Esses rios ainda são nossas ruas?

Publicado originalmente em Jornal Beira do Rio UFPA. Para acessar, clique aqui.

Alternativa sustentável, hidrovias carecem de investimento

Águas barrentas, com tons cinza, além de refrescarem, carregam histórias, banham culturas e deságuam no oceano. Rasgando cidades e vilarejos, os rios, sempre associados à  biodiversidade, na Amazônia são também vias de acesso. O vaivém das águas carrega consigo animais, pessoas e produtos por uma via de transporte que é considerada sustentável e de baixo custo: as hidrovias.

Sabendo do potencial que a Região Norte apresenta nesse modal de transporte (meio pelo qual pessoas ou mercadorias são movidas de um lugar para o outro), o engenheiro de produção Guiler Oliveira Garcia Júnior desenvolveu a dissertação Preposição de um instrumento para avaliação dos terminais hidroviários de passageiros: estudo de caso no estado do Pará.

“O acesso fluvial na Amazônia desempenha um papel crucial no desenvolvimento socioeconômico de regiões como Belém e outras áreas do Pará. Muitas localidades dependem exclusivamente desse meio de transporte devido à falta de infraestrutura, como estradas e pontes. Portanto garantir que as estruturas portuárias estejam adequadas para atender às necessidades é fundamental para o bom funcionamento das operações fluviais”, destaca o pesquisador.

O estudo teve como objetivo avaliar os terminais hidroviários paraenses, aplicando questionários que mediam o grau de satisfação em relação aos serviços ofertados. “Investigar os problemas e buscar soluções pode contribuir, significativamente, para melhorar a infraestrutura e os serviços de transporte fluvial, promovendo, assim, o desenvolvimento da região e melhorando a qualidade de vida da população dependente desse meio de transporte”, enfatiza Guiler Garcia, que, em seu estudo, analisou três terminais, sendo dois em Belém – Terminal Hidroviário do Porto de Belém Luiz Rebelo Neto e Terminal Hidroviário Ruy Barata –, e um em Salvaterra – Terminal Hidroviário de Camará.

Hidrovias desempenham importante papel na Amazônia

Por apresentar uma vasta rede hidrográfica, a Amazônia é considerada uma das regiões com potencial elevado para o desenvolvimento do transporte hidroviário, visto que este apresenta uma série de vantagens, como transporte de cargas e pessoas, integração regional, acesso a áreas remotas, redução de custos e preservação ambiental.

“As hidrovias possuem um baixo custo em relação aos outros meios de transporte, além de fomentar o potencial turístico atraindo visitantes interessados na biodiversidade e na experiência única de viajar ao longo dos rios amazônicos. No entanto é importante garantir que o desenvolvimento do transporte hidroviário seja feito de forma sustentável, considerando os impactos socioambientais e garantindo a preservação dos ecossistemas da região”, defende Guiler Garcia.

O pesquisador analisou os terminais da Ilha do Marajó, local de grande fluxo na região, para compreender o funcionamento do sistema de transporte hidroviário no Pará. Em seguida, realizou visitas técnicas nos terminais selecionados para a dissertação, levantando dados e avaliando a infraestrutura e a qualidade dos serviços prestados, por meio de entrevistas e aplicação de dois questionários. O primeiro foi elaborado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e direcionado aos gestores dos terminais. O segundo foi elaborado pelo autor e respondido pelos usuários desses espaços.

Dessa maneira, o questionário Antaq permitiu conhecer a estrutura dos terminais, a logística operacional do setor portuário e os fatores que influenciaram a qualidade dos serviços ofertados. “O terminal de Belém, segundo os estudos da Antaq de 2013 e 2018, foi o melhor avaliado entre os terminais pesquisados na Amazônia. Nesta pesquisa, ele também foi o melhor avaliado, até porque é o terminal que realiza viagens intermunicipais e interestaduais, também é de onde saem as linhas com as maiores concentrações de passageiros”, explica o engenheiro.

Terminais não atendem a requisitos dos usuários

Os terminais de Belém, Combu e Camará obtiveram avaliações distintas dos usuários, mas enfrentam problemas semelhantes. “Os usuários consideraram bom o serviço ofertado pelo terminal hidroviário de Belém’. Já o terminal do Combu, reformado recentemente, foi classificado como ‘regular’, isto é, ele não está preparado para atender à população. O de Camará foi considerado ‘ruim’ pelos usuários. Existem elementos para o funcionamento normal do terminal, porém a estrutura não apresenta um padrão de qualidade satisfatório”, afirma o pesquisador.

Itens como segurança, estacionamento, organização no embarque e desembarque, entre outros, foram mencionados pelos passageiros. “O último item dos questionários pede uma sugestão: ‘o que pode ser melhorado? Qual sua sugestão?’ Os três terminais obtiveram resultado semelhante, como falta de segurança e policiamento, falta de capacitação dos prestadores de serviço e falta de informação, principalmente para os turistas”, enfatiza Guiler Garcia.

Ampliação de estacionamentos, disponibilização de funcionários para o auxílio no embarque e desembarque e criação de um site com informações atualizadas para os passageiros são algumas das ações apontadas, na dissertação, como forma de melhorar os serviços prestados. Guiler Garcia afirma, ainda, que a classificação dos transportes hidroviários na região amazônica vai mudar de acordo com o aspecto que está sendo avaliado. Para o pesquisador, o investimento em infraestrutura é essencial para garantir maior eficiência dos terminais.

“A condição dos portos na Região Norte do Brasil varia consideravelmente. No Pará, o governo do estado vem investindo na infraestrutura hidroviária, fazendo a readequação e construção de novos terminais. Embora já exista uma preocupação com o cumprimento de parâmetros de segurança e qualidade, ainda falta fiscalização e transparência dos órgãos reguladores”, finaliza o engenheiro.

Transporte hidroviário

Vantagens

Baixo nível de perdas e danos
Maior vida útil da infraestrutura portuária
Tráfego 24 horas/dia
Menor congestionamento de tráfego

Desvantagens

Baixa velocidade de operação
Rotas limitadas
Mais burocracia para documentação de mercadorias
Investimento inicial em veículos elevados

Fonte: Garcia Júnior, 2023.

Sobre a pesquisa: A dissertação Preposição de um instrumento para avaliação dos terminais hidroviários de passageiros: estudo de caso no estado do Pará foi defendida por Guiler Oliveira Garcia Júnior, em 2023, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Naval (PPGNAV/Itec), da UFPA, com orientação do professor Mounsif Said.

Beira do Rio edição 172

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