Publicado originalmente em Editorial J Famecos. Para acessar, clique aqui.
O Sem Estúdio recebeu a especialista em geriatria, para abordar as dificuldades dos idosos no Brasil.
Por: Ana Senne (1º Semestre) e Jenifer Santos Teixeira (2º Semestre)
Nesta terça-feira (23), o programa de entrevistas “Sem Estúdio”, produção do Editorial J, Laboratório Convergente do Curso de Jornalismo da Famecos/PUCRS, recebeu, no sexto episódio da quarta temporada, que tem como temática a violência, a dra. Maisa Kairalla, médica especialista em geriatria. A entrevista tratou sobre a violência contra o idoso.
Violência dentro de casa
Em 2016, uma pesquisa da FioCruz, relatou que 60% dos casos de violência contra o idoso ocorrem dentro de casa. A doutora comenta que a agressão contra os idosos não é somente física: “pode ser um idoso um pouco mais triste, aquele idoso mais reprimido, que não dorme bem ou não tomou banho, um idoso privado de tomar seus remédios. Até mesmo usar o cartão de crédito de um idoso sem respaldo dele já é considerado agressão.”
Quando questionada sobre a dificuldade dos idosos em perceber as agressões, Maisa conta que na UNIFESP há muitos casos em que os idosos têm conhecimento das agressões vividas, mas, por medo, mentem sobre os abusos que ocorrem dentro de suas casas. Para ela o idoso tem pouco conhecimento do poder que tem: “muitos idosos não sabem que têm poderes e direitos”.
Pandemia e Letalidade
A Dra. Kairalla relatou que, durante a pandemia, houve dois tipos de abuso contra o idoso: o ageismo, que se trata da priorização de jovens para ocupação de leitos em hospitais; e o abuso sofrido dentro de casa, muitas vezes pela própria família, pois muitos idosos ficaram aos cuidados de filhos e outros parentes. De acordo com uma pesquisa feita em 2017 pela OMS, um em cada seis idosos sofrem algum tipo de abuso. “É um problema de saúde pública. Não é mais um problema meu ou teu, e sim de todos” disse Maisa.
Qualidade de Envelhecimento no Brasil
Ao ser questionada sobre o envelhecimento com qualidade de vida, a doutora conta que, no Brasil, os últimos 10 anos da vida de alguém são mal vividos, considerando os dados da ONU. O país teve um envelhecimento rápido, mas sem qualidade de vida, com o surgimento de diversas doenças. Isso demanda maior dependência das pessoas de 3ª idade com terceiros.
Além disso, a quantidade de médicos geriatras é baixa em relação ao número de idosos no país, segundo dados da SBGG e do IBGE, existem cerca de 2500 médicos geriatras no Brasil para 35 milhões de idosos, e a maioria encontra-se em São Paulo.
Exploração Financeira
A doutora relembra que a exploração financeira de idosos não é sempre pela família, mas muitas vezes é organizada pelas próprias agências bancárias. “Esses idosos precisam ser interditados judicialmente, porque eles não podem gerir o próprio dinheiro e não podem ser abusados, então tem que ter uma interdição judicial. Nessa interdição judicial existe alguém que rege isso, um tutor, alguém que você elegeu, e ele precisa prestar contas para o Ministério Público. Essa é a melhor forma de proteger o idoso” declara a médica.
Se você tem conhecimento de algum caso de violência contra idosos, disque 100 para fazer uma denúncia anônima.