Publicado originalmente em Agência Lupa por Carol Macário. Para acessar, clique aqui.
Circula pelas redes sociais que um estudo revelou que a farmacêutica Pfizer e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos supostamente esconderam resultados de pesquisas sobre as vacinas da Covid-19. A publicação sugere que esses dados “escondidos” teriam mostrado que os imunizantes de mRNA, como o desenvolvido pela Pfizer, aumentam o risco de miocardite e pericardite em crianças e adolescentes.
Ainda de acordo com o post, esse estudo indicou que a fórmula não ofereceu quase nenhum benefício ao grupo vacinado com o imunizante da Pfizer. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação:
“A Pfizer e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) esconderam estudo realizado em 1,7 milhão de crianças e adolescentes que tomaram vacina contra a C-19, após o resultado detectar ‘miopericardite’ apenas nos grupos vacinados. O estudo mostra claramente que a vacina C-19 da Pfizer quase não oferece benefícios para crianças e adolescentes, mas aumenta o risco de miocardite e pericardite”
– Texto em post que circula no WhatsApp
Falso
O texto citado na publicação não é um estudo que comprova que a Pfizer e o CDC dos Estados Unidos “esconderam” supostos resultados de pesquisas segundo os quais as vacinas da Covid-19 foram ineficazes ou inseguras para crianças e adolescentes. Na verdade, trata-se de um artigo de opinião publicado por dois autores que integram uma organização antivacina nos Estados Unidos.
Diferentemente do que sugere a publicação, o imunizante de mRNA, Comirnaty, desenvolvido pela Pfizer, é seguro para uso em crianças e adolescentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa fórmula é eficaz para prevenir morte, hospitalizações ou que essa população desenvolva formas graves da Covid-19.
Além disso, nem a Pfizer nem o CDC “esconderam” ocorrências de reações adversas. Tanto no site da farmacêutica quanto no do órgão de saúde norte-americano é possível localizar uma lista de todos os estudos e testes clínicos com a vacina da Pfizer realizados até o momento, incluindo os resultados de pesquisas sobre os riscos de miocardite e pericardite nas pessoas vacinadas.
A Pfizer, por exemplo, indica na página inicial informações sobre as ocorrências dessas duas condições em adolescentes do sexo masculino entre 12 e 17 anos de idade. Essas possíveis ocorrências também estão expostas de forma transparente em uma aba específica sobre efeitos colaterais da vacina. Apesar das ocorrências, o laboratório explica que as chances de desenvolver essa inflamação são baixas e os benefícios da imunização superam os possíveis efeitos colaterais.
Já o site do CDC dos Estados Unidos mantém atualizado um monitor com dados de todos os estudos observacionais e clínicos sobre os efeitos e eficácia das vacinas da Covid-19. Além disso, dispõe de uma página específica sobre imunização contra o Sars-CoV-2 na população infantil.
Segundo o órgão, o “monitoramento contínuo da segurança após a aprovação feita pela Food and Drug Administration (FDA) [equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária no Brasil] mostra que a vacinação contra a Covid-19 continua a ser segura para as crianças” e ressalta que “embora as reações adversas sejam raras, os benefícios superam os riscos conhecidos da doença e as possíveis complicações graves”.
Além disso, o CDC é transparente quanto aos casos de miocardite e pericardite registrados após a vacinação. Todas essas informações estão disponíveis na página da instituição. De acordo com o CDC, a ocorrência dessa inflamação é rara e a maioria dos pacientes que registram essa condição responde bem aos medicamentos e se recupera.
Estudos recentes mostram benefícios
Centenas de estudos clínicos e observacionais sobre os efeitos das vacinas da Covid-19 já foram realizados desde que os primeiros imunizantes começaram a ser aplicados no mundo, em dezembro de 2020, incluindo pesquisas sobre a ocorrência de miocardite e pericardite pós-vacinação.
Há unanimidade na comunidade científica de que os benefícios da vacinação superam os riscos da doença e as eventuais sequelas. Um artigo recente, por exemplo, publicado em maio deste ano pela Nature, avaliou informações e os resultados de segurança após a vacinação e infecção por Covid-19 em 5,1 milhões de crianças na Inglaterra. A análise indicou que há um “perfil de segurança favorável da vacinação em menores de 18 anos”.
Artigo enganoso não é estudo com método científico
O artigo citado no post que circula nas redes sociais não foi revisado por pares e não descreve nenhuma metodologia de avaliação. Foi publicado pela The European Society of Medicine (Sociedade Europeia de Medicina), uma associação de profissionais com membros de todo o mundo.
Os autores são Karl David Jablonowski e Brian Hooker — este último um engenheiro bioquímico conhecido por ser um ativista antivacina —, ambos integrantes da Children’s Health Defense (Defesa da Saúde Infantil, em tradução livre), grupo conhecido por ser antivacina e por espalhar desinformação sobre imunizantes.
No texto, eles apenas acusam, sem qualquer comprovação científica, empresas e instituições que supostamente “sabiam” de casos de miocardite e pericardite após a vacinação com os imunizantes de mRNA. Como explicado, relatos desse tipo de reação têm sido publicados com transparência por órgãos de saúde em todo o mundo.