Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Em amostra de 1.476 pessoas, 76% apresentaram ranger involuntário dos dentes associados a estresse e nervosismo
- A alta prevalência de sintomas indica necessidade de ações preventivas e de tratamento para a população
- É necessário avaliar impacto das ferramentas de intervenção já existentes no contexto pandêmico
Casos de bruxismo associados a fatores psicológicos foram prevalentes nos primeiros meses da pandemia de Covid-19. O início ou agravamento de sintomas como o apertar e ranger involuntário dos dentes foi relatado por 76% dos entrevistados em um estudo com 1.476 pessoas, que constataram maiores níveis de estresse e nervosismo nos primeiros meses de pandemia. A análise é de pesquisadores da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) e do Instituto Neurológico de Curitiba (INC), publicado na sexta (4) na revista “Brazilian Journal of Pain” (BrJP).
Os dados foram coletados por meio de um questionário online aplicado entre maio e agosto de 2020, com perguntas sobre informações sociodemográficas, sintomas de bruxismo, qualidade de vida e autocompaixão. Para os pesquisadores, a forte correlação entre emoções negativas e sinais de bruxismo evidencia a necessidade de ações preventivas e de tratamento para os sintomas, que incluem dor de cabeça, mandíbula travada e fadiga muscular.
Com a proposta de avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 em aspectos psicológicos e associados ao bruxismo, o estudo revelou a alta prevalência de sintomas físicos em decorrência da piora na saúde mental. “Fizemos a pesquisa esperando um aumento nos sintomas de bruxismo, mas não tantos como apresentou a amostra. As oscilações da pandemia, com novas cepas e o aumento no número de casos ainda impactam a população, e precisamos pensar em como diminuir o risco destas disfunções”, afirma Marcelo Lourenço da Silva, professor da Faculdade de Fisioterapia na Unifal-MG.
O bruxismo pode estar associado a outros distúrbios temporomandibulares, que envolvem músculos, articulações e estruturas faciais diversas. A maioria dos participantes do estudo relatou sons de clique na articulação (85%), dor no ouvido (78%) e fadiga mandibular (64,8%), sintomas que demandam atenção. “O ideal é encaminhar para fisioterapia para o controle de dor e das alterações mecânicas, assim como tratamento psicológico. Essa associação faria com que os sintomas diminuíssem e a população tivesse menor incidência de bruxismo”, diz Silva.
A próxima etapa consiste em avaliar se as intervenções existentes, como técnicas de fisioterapia, acupuntura e eletroestimulação, apresentam resultados concretos no contexto pandêmico. “Temos respostas positivas com estes tratamentos, mas passo seguinte é fazer uma intervenção para avaliar se as ferramentas funcionam neste contexto, em que também estão presentes questões econômicas, de trabalho, de saúde e sociais. Precisamos testar as ferramentas para ver se, mesmo nesta conjuntura, conseguem gerar uma resposta positiva na população”, conclui Silva.