navegamos, mas lideramos na construção de um futuro digital que é autêntico, seguro e inclusivo para todos. O futuro está em nossas mãos e, com sabedoria e discernimento, podemos moldá-lo para o bem de todos.
Ivan Pereira Quintana graduando Licenciatura em Filosofia.