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O Instituto Paulo Freire (IPF) acaba de lançar o e-book “Paulo Freire em tempos de fake news – Edição 2020”, oitava publicação elaborada no âmbito dos cursos realizados pela EaD Freiriana. Em uma compilação de análises acerca das fake news, o livro traz 32 artigos produzidos por 33 autores, entre eles Daniele Próspero, secretária de finanças da ABPEducom, que discorreu sobre a relação entre a Educomunicação e as práticas freirianas.
O e-book, intitulado a partir do curso homônimo realizado entre 30 de março e 8 de maio deste ano, é expressão de uma preocupação coletiva com a disseminação de notícias falsas, que ameaçam a integridade dos indivíduos e influenciam os rumos da política. Um dos grandes alvos das fake news é o patrono da educação brasileira e educador recifense Paulo Freire, morto em 1997. No prefácio do livro, Moacir Gadotti, presidente de honra do IPF, afirma que “o alvo da campanha contra Paulo Freire não é só ele: o alvo é o direito à educação pública”.
Divididos em 296 páginas, os artigos refletem sobre diversos aspectos da obra freiriana, contrapondo as acusações de “doutrinador” feitas a Freire com seu legado de defesa de uma educação popular, comprometida com a liberdade, a autonomia e a emancipação dos estudantes. “Pedagogia do Oprimido”, obra mais conhecida do educador, propõe a superação do modelo de ensino vertical e da “educação bancária”.
Educomunicação, uma herança da comunicação dialógica
No artigo intitulado “A Educomunicação como uma ponte à prática freiriana de comunicação dialógica nas escolas”, Daniele Próspero apresenta uma relação entre a comunicação dialógica, um dos pilares da pedagogia freiriana, e as práticas de intervenção social realizadas pela Educomunicação. O texto é um estudo de caso do “Programa Mais Educação”, a partir de pesquisa realizada pela autora com escolas que desenvolveram atividades do macrocampo “Comunicação e Uso de Mídias”, cuja metodologia tem base na Educomunicação.
Guiada pelo pressuposto freiriano de que o processo educativo acontece por meio de diálogos e trocas, Próspero argumenta que a comunicação “tem o seu verdadeiro significado resgatado” na pedagogia de Freire, já que a origem da palavra, do latim ‘comunicatio’, quer dizer ‘tornar comum’. Esta interação entre sujeitos e a abertura de espaço para diferentes vozes cria um campo fértil para a educação humanizadora proposta por Freire.
O êxito da ação educomunicativa promovida pelo Mais Educação se deve, segundo Próspero, à relação dialógica entre os estudantes e os educadores, que colocou as vozes e opiniões dos sujeitos envolvidos no mesmo patamar. A autora avalia que os alunos foram engajados em atividades educacionais por meio da produção de veículos de comunicação, incentivando-os a refletir e discutir problemas vivenciados em suas comunidades, prática que exemplifica o fundamento freiriano de que os conteúdos educativos devem estar conectados ao universo do educando.