Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Pesquisa aplicou questionário em 935 profissionais de saúde de todo o país em julho de 2021 e descobriu que mais de 83% sentem medo da Covid-19
- Quase a totalidade dos respondentes (97,5%) afirmou conhecer algum companheiro de trabalho com suspeita ou diagnosticado com a doença
- Boa parte dos profissionais (58,3%) diz ainda não ter recebido treinamento para lidar com a pandemia
Enquanto os estados e municípios começam a reabrir por conta da baixa nos números de contágio e mortes por Covid-19, os profissionais que atuam na linha de frente no combate à pandemia continuam com sua saúde mental afetada. Segundo relatório da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP) em colaboração com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicado na quarta (29), apenas 30% deles dizem ter recebido algum tipo de apoio para cuidar da saúde mental.
O relatório apresenta dados obtidos por meio de enquete online realizada com 935 profissionais de saúde atuando na linha de frente de combate da Covid-19 entre os dias 1 e 31 de julho de 2021. Ele faz parte de uma série de relatórios antecipados pela Bori realizados pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB-FGV), em parceria com a Fiocruz e a Rede Covid-19 Humanidades ao longo de 2020 e 2021, para compreender as percepções destes profissionais sobre suas condições de trabalho durante a pandemia de Covid-19. Os resultados apresentados fazem parte da quinta rodada (veja a última rodada aqui).
A maioria dos respondentes são do sexo feminino, com destaque aos 85,8% de mulheres entre as profissionais de enfermagem. Quanto à cor/raça, há predominância de brancos entre os médicos (84,7%), profissionais de enfermagem (57,3%) e outros (56,7%), e de negros entre os agentes comunitários de saúde (77,2%).
Esse novo relatório reforça a percepção de que esses profissionais seguem em uma situação precária e difícil. “Mesmo já tendo passado tantos meses em pandemia, quem está na linha de frente continua com baixo acesso a recursos e suporte, o que tem comprometido a saúde mental deles, porque a pandemia não acabou, e eles seguem lidando com dificuldades”, alerta Gabriela Lotta, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo.
Uma das dificuldades é ter que conviver com o medo, que afeta uma parcela significativa (83,4%) dos profissionais de saúde da linha de frente. Segundo o relatório, é bem possível que, apesar de 98,5% estarem já vacinados com ao menos a primeira dose, esse sentimento possa ter relação com o alto percentual de colegas de trabalho contaminados pela doença.
A sensação de despreparo para lidar com a Covid-19, mesmo depois de quase um ano e meio de convívio com a pandemia, também afeta quase metade dos profissionais de saúde, ainda que com intensidades desiguais a depender da formação e atuação.
Além disso, a maior parte dos entrevistados (81,6%) relatou ter percebido um impacto na sua saúde mental, taxa que se apresentou de maneira regular entre as diversas profissões analisadas. Apenas uma parcela pequena destes trabalhadores recebeu algum tipo de apoio para o autocuidado. A categoria que menos recebeu esse apoio foi a dos agentes comunitários de saúde (ACS), com 14%.
Gráfico – Apoio para cuidar da saúde mental por profissão
Fonte: Pesquisa “A pandemia de COVID-19 e (os)as profissionais de saúde pública na linha de frente”, 5ª fase (NEB-FGV/Fiocruz)
“Mesmo com tantas experiências acumuladas e com o avanço da ciência, ainda vemos uma situação que se assemelha ao que vivenciávamos no início da pandemia em diferentes âmbitos”, alertam os autores. Por isso, eles reforçam recomendações que têm sido feitas nas quatro rodadas anteriores da pesquisa, sobre a necessidade de busca de maior proteção e melhores condições de trabalho para os profissionais de saúde que atuam no SUS.
“Além disso, é importante estarmos atentos para os novos desafios que se apresentam nesse momento da pandemia e que incidem ainda mais sobre os profissionais de saúde. A campanha de vacinação contra Covid-19 e a atenção a pacientes com síndrome pós-Covid devem pautar a ação dos gestores públicos”, afirma Michelle Fernandez, outra co-autora do estudo.