Publicado originalmente em O Estado do Piauí com edição de Luana Sena. Para acessar, clique aqui.
Em meio a balas de borracha e gás lacrimogêneo, moradores e professores reivindicam direito à moradia e ajuste nos salários
Por volta de 8h da manhã desta terça-feira (15), três pequenos ônibus desembarcaram cerca de 200 moradores da Vila Campina, Avenida Boa Esperança, Parque Universitário e Lindalva Soares em frente ao Palácio da Cidade, no centro de Teresina. Mulheres, homens, jovens e crianças reivindicavam direito à moradia. Aos poucos, juntaram-se a eles professores da rede municipal de ensino, que chegaram para protestar contra ações da prefeitura de Teresina.
Nas escadarias do Palácio, manifestantes pediam a presença do prefeito, quando um policial à paisana empunhou armas para os manifestantes presentes. “Abaixa a arma”, gritou uma mulher, antes de balas de borracha e gás lacrimogêneo serem lançados em direção às pessoas em frente ao órgão. Antônio Adael Sobrinho é vendedor ambulante e, diariamente, posiciona sua tenda em frente à prefeitura. Ele conta que viu, em poucos minutos, a rua virar um campo de guerra. “É preciso tropa de choque para a população que só quer seus direitos?”, questionou o vendedor.
Policiais militares e guardas civis municipais formaram um cordão humano para impedir a passagem dos manifestantes. Ao estadodopiaui.com, a Polícia Militar informou que eles estavam depredando o patrimônio público, resultando em uma tranca de porta danificada. Enquanto isso, Letícia Raquel, uma grávida de seis meses, precisou ser levada à Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER) por conta da inalação do gás atirado pelos oficiais. Homens e mulheres ficaram feridos pelas balas de borracha disparadas enquanto tentavam se proteger.
Nem o prefeito, tampouco o vice, Robert Rios, apareceram para falar com a população – e a imprensa.
Maria Lúcia, representante dos movimentos de moradores, explica que o movimento é pacífico. Eles esperavam conversar com representantes da adminsitração pública, que já haviam combinado de receber os moradores na Prefeitura. Nada disso aconteceu.
Durante a pandemia da Covid-19, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou uma ação – já transformada em lei – de que não houvesse despejos neste período. A determinação se encerra no mês de março e pessoas que estão assentadas nas moradias Vila Campina, Avenida Boa Esperança, Parque Universitário e Lindalva Soares, além de outras comunidades, podem ser despejadas a qualquer instante.
A esperança, para os manifestantes, é uma intervenção do poder executivo para poder regularizar as áreas. O prazo, a cada dia, se aproxima de encerrar, e o prefeito segue sem dar respostas. Ao todo, Maria Lúcia estima que pelo menos 15 áreas de ocupação serão prejudicadas na capital. “Teresina é uma cidade que não liga para os mais vulneráveis”, desabafa. “A gente não tem representante do povo e a única resposta que tivemos hoje foi na bala”.
Crise na educação
Ao mesmo tempo que os moradores da zona Norte pediam uma audiência com a prefeitura, a categoria de professores também tentava um diálogo com o executivo. Isso porque, há mais de um mês, os professores estão em greve reivindicando o reajuste linear de 33% nos salários.
Sinéas Soares, coordenador geral dos Servidores Municipais (Sindserm), declara que a reação foi desproporcional à manifestação. Para ele, a gestão da cidade flerta com uma ditadura, que quando não se omite, age com truculência militar. Duas professoras desmaiaram no local e precisaram de atendimento médico.
Em nota, a Prefeitura de Teresina declarou que não haverá desapropriação das áreas e será realizado o programa Regulariza Teresina, nos quais as famílias poderão ser asseguradas dos locais que ocupam, destinando à construção de moradias populares. Além da pandemia da Covid-19, muitas pessoas ficaram desabrigadas nos últimos meses por conta das fortes chuvas na capital. Conforme a PMT, esse grupo também será beneficiado.
Em relação aos professores da rede municipal de ensino, a PMT afirmou que vai conceder o reajuste de 16% aos professores. Os docentes, entretanto, contestam o percentual oferecido, que não atende ao determinado na lei nacional do piso do magistério – em torno de 33%.