Em busca do sorriso perfeito

Publicado originalmente em Jornal Beira do Rio por Adrielly Araújo. Para acessar, clique aqui.

Creme com carvão ativado pode prejudicar a saúde bucal

Cada vez mais, temos presenciado o aumento de tratamentos estéticos para o clareamento dental. De acordo com o estudo Efficacy of Dental Bleaching with Whitening Dentifrices: A Systematic Review (Eficácia do clareamento dental com dentifrícios clareadores: uma revisão sistemática), a alteração da cor dos dentes é um dos pedidos mais comuns relatados por pacientes que procuram consultórios odontológicos.

Diante da popularidade de cremes dentais contendo carvão ativado nas prateleiras dos supermercados e das farmácias, a pesquisadora Gabriela Conde dos Santos percebeu a necessidade de investigar quais os efeitos desses produtos na superfície dental, especificamente sobre o esmalte dental.

A dissertação O dentifrício branqueador contendo carvão ativado interfere nas propriedades do esmalte dental? Análises de microdureza, rugosidade superficial e colorimetria, orientada pelo professor Sandro Loretto, foi apresentada no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Pará (PPGO/UFPA).

O experimento, realizado no Laboratório de Biomateriais do PPGO, contou com corpos de prova confeccionados de dentes incisivos bovinos, que, de acordo com a pesquisadora, sse trata de um material substituto dos dentes humanos, cientificamente comprovado em outras pesquisas odontológicas.

“Os dentes foram submetidos à escovação diária, por 14 dias, com três cremes dentais diferentes: um creme dental convencional (não branqueador), um creme dental branqueador (à base de pirofosfato de cálcio) e um creme dental branqueador contendo carvão ativado. Além disso, um quarto grupo de estudo utilizou um gel clareador à base de peróxido de carbamida a 10% (PC10)”, relata a dentista.
De acordo com Gabriela Santos, foram realizadas as leituras de microdureza, rugosidade superficial e colorimetria, antes e no final do experimento, em cada um dos 60 corpos de prova utilizados no estudo. “Com a popularização e a divulgação em massa desses produtos, percebemos a necessidade de investigar quais as possíveis consequências que o uso dessa categoria de creme dental poderia provocar nos dentes”, afirma.

Produto apresenta risco de efeitos adversos

Os resultados da pesquisa apontam que o creme dental branqueador contendo carvão ativado aumentou a rugosidade do esmalte dental e não promoveu uma alteração de cor (branqueamento) compatível com a verificada por outros produtos e outras técnicas disponíveis no mercado, como o gel clareador à base de peróxido de carbamida a 10% (PC10).

Gabriela Santos esclarece que o clareamento com o PC10 é considerado um tratamento seguro e eficaz, principalmente quando realizado sob supervisão profissional. “A preservação da microdureza do substrato é essencial para a manutenção da saúde bucal e integridade da estrutura dental, pois reflete na capacidade do dente em resistir às forças mastigatórias e aos desafios mecânicos e químicos”, afirma.

“O carvão ativado presente nestas novas categorias de cremes dentais atua como um importante agente abrasivo do esmalte, acarretando o aumento significativo da rugosidade superficial desse tecido, o que deve ser entendido como prejudicial, pois, ao permitir a ocorrência de uma superfície mais porosa, aumenta a suscetibilidade do esmalte ao manchamento e favorece maior acúmulo de biofilme dental, a chamada placa bacteriana, que pode ocasionar cárie dental e doenças gengivais”, alerta a autora do estudo.

Com esses resultados, é possível prevenir os usuários de cremes dentais contendo carvão ativado. O uso diário desse produto pode prejudicar a estrutura dental e, em vez do branqueamento desejado, causar efeitos adversos, “o que reforça a necessidade de os pacientes procurarem um cirurgião dentista antes de iniciarem qualquer tipo de tratamento odontológico, mesmo aqueles de realização caseira”, finaliza.

Beira do Rio edição 162

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