Publicado originalmente em Coletivo Bereia por Rafaely Camino. Para acessar, clique aqui.
Circula nas mídias sociais uma imagem de um casal que supostamente pratica relação sexual no altar de uma igreja com características de uma congregação evangélica. O ato foi justificado, em legendas, como uma bênção para a superação da impossibilidade de um casal para gerar filhos. Além das muitas curtidas e compartilhamentos em mídias sociais, foram observadas opiniões nos comentários que se revelaram divididas: de um lado, religiosos que colocam em dúvida tal situação. Do outro, alegações de que situações como essas não seriam de todo inesperadas, considerando certa banalização do Cristianismo nos últimos anos, reiterada por frequentes casos de escândalo que envolvem lideranças evangélicas.
Imagem: reprodução do Twitter
A publicação nas mídias sociais tem data de 22 de maio, mas não foram encontrados dados fundamentais sobre a imagem, como nome da igreja, cidade em que está localizada e a data do evento. Também não há registro da fonte de onde partiram as informações. Tampouco as pessoas que aparecem nas imagens foram identificadas. Estas são características básicas de fake news, como Bereia vem explicitando a leitores e leitoras, ao lado de outras agências de checagem e projetos de enfrentamento da desinformação.
Com base nessas características, Bereia estava com pesquisa e apuração de informações em curso quando recebeu a publicação do site de checagem de conteúdo E-Farsas. Segundo Gilmar Lopes, que assina a matéria, a imagem que viralizou não era uma foto, mas a reprodução de cena da gravação de transmissão no Facebook, de um culto da Igreja Aliança Restaurada, em Fortaleza (CE). O culto, realizado em 17 de maio passado, e transmitido ao vivo, foi intitulado “Terça dos Provocadores e Milagres”. A cena foi retirada do trecho a 1h19min do vídeo, quando a pedido do pastor, uma mulher que passou mal foi levada ao altar para ser curada. No ritual, a esposa do pastor se deitou sobre a fiel para transferir saúde para ela, sob e sobre um pano vermelho como símbolo do ato.
Nesta cena da gravação, omitida na divulgação enganosa, pode-se identificar a fiel que recebeu a oração sendo conduzida ao altar para o ritual, acolhida pela esposa do pastor.
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Bereia classifica como enganosa a imagem de um casal supostamente praticando relação sexual no altar de uma igreja. Cena atípica de um culto religioso foi identificada, retirada do contexto e transformada em fotografia com o objetivo de desinformar. Foi feita divulgação para levar a crer que foi realizado ato sexual em um culto, com base na omissão de informações fundamentais sobre qualquer episódio como a identificação do local e das pessoas envolvidas. Em nenhum espaço digital religioso sob monitoramento constaram dados sobre o caso, nem a fonte da informação ou da autoria da suposta foto.
Bereia alerta leitores e leitoras para a circulação de conteúdo que busque engajamento em mídias sociais para 1) provocar mais polêmicas e debates em relação a práticas controversas de grupos religiosos, principalmente evangélicos, por meio de confusão, promoção da ignorância e reforço a preconceitos, com base em desinformação; 2) gerar engajamento para a promoção de certos perfis em mídias sociais com temas que geram cliques em curtidas e compartilhamentos por meio do uso de conteúdo apelativo.
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Referências de checagem:
E-farsas. https://www.e-farsas.com/casal-que-nao-pode-ter-filhos-transa-em-culto-por-milagre-sera-verdade.html Acesso em: 23 mai 2022.
Facebook. https://www.facebook.com/alianc.restaurada/videos/689122442369702/?sfnsn=wiwspmo Acesso em: 23 mai 2022.