Entrevistas com presidenciáveis evidenciam necessidade da checagem de informação em tempo real

Publicado originalmente em Âncora dos Fatos. Para acessar, clique aqui.

Mentiras repetidas. Mentiras que se tornam verdades ao olhar do viés de confirmação de cada eleitor brasileiro. Como as 156.454.011 eleitoras e eleitores aptos a votar nas eleições de 2022 buscam informações fidedignas sobre os candidatos e seus planos de governo?

A mídia, em geral, possibilita através de iniciativas próprias, seja no rádio, Tv ou jornal, plataformas ou em seus canais nas redes sociais, que os candidatos sejam “sabatinados” em seus programas. Porém, com tanta desinformação que circula nas redes e aplicativos de mensagens, o “azul pode virar verde e o verde pode virar azul”, dependendo de como a pessoa quer interpretar por conta própria, sem o senso crítico, a informação que recebe.

Uma entrevista bem realizada pode ser boa para quem quer que seja, da mesma forma que pode ser péssima para aquele (a) que apenas quer enxergar dessa forma. É assim que funciona a polarização eleitoral no Brasil. O eleitor tem a tendência de enxergar seu candidato com bons ou maus olhos sem isonomia, pendendo sempre para o que lhe interessa. E ponto.

É nessa linha que a desinformação tomou conta do Twitter, de grupos no WhatsApp, do Facebook, Telegram e Instagram. Da mesma forma, ultrapassa os limites virtuais para as rodas de conversas reais. E o azul, que foi intitulado de verde, permanecerá assim, pois os limites das mentiras extrapolam incalculáveis barreiras, as quais podem ser irreversíveis.

Entrevista de Bolsonaro no JN

Na segunda-feira, 22, o Jornal Nacional deu início a uma série de entrevistas com candidatos ao cargo de presidente da República. O primeiro entrevistado foi o atual presidente, Jair Bolsonaro, o qual recheou o horário nobre da Rede Globo de desinformação. Mentiras repetidas sobre as urnas eletrônicas, sobre o processo eleitoral, sobre os ministros do STF, sobre a pandemia e sobre a Amazônia formaram mais uma vez o som ecoado por Bolsonaro nesses quase quatro anos de mandato.

Em um dos pontos surreais, Bolsonaro, no tom de discurso que reverte uma pergunta para o ataque, ao ser indagado sobre xingamentos aos ministros do STF, acusou Willian Bonner de “fake news”. Ele disse que “história de xingar ministros não existe”. Porém, as notícias, vídeos e os registros da internet mostram que elas existem e são constantes. Basta procurar no Google, que ele acusa todos os xingamentos destilados por Bolsonaro ao STF.

Mas, ali, ao vivo, a mentira de Bolsonaro pode se transformar em verdade, sem um contraponto colocado em tempo real pelo jornalismo. Da mesma forma, enquanto ocorria a entrevista, os apoiadores do candidato acusavam a Globo de mentirosa, descredibilizando o trabalho do jornalismo profissional e espalhando aos quatro cantos da internet postagens de cunho de ódio e desinformação.

Ciro Gomes, em entrevista ao JN na terça-feira, 23, também se pronunciou com desinformação ao citar dados sobre a fome e o número de policiais no Brasil. Ele disse que “o Brasil tem 11, 6 mil policiais apenas”, o que é uma afirmação falsa. Isso porque de acordo com a Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública, em 2020, o Brasil contava com ao menos 480 mil policiais civis e militares na ativa.

Checagem em tempo real

É por isso que o trabalho da checagem de informação em tempo real é cada vez mais urgente durante o cenário das eleições. Em 2020, redes de canais de televisão dos Estados Unidos cortaram o sinal durante um pronunciamento do ex-presidente Donald Trump, quando ele falava mentiras sobre o resultado das eleições presidenciais.

Nesse ano, a agência de checagem Aos Fatos inovou e trouxe em tempo real, em seu site, a checagem sobre a entrevista do candidato Jair Bolsonaro ao JN. Porém, é preciso ir além. É necessário que os fact-checker não fiquem apenas na internet e que esse formato de desmentir notícias fraudulentas possa chegar aos debates nas redes de televisão e nas rádios do país.

Da mesma forma, é essencial que as redações brasileiras preparem seus jornalistas para não apenas trabalharem com a necessidade do imediatismo, mas cuidar das informações verdadeiras em discursos políticos. Só assim, a população brasileira terá maior aproximação com a checagem de fatos e um senso crítico mais apurado na hora de decidir quem são seus representantes.

Nesse ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) renovou a parceria com agências de checagem. Certamente, a chamada “Coalizão para Checagem – Eleições 2022” representa um grande salto na Democracia brasileira. Isso porque o objetivo é averiguar a veracidade de informações que circulam na internet, e que podem interferir de maneira negativa na escolha do eleitor na hora de votar. Porém, um dos maiores desafios ainda são o papel das plataformas digitais, pois o caminho da desinformação percorre facilmente o Facebook, Instagram, WhatsApp, Twitter, Google, YouTube, TikTok e Kwai.

Com medidas mais urgentes e com a punição dessas plataformas, é que a desinformação pode ter uma passagem menos duradoura. Enquanto isso, a checagem vai fazendo seu trabalho de “formiguinha”, em equipe, mas já colhendo frutos que certamente não se dimensionava há anos.

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