Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.
No Twitter, uma postagem do deputado federal Osmar Terra (MDB/RS), que repetidamente tem questionado a eficácia das vacinas contra a COVID-19, critica a aplicação da terceira dose do imunizante. “Agora estão falando da terceira dose da COVID, em sequência. O que significa isso? Alguém se lembra de algo parecido?”, ironiza.
Vários países, como Alemanha, Chile, Estados Unidos, Israel, Reino Unido e Uruguai, iniciaram a aplicação da dose de reforço. No Brasil, de acordo com a recomendação do Ministério da Saúde, a medida foi adotada a partir da segunda quinzena de setembro, para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos (pessoas com o sistema imunológico debilitado, em razão de alguma doença ou tratamento).
A infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que, no caso dos idosos, a necessidade de aplicação da terceira dose está relacionada com a constatação de que a proteção estimulada pela vacina começa a cair após o sexto mês da aplicação. Mas isso não significa que a vacina seja ruim.
“O sistema de defesa [do organismo] envelhece, também, com o tempo. Então, ele não responde da mesma forma, com a mesma quantidade de anticorpos, que durem tanto tempo quanto em uma pessoa jovem. Isso é uma característica da idade e acontece com todas as vacinas”, informa. Tal processo é chamado de imunossenescência, relacionado à senilidade, ou seja, com o próprio envelhecimento.
Stucchi enfatiza que o objetivo da vacinação contra a COVID-19 é evitar formas graves da doença e, consequentemente, reduzir a hospitalização e o risco de mortes. Assim, segundo ela, é preciso priorizar a vacinação das pessoas mais propensas a adoecer gravemente. “No decorrer do primeiro semestre, quando vacinamos os idosos e depois as pessoas com comorbidades, com grande risco de adoecimento, vimos uma queda muito expressiva da mortalidade e da hospitalização nesse grupo”, lembra.
No entanto, no atual contexto da pandemia, com a circulação da variante Delta, que tem maior potencial de transmissão e de provocar casos de reinfecção da doença, esse público voltou a ser prioritário. “A prioridade deve ser aplicar a dose adicional e completar a segunda dose [para quem ainda não a recebeu]”.
A infectologista faz um paralelo com a vacina contra a gripe (Influenza), que deve ser aplicada anualmente. “A proteção da vacina contra a gripe dura nove meses. Aplicamos somente uma vez por ano porque o vírus da gripe é sazonal, circula mais no outono e inverno. Já o SARS-CoV-2 circula em todas as estações, com clima seco ou úmido”. Assim, ela explica, enquanto o vírus estiver em circulação, precisaremos garantir forte proteção contra ele e, se necessário, aplicar uma nova dose da vacina.