Publicado originalmente em *Desinformante por Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.
Depois da Argentina, o Equador realizou ontem, 20 de agosto, o primeiro turno das eleições presidenciais, com vitória de Luisa González, de esquerda, e de Daniel Noboa, liberal – ambos vão disputar o segundo turno no dia 15 de outubro. A corrida eleitoral, iniciada em maio, após a dissolução do parlamento pelo presidente em exercício Guillermo Lasso, e já considerada a mais sangrenta da história do país com assassinatos de candidato e figuras políticas, também teve a desinformação como protagonista.
Um mapeamento realizado pelo projeto de checagem Ecuador Chequea constatou que, das 171 informações verificadas desde o dia 29 de maio, 86,5% delas foram consideradas falsas ou enganosas. Nenhum conteúdo checado nas redes sociais foi identificado como verdadeiro. Uma situação considerada pelo próprio projeto como uma “avalanche de desinformação” em nível nunca antes visto no país.
“Pelas características da eleição atual no Equador – antecipadas, depois da dissolução do parlamento, e com uma onda de violência que terminou no assassinato de um candidato presidencial em plena capital – este processo tem sido um terreno fértil para desinformação”, afirmou, em comunicado, a redação do Ecuador Chequea.
As principais estratégias de desinformação praticadas no Equador, segundo o projeto, consistiram em replicar, nas redes sociais, ligações inexistentes de candidatos a determinados grupos políticos, declarações falsas e números equivocados sobre recursos públicos administrados. A violência que assola o país também foi explorada com alegações de mortes de figuras políticas, como ex-presidentes e ex-prefeitos, relações ambíguas de candidatos com o crime organizado equatoriano e até falsas declarações do candidato Fernando Villavicencio, assassinado no dia 9 deste mês.
Uma semana após a morte de Villavicencio, por exemplo, uma publicação em vídeo no Facebook afirmava que o político tinha convocado a população a não votar nele. A postagem tirava do contexto um discurso do candidato realizado no dia 1º de agosto, em que ele apresentava os planos para o seu governo caso fosse eleito.
Outros vídeos que circularam neste mês também apontavam a quadrilha criminosa Los Lobos como a mandante do assassinato. As peças traziam pessoas encapuzadas e armadas, dizendo que a organização tinha assumido a responsabilidade do ataque e que eles continuariam matando quando corruptos não cumprissem suas palavras. Não foi possível verificar se o vídeo pertencia a grupos criminosos do Equador, nem se as pessoas que aparecem no vídeo fazem parte de ‘Los Lobos’.
Candidatos também proferiram desinformação
Discursos com desinformação também foram proferidos por candidatos durante a campanha eleitoral. O Ecuador Chequea realizou 11 verificações do discurso público, identificando que, entre eles, um continha informações falsas, quatro enganosas, três imprecisas, duas verdadeiras e uma não verificável. Segurança pública foi um dos principais temas desses tipos de discurso.
Em junho, a coalizão Ecuador Verifica, que também faz checagem de noticias no país, já havia publicado uma carta aberta chamando a atenção dos políticos, jornalistas e eleitores para o impacto da desinformação nas eleições antecipadas. “As redes de desinformação se espalham com mais força e rapidez em épocas eleitorais e essa, por ser antecipada e pela polarização que o país vive, será um verdadeiro viveiro de mentiras”, antecipou a organização.
Votação ocorreu sem violência
Mesmo com o medo rondando os cidadãos equatorianos causado pelos conflitos entre gangues de narcotraficantes, a votação deste último domingo, dia 20 de agosto, se deu sem casos de violência. Os locais de votação foram reforçados com efetivos maiores de militares que revistaram os pertences de quem entrava nas salas de votação. Os candidatos também foram escoltados por agentes de segurança e usaram até colete à prova de balas para ir às sessões de votação.
Fabián Díaz, membro da missão de observadores do Parlamento Andino, confirmou nesta segunda-feira, dia 21, que a votação equatoriana aconteceu de forma segura. “Perguntamos aos votantes como se sentiam em torno do processo eleitoral e vários afirmaram que confiavam nas eleições e que esperavam expressar nas urnas os seus desejos”, afirmou Díaz.