Estudo antigo que aponta eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 não é confiável

Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Thaís Guimarães. Para acessar, clique aqui.

Nujoc Checagem recebeu esta semana um vídeo antigo do jornalista Alexandre Garcia, onde ele fala de um estudo realizado no Sistema de Saúde Henry Ford, nos Estados Unidos, que teria comprovado a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19.

Embora o vídeo seja antigo, de julho do ano passado, reiteramos que seu conteúdo não é confiável. Atualmente a hidroxicloroquina/cloroquina é totalmente descartada pela ciência para o tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus.

A pesquisa em questão foi publicada no International Journal of Infectious Diseases no dia 1º de julho de 2020, e consiste em uma análise de 2.541 pacientes hospitalizados entre 10 de março e 02 de maio de 2020 nos hospitais do Sistema de Saúde Henry Ford.

O estudo diz que a quantidade de pacientes que morreram depois de tratados com hidroxicloroquina corresponde a menos da metade daqueles que foram a óbito sem terem tomado o medicamento.

Sobre esse vídeo especificamente, encontramos um podcast da Rede Análise Covid-19, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde a bioquímica e neurocientista Mellanie Fontes Dutra explica porque o estudo citado pelo jornalista Alexandre Garcia não é confiável.

“O estudo constatou que 13% dos tratados apenas com hidroxicloroquina morreram em comparação com 26,4% não tratados com hidroxicloroquina, no entanto, segundo críticas da comunidade acadêmica, o estudo tem pontos críticos quanto a diferença de idade dos pacientes dos grupos experimentais e a aleatorização, por não ser randomizado, ou seja, o médico quem escolheu para quem dar a hidroxicloroquina, sem administrá-la em pacientes que apresentassem algum problema cardíaco, criando-se grupos incapazes de serem comparados”, explicou a pesquisadora Mellanie Dutra.

A neurocientista também disse que o estudo tem natureza apenas observacional, apresentando assim muita fragilidade em termos de evidência. “Outro ponto central é que a natureza do estudo é observacional, o qual tem muita fragilidade em força de evidência, não podendo ser usado para determinar se um medicamento é eficaz. Os estudos observacionais são frequentemente usados como passo anterior aos ensaios clínicos randomizados, auxiliando na decisão de quais ideias testar em ensaios clínicos robustos para garantir que os resultados sejam traduzidos para o mundo real e para detectar efeitos colaterais”, concluiu Mellanie, que é mestre e doutora em Neurociências.

Somado a fragilidade desse estudo, existe o fato de, como já mencionamos acima, a hidroxicloroquina ter sido totalmente rechaçada para o tratamento da covid-19, com base em dados científicos. No Brasil, a questão envolvendo a desinformação gerada em torno desse medicamento, de tão grave, tem sido alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado Federal.

Quanto ao jornalista Alexandre Garcia, o vídeo gravado por ele aqui analisado não se encontra mais no Youtube, que vem banindo a maioria desses conteúdos que contém desinformação. Além disso, Garcia por iniciativa própria tem apagado alguns de seus vídeos polêmicos, desde que foi instaurada a CPI da Covid no Senado.

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